A primeira semana estava sendo maravilhosa, a assistimos a algumas palestras de professores e jogos de basquete da NBA, vários alunos novos vinham fazer a matrícula nessa época, não conhecemos mais ninguém, os alunos estavam de férias, assim, o colégio só ficava aberto para os jovens interessados em estudar (a grande maioria estrangeiros), depois daquele dia não vimos mais a Hazel.
Sábado fomos a uma noite na fogueira com o pequeno grupo de futuros alunos. Não conhecíamos ninguém mas foi divertido, meu inglês já estava bem melhor graças a minha amiga canadense.
Voltamos para o dormitório umas quatro da manhã, eu não tinha falado com a minha mãe naquele dia, então me impulsionei a fazer a ligação, a mesma chamava, mas não atendia.
_ Kat, ela deve estar dormindo, - Cassie disse tentando tirar a preocupação do meu rosto.
_ Ela desliga o celular quando dorme, - respondi ainda preocupada.
_ Vamos dormir. Amanhã você tenta de novo.
_ Okay.
Cas deveria ter razão. Eram quatro da madrugada. Não faria sentido minha mãe atender. Puxei o cobertor e me deitei, mesmo cansada, eu demorei a dormir.No dia seguinte acordei a uma da tarde, estava calor, coloquei um vestido jeans e escovei os dentes. Cassie ainda dormia, fui tentar acorda-la.
Sacudi ela de todas as maneira possíveis, mas mesmo assim ela continuava pior que uma pedra. Peguei o pé dela e a puxei para fora da cama, a mesma caiu e resmungou.
_ Acorda, vamos almoçar. Ou prefere deixar para a janta e dormir mais? - Perguntei irônica.
_ Deixar para a janta e dormir mais.
_ Cas, levanta logo.
_ Tá bom... - Ela disse preguiçosa se levantando, - vamos no "Coffee and food"?
O "Coffee and food" era um restaurante em Portland que eu e Cas descobrimos na semana anterior, é tipo um paraíso da comida.
_ Vamos, - respondi concordando com Cassie.
A mesma foi se trocar, peguei meu celular e tentei novamente liguar para minha mãe, agora a ligação já nem chamava. Preocupada, tentei ligar para o meu pai, mas ele também não atendia. Tentei diversas vezes, mas ambos não atendiam. Cassie saiu do banheiro e me viu.
_ Nada ainda? - Ela perguntou séria.
Balancei negativamente a cabeça.
_ E agora? - Perguntei olhando para ela, a mesma se sentou ao meu lado na cama, encostei a cabeça em seu ombro.
_ Calma Kat. - Ela respondeu me consolando, - seus também tem o direito de acordar tarde, eles estão sem você, - continuou sorrindo, eu sorri em resposta, - eles vão te retornar depois.
_ Tá bom. - Respondi me animando, - "Coffee and food"?
_ "Coffee and food".Amávamos aquele restaurante, tinha tudo, o mais legal era o tema. Todos os dias o tipo de comida mudava de acordo com a característica gastronômica de cada país.
Hoje, por exemplo, o tema era o Japão, assim, a comida e a parte interna do restaurante eram iguais ao Japão.
Eu e Cassie devoramos uma tigela de salmão e sashimi.
Comida japonesa era a nossa preferida lá em casa, lembro do aniversário de minha mãe em que eu e meu pai a levamos ao melhor restaurante japonês do Rio, essa noite foi ótima.
_ O quê você acha que aconteceu? - Perguntei para Cas ainda pensando em meus pais.
_ Eu já falei. Eles devem ter feito um happy awer ontem à noite. - Ela parou e me olhou séria, - você não deve se preocupar.
_ Ok, - respondi, mas não podia deixar de me perguntar uma razão para eles não me atenderem.Depois de chegarmos a conclusão que pelo nosso paladar, eu e Cassie deveríamos ser japonesas, pegamos um táxi e voltamos para a faculdade.
Chegando, descemos do carro indo a entrada do colégio quando o Sr. Adams, o meu futuro professor, me parou.
_ Katerina, essa carta chegou do correio para você. Eu não abri. - Ele disse me entregando um envelope branco. Peguei o mesmo, agradeci e subi para o dormitório com Cas.
No dormitório, sentei em minha cama, peguei a carta e a abri:* Minha querida filha, se está lendo isso, é porque tudo ocorreu conforme o planejado, e também porque você logo será avisada de nossa morte.
Você vai entender tudo mais tarde, o mais importante agora é que volte ao Brasil e procure uma mulher, o nome dela é Viviane Leme, ela trabalhava comigo no escritório, vai encontrar ela lá, está com uma coisa que te pertence.
Presciso que queime ista carta, de forma alguma conte o que sabe para a polícia, se contar para alguém, que seja uma pessoa que você realmente confia.
Nós te amamos filha, estamos orgulhosos de você, sempre estaremos com você.
Seus pais,
Ângelo e Regina Delevingne.*Comecei a chorar não sabendo se acredita ou não no que minha mãe havia escrito.
_ Kat? O que aconteceu? - Cassie peguntou quando comecei a chorar, não disse nada, não sabia o que dizer, apenas entreguei a carta para ela ler. O rosto da mesma quando lia era de total espanto, Daniel entrou no dormitório logo em seguida.
_ Kat... Eu sinto muito... Eu apenas disse que era seu amigo e polícia me contou...
_ Eu sei... - Respondi chorando e o abraçando, o mesmo respondeu me abraço com força.
A carta era verdade. Tudo era verdade. Eu havia perdido meus pais.
Imediatamente comecei a jogar todas as minhas roupas na mala.
_ O quê você vai fazer? - Cassie me perguntou.
_ Voltar, se eu não tivesse vindo, meus pais não estariam mortos, - respondi nervosa.
_ Vamos com você, - os gêmeos disseram em uníssono.
_ É... É melhor não.
Eu não queria que eles deixassem de ficar por mim.
_ Nós vamos com você, - Cassie respondeu rapidamente.
_ Estamos juntos com você nessa Kat. Prometo que me escondo na mala se você não me deixar ir, - Dani completou....
Eu me lembro de como foi aquele dia, foi horrível mas não foi o pior da minha vida, o pior seria daqui alguns dias, quando eu queimasse as panquecas e me lembrasse das que meu pai fazia, seria quando eu fosse dormir sem ganhar um beijo de boa noite da minha mãe e seria quando eu não passasse o natal com eles.
Olhei para os lados e vi os dois pares de olhos âmbar preocupados comigo, a minha frente, uma senhora, a sala de espera do escritório estava cheia, estávamos esperando Viviane terminar de atender um cliente no grande escritório de advocacia de Campo Grande.
_ Com licença; Viviane Leme está a espera de Katerina Delevingne, - uma secretária morena disse nos chamando. Eu Cassie e Daniel nos levantamos, - ela solicita a presença apenas de Katerina. - ela completou. Os irmãos olharam para mim.
_ Tudo bem, - respondi baixo a eles, - me esperem aqui, - ambos concordaram com a cabeça e se sentaram.
Segui a secretária até a sala da provável amiga de minha mãe por um corredor estreito até entrar em um cômodo pequeno até ver Viviane sentada em uma mesa de uma das únicas salas que continham a porta aberta, Viviane parecia ter mais ou menos a mesma idade que minha mãe tinha, ela era ruiva, com cabelo preso em um coque e um com uma camisa branca, assim que me viu, seu rosto parecia estupefato, depois ela começou a chorar e me deu um sorriso triste.
_ Oi Katerina, é um prazer conhecer você, eu e Regina éramos amigas. - Ela disse enxugando as lágrimas e me cumprimentando.
_ É um prazer te conhecer também, minha mãe te deixou uma coisa... Eu não sei exatamente o que é...
_ Ah, é claro. - Ela respondeu, indo atrás de sua mesa e pegando uma grande caixa de papelão.
_ Obrigada, - respondi com um pequeno sorriso assim que ela me entregou a caixa.
_ Imagina, foi um prazer. - Ela me disse, depois o sorriso triste virou uma face séria e ela completou: - eu sinto muito pelos seus pais.
Não sei porque mas a abracei, a atitude dela me lembrou minha mãe, a sinceridade no olhar era igual, há pessoas que por um simples olhar já nos dizem tudo o que queremos ouvir: o fato da pessoa realmente "sentir muito".
Viviane retribuiu meu abraço com carinho. Eu agradeci novamente e fui embora, mas pela primeira vez desde que meus pais morreram, eu estava feliz.
Cas, Dani e eu pegamos um táxi para a casa dos Martin, resolvi que eu iria ficar lá até eu decidir o que fazer.
Eu já havia comprado tudo, desde os caixões até as flores favoritas de minha mãe. A Sra Martin, assim como Viviane e meus dois amigos, me olhava com sinceridade.
Lá coloquei a caixa de papelão sobre a cama de Cassie, Dani pegou uma tesoura para cortar a fita adesiva enrolada na caixa, Cassie não saía do meu lado, desde o momento em que leu a carta.
Cortei a fita devagar abri com cuidado, na caixa havia um cobertor infantil da mesma estampa da fronha de travesseiro em que a arma estava, havia também uma máquina de filmagem antiga, dois envelopes e bichinhos de pelúcia, inclusive um urso branco.
Quando abri o primeiro envelope, vi um menino, o mesmo menino de olhos verdes do meu sonho, mas um pouco mais novo, ele sorria, de um lado da foto estava minha mãe e do outro, meu pai, todos sorriam e faziam careta.

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Memory
Roman d'amourKaterina é uma menina que acaba de se mudar e sua vida está prestes a fazer o mesmo. Não esperem só um romance clichê ou uma aventura chata. Memory tem de tudo. Espero que gostem.