a clarification

2 1 0
                                        

_ Quem é ele? - Daniel perguntou olhando as fotos.
_ Não sei direito, - respondi séria.
_ Dani vamos deixar ela sozinha um pouco, - Cassie disse olhando para Daniel por trás de mim.
_ Não, fiquem. Por favor, - eu não queria que eles fossem. Meus amigos me ajudavam nos piores momentos, e esse provavelmente seria um deles.
_ Tudo bem, - Dani respondeu, - posso? - ele disse pegando o pen drive. Concordei com a cabeça.
Ele levou o pen drive ao computador que havia no quarto e o ligou. Imediatamente um vídeo apareceu: era aniversário do menino ele tinha um sorriso lindo por trás do bolo com uma vela em formato do número dois. Nos lados do garoto estavam minha mãe, grávida, com uma barriga gigante e meu pai com um sorriso radiante olhando para Henrique. Em volta da mesa, ao lado de minha mae, estava Viviane e um homem moreno a abraçando: "assopre a vela filho", meu pai disse ao menino sorridente.
Em seguida houve um corte no vídeo e agora eu via minha mãe em uma cama de hospital com uma menina no colo, um bebê, era eu. Em volta Henrique e meu pai.
Henri estava com um sorriso maravilhoso olhando para mim, "deixe eu segurar mamãe," ele dizia enquanto meu pai ria fazendo cafuné na cabeça do menino.
Eu sorria e chorava em frente ao computador, até que uma coisa estranha aconteceu: minha mãe, que estava sorrindo para mim, parou e agora ela me olhava preocupada, depois ela se voltou para meu pai que a olhou sério. Henrique acompanhava tudo, mesmo assim ele continuava feliz olhando para a bebê.
Houve outro corte e dessa vez eu vi Henrique brincando de bola com papai, mamãe que parecia estar filmando. "Henri vamos nos despedir da casa," minha mãe disse, depois o menininho em seguida: "vamos! Adeus casa! " - o menino gritou parado no quintal em frente à casa, "Adeus França! Vamos mamãe, vamos papai, eu quero ver o avião."
Depois disso não houve mais nada, o vídeo se encerrou. Olhei para o lado e vi Cas e Dani, ambos espantados. Eu olhava para a tela inconformada em quando eu sentia várias lágrimas escorrendo em minha bochecha.
_ Acabou? Não, não pode ter acabado, tem que ter mais, - eu repetia chorando.
_ Kat. Não acabou, - Cassie respondeu me entregando um último envelope, - não podemos ler esse.
_ Mas fiquem comigo.
_ Nós vamos, - eles disseram juntos.
Abri o envelope tremendo e li a carta:

*Querida Katerina, espero que seja você a ler essa carta.
Vou te contar uma história filha, a nossa história:
Meu pai, Gregório Delevingne, era um homem rico e poderoso, mas era extremamente ruim, todas as noites eu via minha minha mãe apanhando do mesmo, eu chorava, ela também, mas no final, ela sempre foi calma e por fora, parecia uma pessoa feliz e todas as vezes que eu chorava ela sempre repetia: "tudo bem."
Com o tempo eu fui crescendo, Gregório não me batia como fazia com minha mãe, mas não me olhava e se recusava a falar comigo. Minha mãe adoeceu um tempo depois, não sabíamos o que era, ela passava os dias deitada na cama sofrendo e se contorcendo de dor. Eu tinha dez anos, tinha medo de ir ao quarto e ver minha mãe sofrer.
Foi então que meu pai me disse uma das únicas coisas que já disse para mim, ele me mandou buscar flores para deixar minha mãe feliz. Eu fui. Escolhi as melhores e mais bonitas flores. Quando voltei vi minha mãe morta com um travesseiro em cima do rosto. Meu pai disse que ela não aguentou a dor e se matou. Mas eu sabia que tinha sido ele.
Quando eu acabei a faculdade conheci Ângelo, seu pai, éramos apaixonados, nós fugimos com a grande parte de minha herança e nos casamos escondidos, logo depois engravidei de Henrique. Tudo corria bem até Henri nascer e recebermos uma carta de Gregório dizendo: "finalmente você fez algo que presta. Mande lembranças ao meu neto." A carta vinha junto com muito dinheiro.
No incio nos preocupamos e chegamos a conclusão que Gregório queria um menino.
Henrique crescia feliz, ele era extremamente inteligente, mesmo não sabendo do que acontecia, ele parecia entender. Quando ele tinha um ano e meio eu descobri que estava grávida de uma menina. A partir daí comecei a passar os dias em casa, com medo de que se eu saísse alguém veria e fizesse com que a notícia chegasse ao meu pai.
Depois que você nasceu imediatamente quisemos nos mudar. Viviane era minha amiga e madrinha de Henri, ela havia crescido comigo mas logo antes de seu nascimento se mudou para o Brasil. Ela havia me ofereceu um emprego no Rio. Estávamos decididos.
Mas no aeroporto Henri sumiu. Passamos horas procurando seu irmão, mas não o achávamos, eu estava desesperada. Ângelo insistiu que eu seguisse com você e fosse ao Brasil. Eu não queria, mas fui.
Enquanto seu pai não voltava ficamos hospedadas em um hotel, eu passava noites em claro com a esperança de que ele bateria na porta do quarto com seu irmão nos braços.
Dois dias depois ele voltou. Mas sem Henrique. Ficamos sem rumo por dias, não sabíamos o que fazer.
Compramos uma casa um ano após.
Com o passar do tempo você foi crescendo e tivemos medo de te contar e você sentir culpada pelo que aconteceu.
Depois nos mudamos para Campo Grande, antes de você viajar, recebemos uma ameaça de Gregório, ficamos preocupados e te mandamos para longe.
Eu e seu pai esperamos que um dia possa nos perdoar. Estaremos sempre com você.
Com amor,
Regina e Ângelo Delevingne.*
_ E então? - Dani perguntou me tirando de minha órbita.
Eu abri a boca, mas depois descobri que não saía nada da mesma, então voltei a fechar.
_ Eu... Eu... - Respondi tentando encontrar as palavras certas, - eu tinha um irmão e ele morreu por minha causa.
_ E... Você sabia? - Ele perguntou novamente.
_ Não.
_ Kat, daqui meia hora será o enterro de seus pais, - Cassie me lembrou.
_ Eu não sei se vou.
_ Como? Katerina eles são seus pais. - Ela disse brava comigo.
_ É. E eu sou a filha deles. Mesmo assim eles passaram minha vida toda mentindo para mim, - eu respondi nervosa com lágrimas nos olhos.
_ Acho que vou ter que repetir: ELES SÃO SEUS PAIS! E não importa os raios que estiverem escritos nessa carta, eles fizeram pelo SEU bem!
_ Eles mentiram para mim, - respondi soluçando.
_ ENTÃO DIGA ISSO A ELES! OLHE NO ROSTO DELES E DIGA O QUANTO VOCÊ ESTÁ BRAVA POR ELES TEREM MORRIDO POR VOCÊ!
Foi então que me toquei. Ela tinha razão, meus pais haviam morrido por mim, assim como o meu irmão. Eu me levantei e abracei Cas.
_ Me desculpe... - Eu disse chorando em seu ombro.
_ Tudo bem, - ela respondeu forte ao meu abraço, - conte sempre comigo, posso não ser seus pais mas sei como colocar juízo na sua cabeça, - eu dei uma pequena risada me afastando. - Vá se arrumar.
Dei uma pequena risada e concordei, tomei um banho e coloquei um vestido preto de renda e penteei o cabelo e prendi uma mecha com a fivela preferida de minha mãe.
_ Está ótima, - Dani disse ao entrar no quarto de terno, tenho que admitir: ele estava bonito.
_ Obrigada. Por tudo, sério, eu não sei o que seria de mim sem vocês, - respondi olhando para ele.
_ Uma órfã que sente remorso e não tem amigos, - ele respondeu sorrindo.
_ Você é muito sensível sábia? - Disse irônica.
_ Não importa. Mas quando eu sair do eixo, promete que me põe no lugar?
_ Eu prometo.
_ Juro que ouvi um copo quebrar quando minha irmã gritou com você, - ele disse sorrindo.
_ É, acho que mais um pouco e eu não saía viva.
_ Com certeza.
Em seguida Cas saiu do banheiro com um vestido de setin preto.
_ Vamos? - Dani perguntou esperando minha resposta.
_ Vamos. - Suspirei.

Eu olhava para o rosto pálido de meus pais por trás dos vidro caixões, Viviane estava ao meu lado, do outro, a família Martin e a professora Cláudia.
Eu nunca imaginei esse momento, apenas por que eu tinha medo, eu recebia abraços e pêsames, eram sinceros, mas sempre achei que seria mais fácil.
"E agora?" - só conseguia pensar, - "o que vocês esperam que eu faça? O que vocês QUEREM que eu faça?"
Aos poucos as pessoas a minha volta foram se despedindo e indo embora, acho que até os gêmeos acharam que eu deveria ficar sozinha. Eu não prestava atenção, apenas ficava de cabeça baixa olhando para meus pais e repetia as perguntas. Eu achava que eles esperassem que eu fosse embora, mas não quisessem isso.
"Eu perdôo vocês." - Dessa vez meu pensamento saiu pela boca, levantei a cabeça para ir embora e foi aí que eu vi:
_ Henrique? - Perguntei olhando a sombra.

Memory Onde histórias criam vida. Descubra agora