An improvement

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Era bom pensar que eu estava conseguindo parecer feliz. Na escola eu continuava sem amigos, só que com o tempo aprendi a não me importar com isso. Mas era este tempo que me castigava que tornava os dias cada vez maiores.
Assim aquele um ano que passara para mim poderia ter sido multiplicado por dez.
As férias foram boas. Evitei ao máximo ficar desocupada a maior parte do tempo eu passei com meus pais. O clima em Campo Grande na maioria dos dias era chuvoso e nublado, então passamos a boa parte das feria debaixo das cobertas assistindo filme e comendo pipoca. Acho que alugamos a locadora inteira só faltou pornografia!
Faltando uma semana para a volta as aulas eu percebi que a presença de um caminhão de mudança havia se tornado constante ao lado de minha casa.
_ Kat! Preciso que vá ao supermercado não tem nada para comer só milho, estamos parecendo galinhas! – Minha mãe gritou lá de baixo.
_ Já vou. – Eu respondi tirando o pijama. Coloquei uma jeans, uma jaqueta e uma bota preta.
O supermercado ficava a três quadras de casa e com tanto que não estivesse aquele tipo de sol infernal que sega qualquer um eu não teria problemas em ir a pé. Peguei meu celular e a lista com minha mãe.
Sai de casa, virei a direita e fui reto, desviando do caminhão de mudanças.
_ Oi! – Virei para traz e vi um garoto alto e magro, de cabelos loiros e olhos âmbar. – Devemos ser vizinhos, minha família acabou de se mudar para a casa ao lado. Meu nome é Daniel.
_ Sou Katerina, - eu o respondi com um sorriso.
_ Katerina... Você é muito bonita... – Diz ele atrás de mim colocando a mão em minha cintura.
_ Wow, wow, wow! – Eu disse me virando e tirando as mãos dele que já começavam a descer, - vou deixar uma coisa bem clara: eu tenho a minha casa – eu disse apontando para mim mesma, - e você tem a sua. Eu te aconselho a ficar nela.
_ Nossa! Acho que já conheci bem o bairro, e pelo jeito os vizinhos também – diz o idiota voltando para casa dele.
O resto do dia felizmente foi normal, fiquei torcendo pelo Daniel não ficar na mesma classe que eu quando as aulas voltassem. Mais tarde depois do almoço (onde finalmente comemos comida de verdade) meus pais saíram pois o trabalho de ambos já havia voltado e eu peguei um dos meus livros preferidos: “A culpa é das estrelas” e desci para a sala ler.
Eu não tive quinze minutos de paz e ouvi a campainha. Quando atendi podia jurar ter visto a mesma pessoa mais ceda. Desta vez uma menina se encontrava na minha frente idêntica ao Daniel, com cabelos louros e olhos âmbar.
_ Oi meu nome é Cassie Martin. – Diz a “Daniel de calcinha” estendendo a mão.
_ Katerina Delevingne, - eu disse de um jeito meio frio com medo dela ser idiota como o irmão.
_ É... Bom... Desculpe-me pelo meu irmão, acho que ele não teve a melhor das primeiras impressões com você. – Ela disse sem graça.
_ Hummm... Tudo bem, - eu respondi sorrindo – quer entrar?
Ela concordou com a cabeça e entrou em casa.
_ Vocês vieram da onde? – Eu perguntei curiosa.
_ Somos canadenses. Meu pai recebeu uma proposta de emprego então viemos para o Brasil, mas felizmente eu morei aqui até meus nove anos então sei bem o português.
_ E você gosta daqui?
_ Não! Não mesmo! Mas é suportável.
_ Eu também não. Mas felizmente nasci francesa.
_ Que legal! – Eu sorri em resposta. – Onde você esta matriculada?
_ No Colégio Alfa e você?
_ Eu também! Eu e meu irmão. – “Viva e que merda!” – Bom eu tenho que ir, foi bom te conhecer Katerina.
_ Foi bom te conhecer também. Se precisar de alguma coisa é só me falar. Ah e pode me chamar de Kat. – Eu disse enquanto me despedia.
Assim, eu e Cassie passamos o fim das férias na maior parte do tempo juntas, Daniel havia viajado para a casa do tio, eu ajudei ela com a mudança, até a decorar seu quarto, conheci sua mãe, Elizabeth Martin, ela era muito legal e simpática, até nos levou na sorveteria.
Eu me senti bem. Poderíamos ser amigas. Seria um alivio saber que eu não passaria mais um ano sozinha.
No primeiro dia de aula, eu combinei de passar na casa da Cassie, que ficava no caminho da escola, o lado ruim é que Daniel iria junto. Quando cheguei, ela já me esperava em frente a casa.
_ E o seu irmão? – Eu perguntei tentando não parecer feliz.
_ O peste que venha depois. Acho que até anestesiada eu me arrumava mais rápido! – Eu ri.
Chegando à escola vi que a turma era a mesma. Nos sentamos no meio da sala Cassie na frente (ela era mais baixa). Ela abriu um sorriso e eu outro em resposta.
_ Bom dia. Meu nome é Marcos Sant German. Sou o novo professor de sociologia...
_ Da licença, estou passando, por favor... – Um menino entrou interrompendo o Sr. Sant German, era o Daniel.
_ Abram na página onze. O atrasado pode começar a leitura.
_ Meu nome é Daniel. Ou me chama de Daniel ou de nada.
_ Muito bem: “Nada”, comece a leitura, por favor. – A sala inteira riu, até a Cassie.
_ Tudo bem, – disse Daniel abrindo o livro de sociologia, - “tutorial de como sobreviver ao professor chato”, caramba a gente tem que ler isso! – Dessa vez, a gargalhada ecoou pela sala.
_ Não... Eu acho que estou mais a fim de ler o “tutorial do aluno metido, insuportável e nada pontual”. E então Daniel? Vai começar a leitura ou vai ler na diretoria? – Disse o Sr. Sant German.
_ Vou começar a leitura... – Respondeu o Daniel desanimado ao perceber que foi derrotado pelo professor de sociologia.
No recreio eu lanchei com a Cassie, ela era engraçada e legal. Estávamos em uma mesinha no pátio. Daniel vinha andando em nossa direção. Cassie olhou para ele com cara de “eu vou te matar”.
_ Calma. Dessa vez eu não vou fazer merda, - ele disse levantando as mãos em sinal de paz. E voltando seus olhos âmbar para mim, ele continuou: - eu só quero me desculpar, me de mais uma chance. Podemos recomeçar?
_ OK. Mais uma chance.  – Eu respondi dando um pequeno sorriso.
_ Há, há, há! Legal! – diz Daniel já se sentando à mesa, - mas então maninha o que você acha daquela gatinha do 9° ano? – Pergunta Daniel com cara de safado ignorando completamente a face de ”eu vou te matar” da irmã.
_ Se ela for boa o suficiente para deixar seu nariz menos empinado. – Respondeu Cassie sem tirar a cara de ódio do rosto.
_ Não, não, não... Na verdade eu prefiro que ela deixe outra coisa empinada... - Olhei para ele com cara de nojo, - Há! Quase me esqueci de que estamos recomeçando! Que bom que a Kat me lembrou! – Dessa vez só consegui rir.
No final eu descobri que o Dani era engraçado e divertido como a Cassie, mas dez vezes mais tarado e malicioso.
Meus amigos me faziam bem. Nos piores momentos eles me ajudavam falando alguma besteira e eu ria, e logo me esquecia das lembranças que invadiam minha mente.

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