Capítulo 17

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Pov. Autora – Ano 1830

Por muito tempo, Lyla e Nicholas foram descendo pelo curso da caverna, debaixo de um calor insuportável, que começava a se apresentar tóxico. A parte mais difícil era ter que carregar o barco, que não era pesado, mas que após tanto tempo de caminhada, havia se tornado um fardo.

- Eu não aguento mais – disse Lyla soltando uma extremidade do barco e caindo no chão.

- Seja forte, Nascer do Sol, não podemos estar tão longe assim. A lava deve ter entrado na caverna. Estamos ficando sem tempo.

- Nicholas. Eu não consigo respirar direito

- Eu também não. São as toxinas da lava penetrando a atmosfera, por favor, vamos...

- Ah.. – gemeu Lyla, de repente batendo contra uma das paredes da caverna–Nicho...

- Lyla? – Ele se aproximou e pegou o braço dela – O que aconteceu?

Foi a última coisa que ela ouviu, antes de se estatelar no chão, inconsciente.

Nicholas se desesperou, tentando acender a lamparina, para ver o que havia acontecido.

Um silêncio ensurdecedor tomava conta da caverna. Algumas gotas provenientes da umidade quebravam o silêncio. A luz fraca mostrava o semblante inconsciente de Lyla. E algo a mais ao lado dela.
Uma serpente rastejava em volta como se planejasse o que fazer com sua presa. Ela havia picado Lyla em seu estômago, que sangrava sem piedade. Nicholas entrou em choque ao ver a situação.

Lentamente, ele pegou a sua espada dentro do barco e cravou na cabeça da serpente, agora inerte no chão. Mesmo morta, a serpente já havia feito o pior. Matá-la não adiantaria. Era tarde demais.

Com lágrimas nos olhos, Nicholas ajoelhou-se ao lado do corpo inerte de Lyla e viu a mordida em seu estômago. Ele rasgou todo o tecido para encontrar veneno e sangue escorrendo na pele pálida de Lyla. Ele sugou o máximo que pode o amargo veneno com a boca e limpou a ferida com água. Ele improvisou uma rápida atadura e enxugou a fervente testa de Lyla com uma toalha molhada. As lágrimas não abandonaram seus olhos por um segundo. Ele se sentou exausto. Não havia nada mais a fazer. Ela ainda não se movia

Ele a beijou nos lábios ressecados e fez uma pequena oração pela proteção e cura da garota. Apenas esperava ser ouvido.

Ele se sentou ao lado dela e começou a acariciar os longos cabelos louros, agora sujos de terra e fuligem. Murmurava em seu ouvido boas palavras como: fé, amor, cura, humildade. Tudo que vinha do mais profundo do ser.

Cansado demais, ele suspirou:

- Eu nunca te deixarei, Nascer do Sol

Ele fechou os olhos como se tentasse se livrar de um pesadelo. Até que uma voz interrompeu seu soluço:

- Nicholas? – ela sussurrou fracamente

* * *

Pov. Lyla - Ano 1830

Em todo o momento que fiquei paralisada, minha alma parecia querer sair de meu corpo. Parecia que meu interior estava pegando fogo. E a pior parte? Não sabia o que havia acontecido. Em um momento, eu estava para ter a maior felicidade e no outro, perco minha consciência proveniente da dor. Enquanto apagada, imagens horrendas passavam por minha mente. Via pessoas desesperadas com fogo ao redor, e algumas pegando fogo até. Eu sentia a dor excruciante. Eu olhava todos sofrerem, sem poder ajudar. De repente, algo muito maior que minha vontade me trouxe de volta à terra. Abri os olhos e sorri fracamente ao vê-lo. Sua presença era o suficiente:

- Nicholas

Um alívio percorreu toda a sua extensão corporal:

- Você acordou... Pensei que a tivesse perdido. Foi tudo tão.. - ele se interrompeu - Como você se sente?

Foi aí que passei a prestar atenção. Estava quase derretendo de dor. Tudo queimava, como se houvesse um vulcão dentro de mim. Eu tremia de frio e dor. Minha cabeça latejava. Meus lábios estavam secos. Meus nervos não funcionavam direito. Meu estômago se revirava constantemente. Eu gemi de dor e ele compreendeu que não estava indo bem:

- O QUE ACONTECEU COMIGO? - gritei chorando como nunca. Doía tanto.

- Veneno... - começou ele - de uma serpente.

Ele não falou mais. Não precisava. Tinha sido envenenada por um ofídio perigoso. Era milagre ainda estar viva. Tanto para processar em alguns segundos. E eu pensando que havia esperança. Talvez eu não tinha nem horas sem um tratamento.

Engoli as lágrimas e me mantive firme:

- Quanto..... quanto tempo eu.. eu tenho?

Nicholas me olhou espantado:

- Nós vamos achar uma forma. Nós vamos sair daqui e... vamos...

Eu sorri fracamente, com uma lágrima caindo:

- Por favor Nicholas. Não podemos evitar a verdade.

Ele ficou em prantos. Eu tentei manter a calma por nós dois, mas sinceramente, eu não sabia o que doía mais: Meu corpo inteiro falecendo aos poucos, ou perder minha Única chance de ser feliz.

- Não vou aceitar te perder também, Nascer do Sol. Não vou....

- Shh... – disse fraca – Só segura minha mão.

* * *

Pov. Nicholas – Ano 1830

Ela perdeu a consciência de novo. Ficava cada vez mais fraca. Eu conseguia ouvir o barulho de lava descendo pela caverna. Não tinha tanto tempo. Eu passava mal com o ar viciado. Mas nada disso se comparava a situação do meu grande amor, desfalecendo aos poucos nos meus braços

Por sorte havia trazido algumas ervas medicinais. Com a luz fraca da lamparina e o silêncio atordoante da caverna, eu trabalhei em um remédio que podia fazê-la resistir e melhorar um pouco. Assim que coloquei em seus lábios inertes, eu sabia que não poderia ficar esperando para sempre. Eu a peguei no colo delicadamente e coloquei-a no barco.

Eu murmurava a mim mesmo que tinha que ser forte. Eu não ia desistir sem lutar. Em todos os momentos de minha vida, eu tive que ser forte. E agora, ser forte se tornou o meu único objetivo.

Desejei o melhor para mim e amarrei uma corda no barco e depois em minha cintura. Olhei para o grande caminho completamente escuro me perguntando o quanto teria que me arrastar para chegar em algum lugar.

Olhei para trás e minha única motivação estava lá, lutando por sua vida. E agora eu vou lutar também. Respirei fundo sabendo que as dores seriam excruciantes. Mas nada mais importava. Só eu e o obstáculo que teria de percorrer.

Olhei para trás. Mesmo dormindo, o suor brotava de sua pele e imaginei a febre que ela estava sentindo. Mas o remédio ia salvá-la. Tinha de salvá-la.

- Por nós - sussurrei ao começar a arrastar tudo com a minha força.

Talvez força física, talvez de vontade, ou talvez doamor.

Uma Viagem ImprevisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora