Capítulo 16

1 0 0
                                    

Pov. Sam

- AHHHHHH - foi só o que consegui gritar quando aquela voz ecoou na caverna.

Ela me arrepiou. Nunca, em toda minha vida, havia me sentido tão vulnerável como naquele momento.

Matthew segurou minha mão:

- O que foi? Você está bem? - ele perguntou apavorado

- MATTHEW - eu gritei com lágrimas escorrendo - Você não ouviu a voz? A garota?

- Sam, se acalme.. Eu não ouvi nenhuma voz. Estamos só nós dois aqui.

Eu me desesperei e comecei a entrar em pânico, até que eu a ouvi de novo:

- Pobre garoto. Ele não pode me ouvir. Mas ficaria feliz se você dissesse para ele que vocês não estão sozinhos. EU estou aqui com vocês. Garantirei que apenas UM sairá vivo. É claro que infelizmente não poderei fazer isso com minhas próprias mãos, porque bem. Estou morta. Mas tenho boas fontes que me ajudarão a concluir minhas metas. Bom de agora, pois o passado. Era mais complicado.

Eu me levantei e gritei para a voz. Matthew deveria estar assustado, mas não como eu. Aquela voz penetrava minha mente como uma lâmina gelada, ansiosa para retirar minha sanidade restante. Eu sentia todo o ódio que ela queria transmitir. Mas por trás desse ódio, havia tanta dor. Eu podia senti-la no fundo de minha alma.

"Todo aquele que faz sofrer é um sofredor", minha avó sempre dizia. Essa frase me veio à mente no momento certo, pois agora eu sabia exatamente o que faria.

- O QUE VOCÊ QUER DE NÓS? - gritei para a voz que riu grotescamente. Sem toda a rouquidão, parecia uma voz muito linda de ouvir. Mas não agora.

- Oh querida. Seria que uma noiva penetrada de mágoas não pode se divertir? Eu sempre tive que me ocultar a tudo, mas agora estou livre de todos aqueles idiotas que morreram. Estou livre mesmo daquele que me amou e tentou me salvar. Mas não posso ficar muito tempo. Tenho que me recuperar. O resto, você descobrirá sozinha. Enquanto isso, boa sorte! Você vai precisar.

E simples assim, a voz sumiu, me deixando afogada em soluços e lágrimas.

Matthew chegou atrás de mim e me abraçou falando palavras confortantes. Eu só conseguia gritar dizendo:

-Ela vai voltar, ela vai voltar.

- Não Sam. Calma. Já passou ok?

- Precisamos sair daqui Matthew. Antes que o vulcão entre em erupção. Precisamos arrumar uma forma. Estamos presos aqui.
Eu não conseguia enxergar nada na escuridão. Matthew se afastou:

- Fogo. Precisamos de fogo.

- Sim - respondi - Procure pedaços de algo e eu acendo. Matthew se agachou e começou a tatear o chão:

- Sam... Achei algo que pode ajudar. Acho que é um caderno, ou um livro.

Enquanto ele trazia para mim, eu já formava a fogueira. O caderno não seria necessário. Já havia conseguido. A fogueira acendeu iluminando toda a caverna.
Matthew me entregou o caderno. Ele era rosa e desbotado. Um pouco acabado pelo tempo. Abri a primeira página onde estava escrito: "Diário de Lyla Mayne"

- Matthew - gritei - Olhe isso.

- É o nome dela - disse Matthew assustado. É a garota dos nossos sonhos.

- Não.. - senti as lágrimas invadirem meus olhos. - É a garota dos nossos pesadelos.

* * *

Pov. Autora - ano 1830

- Nicholas.. Nicholas. - Lyla corria apressada para a caverna esperando que ele estivesse lá. A terra tremeu novamente e Lyla caiu de cara na areia. Bem próxima da caverna. Ela se levantou com dificuldade e olhou para cima, onde cinzas caiam do céu como uma chuva de escuridão. Ela percebeu fumaça no ar também, mas antes que pudesse fazer algo, ela foi puxada para dentro da caverna. Ele a abraçou.

- Nicholas. Te achei. Ainda bem. Estava preocupada que algo acontecesse com você por causa do terremoto.

- Lyla! Fico feliz que tenha vindo. Esses terremotos. Não são normais. Temos que sair daqui agora e... A terra tremeu fortemente e os derrubou com força no chão da caverna.

De repente, o barranco que segurava a entrada desabou na frente de tudo, fechando qualquer entrada existente na caverna. O terremoto parou depois de alguns minutos, deixando a cidade em gritos sombrios.

Lyla se levantou e tentou enxergar na escuridão que persistia, mas os gritos aterrorizantes da superfície a impediam de pensar. Nicholas segurou sua mão. Ela começou a chorar e tentar chutar o monte de terra que antes era a entrada

- O que está acontecendo lá em cima? Eu não entendo.

Nicholas a puxou e a abraçou forte.

- Escute. Nós temos que ser fortes. Temos só um ao outro. Estamos presos aqui. Mas - a voz dele falhou - esse não é o nosso maior problema.

Ela apertou o abraço:

- Qual é?

Ele respirou fundo:

- Os sinais.. Os gritos... O vulcão de Ilhoyts despertou. Vai destruir todos nós.

Um grande barulho de explosão fez toda a ilha tremer. Ouvia-se apenas gritos. Lyla começou a gritar e chorar aterrorizada. Nicholas a soltou e a deixou ajoelhar e chorar no chão.

- Precisamos seguir em frente. Vamos morrer se ficarmos tão perto da entrada. Passaram- se minutos, talvez horas e os barulhos desesperados começaram a cessar.

O ambiente da caverna estava extremamente quente. O vulcão provavelmente já estava dizimando toda a ilha. Lyla não queria pensar nisso.

- Estamos vivos - Nicholas balbuciou. - Provavelmente os únicos. Já que estamos completamente subterrâneos. Mas não imunes.

Lyla deixou uma última lágrima cair de seus olhos:

- O que faremos agora Nicholas? Temos que ir embora daqui, antes que a lava entre na caverna.

- Eu sei que caminho seguir.. Ele apontou para o grande corredor que levava até o mar.

- Temos que levar o nosso barco e mantimentos até o mar. Só assim estaremos seguros. - Ele estendeu a mão para ela - Juntos?

Ela sorriu. Seu primeiro sorriso desde que o dia começara.

– Juntos

Nicholas pegou a lamparina que ele usara para trabalhar no barco e acendeu. Ele colocou tudo que os dois haviam juntado no barco. Lyla encontrou seu diário e uma caneta.

- Antes de irmos, eu posso escrever uma coisa?

* * *

Pov. Sam – Dias Atuais

Abri a primeira página do diário. Olhei a data escrito em uma linda letra:

Data: 29 de agosto de 1830, Ilhoyts.

Eu nunca acreditei em milagres, até o milagre ser minha última esperança. Ainda não sei ao certo o motivo de escrever sobre os piores dias de minha vida aqui, mas senti que precisava ser feito. O vulcão resolveu acordar. Provavelmente, tudo e todos que conheço devem estar mortos agora. Jamais conseguirei tirar os barulhos desesperados da minha cabeça. Todos diziam que o inferno sempre era abaixo de nós. Hoje percebi que o inferno é bem ali na superfície.

Tudo que eu acreditava já não tem mais sentido. Sim, eu iria sair de qualquer forma dessa vida com a minha fuga, mas isso não significa que eu queria que todos morressem. Talvez eu demore uma vida para esquecer tudo ou talvez um dia irei rir disso tudo, mas
por enquanto, eu não tenho nem a luz do sol para me aquecer. Mas não há o que reclamar. Confio minha vida no meu grande amor para nos tirar daqui, antes que a minha própria existência se transforme em pó.

* * *

Uma Viagem ImprevisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora