OS BONS IRMÃOS

33 6 7
                                    

Enquanto rachava a lenha, Hans sonhava em tocar os seios da senhorita Gerda Händler. Ele tinha pouco mais de quinze anos naquela época e nunca tinha visto uma garota nua na sua frente. Os seios da senhorita Gerda tinham pouco mais de trinta e cinco polegadas. Hans não conseguia parar de pensar neles enquanto golpeava as árvores no bosque com toda sua força e com toda a sua raiva, não apenas porque tinha quinze anos – e aos quinze anos é realmente difícil pensar em outra coisa –, mas também porque todos os dias ele levava a lenha cortada para o armazém do senhor Händler, e a senhorita Gerda ajeitava o decote e então se curvava para contar e pesar os feixes.

Aquela manhã havia sido realmente cansativa. Os preparativos para o Festival do Inverno exigiram uma demanda adicional de trabalho. Uma demanda excessiva e desagradável, para falar a verdade. A Comissão Organizadora encomendou a ele uma quantidade tão grande de lenha para abastecer as inúmeras fogueiras que iluminariam e alegrariam as comemorações, que Hans teve que pedir ajuda a Klaus e Markus, e pagar a eles uma comissão pelo trabalho. Qualquer jovem ambicioso na idade de Hans transbordaria de excitação com uma possibilidade dessas, principalmente numa época de escassez como aquela, mas a verdade é que Hans achava tudo aquilo uma grande bobagem.

O que havia para comemorar? ele pensava. Comemorar a chegada do inverno? Quando fica tão gelado e úmido, os animais se recolhem e as plantações morrem? Com aquele momento tão difícil que todo mundo estava passando?

A única coisa que o motivava a seguir em frente era entregar a lenha cortada para o Sr. Händler e sua filha no final da tarde.

Quando o sol tocou a ponta do céu naquela manhã, Hans largou o que estava fazendo, se sentou em um troco caído e tirou seu almoço da mochila. Mal serviu uma caneca de vinho quando viu uma sombra se projetar às suas costas.

– Foi para isso que você nos chamou, irmãozinho?

Hans reconheceu a voz de Klaus.

– Como é bom ter tempo para vadiar – completou Markus.

Klaus tirou o machado que estava preso à tora de madeira e começou a rachar a lenha que estava por fazer no chão. Markus tirou um facão de seu cinto e começou a raspar as cascas das toras. Hans sentia uma ansiedade incômoda toda vez que estava na presença dos primos. Sentia que cada movimento seu, ou mesmo sua respiração, devia ser controlada. Era estressante respirar e pensar sob esta rigidez, mas ele sentia que, se agisse naturalmente, como costumava agir na companhia da irmã, por exemplo, eles o reprovariam e falariam coisas grosseiras.

– Veja, Klaus, tem alguma coisa escrita nesta tora!

– O que é?

– Está escrito: "gordo".

– Você tem certeza? Por que estaria escrito isso aí?

– Pois então veja.

Klaus pegou a tora e leu.

– Seu imbecil! Está escrito "Gerda".

– Ora, como você sabe? Eu nem sei o que isso significa!

– Não é o que, é quem.

– Não estou entendendo, Klaus.

– Você é um animal mesmo, Markus. Eu fico admirado como você conseguiu chegar com vida a essa idade. Gerda é o nome da filha do Sr. Händler, o comerciante do vilarejo.

De repente, a resposta parece ter surgido e iluminado a cabeça de Markus. Então ele olhou para Hans, que estava quieto sobre o tronco caído e moldou seu rosto num sorriso maléfico, deixando à mostra alguns de seus dentes podres.

Dias de BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora