A NOBREZA DAS ESTRELAS

26 5 5
                                    

A jovem Elisa preparava os gansos para então levá-los até a campina, quando Peter veio correndo até ela, animado. Era comum ele se oferecer para acompanhá-la até o campo todas as manhãs, porque os gansos tinham que passar pela entrada do vilarejo, de onde vinham notícias sobre bandidos que espreitavam suas vítimas na beira da estrada.

– E o que você poderia fazer caso isso acontecesse, pequeno Peter? – ela perguntou. – Serviria de isca para distraí-los?

– Vá brincando, Elisa Cinzenta. Mas saiba que, ontem à noite, um velho teve sua mão decepada a machadas por dois bandidos do bando do Raposo.

Lisa começou a contar os gansos e os dois foram caminhando juntos até a estrada. Não parecia estar tão apavorada quanto Peter esperou que ela ficasse.

– Onde você ouviu uma história dessas?

– Todos no povoado estão comentando. O pobre homem vivia numa fazenda do outro lado do riacho, e sustentava dois filhos sozinhos. E então, dois garotos, um rapaz e uma menina, invadiram sua cabana e tentaram levar uma bacia de prata, que era a única relíquia deixada pela esposa do homem, que morreu tristemente. O homem disse que eles podiam levar tudo que quisessem, menos aquela bacia, porque tinha valor sentimental, e então eles golpearam o velho com a própria bacia na cabeça, e depois deceparam a mão dele com um machado e saíram levando todo o dinheiro que o velho tinha para pagar suas contas. Os filhos não estavam em casa porque ficaram até tarde no bosque recolhendo lenha.

– Que história horrível. Nem parece real.

– Eu também não acreditaria, se não tivesse ouvido da boca do próprio velho. Ele estava com o braço enfaixado, todo molhado de sangue. Pobrezinho!

Quando cruzaram o portão de entrada do vilarejo, notaram que, no alto, havia alguma coisa medonha pendurada.

– Meu deus! – exclamou Lisa, quando viu o que era.

Sobre um gancho, estava a cabeça de um cavalo.

– Veja só! – disse Peter. – Isso é obra do bando do Raposa. Eu estou lhe falando, Lisa, este reino está cada vez mais perigoso e infestado de bandidos.

– Você acha que foram as mesmas pessoas que atacaram o velho?

– Não tenho a menor sombra de dúvida. Estão dizendo que esses dois vagabundos não são ninguém menos que o Sr. Burro e a Sra. Raposa. O que faz muito sentido, olhando essa cabeça aí.

– Mas é a cabeça de um cavalo.

– Com certa licença poética é a mesma coisa.

– Ai, senhora cabeça de cavalo, o que fazeis aí dependurada!

Lisa olhou para os olhos negros e mortos do cavalo, mas a cabeça não lhe respondeu nada.

Eles conduziram os gansos até o campo e os deixaram se espalhar e roçar a grama fresca. Lisa se sentou numa pedra para cuidá-los e Peter começou a correr em volta deles, para fazer com que se espalhassem.

– Fico pensando se irão nos liberar para o Festival do Inverno deste ano – comentou Lisa, pensativa, enquanto ajeitava as mechas de cabelo enodadas.

– Eu acho bem difícil – respondeu Peter. – Os nobres irão ao Festival e nós ficaremos cuidando do castelo na ausência deles.

Lisa começou a trançar os cabelos, e Peter, para incomodá-la, tentou puxar seus fios, mas ela fez um xingamento duro e um vento forte soprou, derrubando o chapéu dele no chão. Ele saiu de gatinhas pela grama tentando capturar o chapéu de volta, mas quanto mais Lisa ria dele, mais o vento empurrava o chapéu em direção à orla da floresta.

Dias de BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora