Era uma noite estranhamente agitada n'O Dragão Gripado. Um anãozinho estava gritando e apontando o dedo na cara de Helga Braço-de-Ferro. Podia-se ouvir ele a chamando de "puta fedorenta" ou "puta asquerosa" quando Humbrand, o segurança pessoal de Helga, desceu as escadas. Humbrand era muito maior do que qualquer pessoa normal – muitos diziam que ele era da antiga raça dos meio-gigantes, que viviam nas estepes ao Sul, quando ainda se podia encontrar esse tipo de gente andando por aí –, o que fazia com que parecesse três vezes maior que um anão.
– Dê-me os dois dobrões, como combinamos, meu senhor – disse Helga educadamente. – Por favor.
– Sua puta fedorenta! – gritou o anão. – Já lhe disse que não vou pagar mais do que meio dinar de bronze por esses míseros cinco minutos.
– Eu devia ter dado ouvidos a Elizabeth quando ela me disse que anões são precoces e temperamentais.
– Quem é precoce, sua porca asquerosa! Estão vendo, pessoal? Essa nojenta está me insultando!
O pessoal começou a bater os canecos na mesa e a urrar como um rebanho de búfalos selvagens. O taberneiro, um homem corpulento e calmo chamado Butch, tentou acalmar os ânimos do cliente, mas o anão começou a bater os braços e gritar cada vez mais agudo, até que sua voz ficou fininha e suas bochechas ficaram como dois pimentões. Humbrand se aproximou deles.
– Você se meteu em alguma enrascada, Helga? – ele perguntou.
– Não é nada, meu anjo – disse Helga para o seu segurança.
Humbrand inclinou-se sobre o anãozinho e o puxou pela ponta da barba.
– Estamos com algum problema por aqui, meu senhor?
– Sim – disse o anão, agora muito mais calmo. – Esta senhora quer me cobrar por cinco minutos o preço de uma hora cheia.
O meio-gigante olhou para Helga e voltou a olhar para o anão.
– Quanto ela lhe cobrou antes de vocês irem para o quarto?
– Dois dobrões de cobre – disse o anão, convicto.
– E quanto ela está lhe cobrando agora?
– Bem, o mesmo valor.
– Nem um tostão a mais?
O anão achou melhor não responder.
– Então acho que devemos esquecer este mal-entendido e ficar com os seus dois dobrões de cobre, exatamente como combinaram há cinco minutos atrás.
Sem desviar os olhos de Humbrand, e ainda com sua barba suspensa na mão dele, o anão abriu um saquinho em seu cinto, tirou dois dobrões de cobre e estendeu na direção de Humbrand.
– Para mim não, idiota.
Humbrand soltou as barbas do anão e ele se dirigiu até Helga e lhe entregou o dinheiro. Nunca antes Butch tinha visto o salão tão silencioso. O anão caminhou até o cabideiro, tomou sua capa e seu chapéu, e tranquilamente saiu pela porta.
* * *
Lá fora o mundo desabava em água. Os deuses estavam furiosos, enviando tantos trovões. Duas figuras cobertas por mantos escuros entraram na estalagem. Eles estavam completamente ensopados. Ninguém deu muita atenção quando entraram, porque figuras encapuzadas passavam frequentemente por ali. Mas quando uma delas tirou o capuz e revelou um rosto infantil, Helga Braço-de-Ferro se levantou de sua cadeira e os puxou para um canto.
– O que está acontecendo aqui? – ela perguntou, furiosa.
A figura com rosto infantil era uma menina, e ela estava muda. A outra figura, maior, parecia um rapaz.
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Dias de Bruxas
Fantasy[Inspirado em George R. R. Martin, Neil Gaiman e nas histórias dos irmãos Grimm.] O reino está passando por tempos difíceis e o inverno se aproxima. A floresta é assombrada por uma lenda antiga. Um bando de ladrões se organiza para destronar o rei...