Certa vez, logo depois que sua esposa morreu, o rei deu uma grande festa e convidou todas as pretendentes do reino. Os convidados sentaram-se em fileiras de acordo com suas posições – reis e príncipes de reinos vizinhos, arquiduques e condes, duques e barões. Cada um deles trouxe uma filha, uma sobrinha, uma irmã, uma escrava ou mesmo suas próprias esposas e mães para oferecer ao rei em casamento.
A antiga rainha morreu dando à luz três lindos varões trigêmeos. E agora que tinha descendentes, o rei precisava de uma bela mulher ao seu lado.
Então ele entrou no salão e passou por todas elas, mas encontrou algo desagradável para dizer sobre cada uma. A primeira era gorda demais – "parece um porco assando no rolete!", e dava uma gargalhada espantosa –; a seguinte era magra – se dou duas na mesma noite, vou parti-la ao meio!", e outra gargalhada. Pálida demais ("não saberei distingui-la do meu próprio sêmen! Rá-rá-rá!"), nariguda demais ("ficará me cutucando na barriga!"), oferecida demais ("não daria nem para divertir meu próprios filhos!"), velha demais ("O que é isso, virei instituição de caridade?") ou feia demais ("Por Deus, chamem logo um exorcista!").
Somente um rosto lhe despertou interesse. Era uma menina pequena e magra, sentada sob a luz do lustre central do saguão. Suas faces eram lívidas, porém sanguíneas, e seu olhar era gélido. Tinha longos cabelos ruivos e sardas por todo o rosto.
O rei parou diante dela e fez um gesto para seu conselheiro a examinar.
– Perdão, milady – disse o conselheiro. – Qual é o seu nome?
– Circe, meu senhor – disse a menina. – Sou herdeira do ducado de Neve, no Norte. Viúva do antigo senhor daquelas terras.
O conselheiro olhou para o rei, aparentemente sem ter uma opinião.
– Eu conheci seu falecido marido, o duque de Neve – disse o rei. – Era um bom homem. Morreu na Guerra da Cordilheira, lutando bravamente.
– Esta é uma notícia falsa, meu senhor – disse a menina. – O duque de Neve morreu em casa, engasgado na própria saliva.
– Ora, mas que trágico. Quem foi que lhe trouxe aqui?
– Absolutamente ninguém, meu senhor. Uma duquesa da Aliança do Norte pode perfeitamente se apresentar a uma festa no castelo de Bris sem estar acompanhada por um homem.
– Não é adequado, milady – disse o conselheiro.
– De fato – concluiu o rei –, é algo cujos meus olhos cansados nunca tomaram conhecimento. Devo lhe confessar que, quando a vi sentada nesta cadeira, sozinha, mandei prender o rapaz que ajeitara os convidados, pois havia lhe ordenado que não deixasse entrar prostitutas no saguão até que eu lhe desse minha permissão. Mas agora vejo que a senhora está bastante segura de sua posição.
– Com quem mais eu viria, meu senhor? – disse a duquesa de Neve.
– Seria muito bom poder saber se a senhora é fértil.
– Meu senhor, o duque de Neve morreu deixando duas filhas pequenas.
– Pequenas? Então não é bom que não contemos com a sorte, é muito possível que não cheguem à idade adulta.
– Talvez, meu senhor. Mas é prova cabal de que sou fértil.
– A senhora parece uma garotinha. Como pode ter parido duas vezes?
– Quatro vezes, meu senhor, considerando que dois meninos não vingaram.
– E de que me adiantaria uma mulher que não pode parir homens fortes?
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Dias de Bruxas
Fantasy[Inspirado em George R. R. Martin, Neil Gaiman e nas histórias dos irmãos Grimm.] O reino está passando por tempos difíceis e o inverno se aproxima. A floresta é assombrada por uma lenda antiga. Um bando de ladrões se organiza para destronar o rei...