CAPÍTULO V - OS PRÍNCIPES TRIGÊMEOS

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– Sabe de uma coisa – disse Petrus, olhando fixamente para as casinhas que começavam a surgir na frente deles –, acho que o velho não passa desta noite.

– Parece que você sente algum prazer nisso – retrucou Cornelius, com um ar repreensivo, embora isso não significasse que não sentia o mesmo.

– Ora, o que é isso – gemeu Petrus. – Não estou confabulando, nada disso. Só estou dizendo o que acho. Acho que nosso querido pai de hoje não passa.

Petrus montava um alazão brilhoso e forte. Cornelius montava um corcel negro como uma sombra robusta.

– Acho que você não devia dizer essas coisas, meu irmão – alertou Cornelius, apontando com a cabeça o arauto que cavalgava à frente deles.

Os dois diminuíram o galope para se afastar dos demais.

– Andei ouvindo uma história por aí – continuou Petrus.

– Oh, não! – retrucou Cornelius. – Não me venha outra vez com a história da prostituta que engolia facas. – Ele sabia que o irmão tinha a imaginação fértil.

– Nada disso! – contestou Petrus. – O que ouvi é precisamente sobre nós. É sobre um documento que provaria a primogenitura de Arabel.

Cornelius virou o rosto pela primeira vez.

– Do que você está falando?

– É isso mesmo que você ouviu. Aparentemente, nós três nascemos juntos, mas não fomos tirados todos ao mesmo tempo do útero de nossa amada mãe mortinha. – A rainha Fertília não resistiu ao parto; era a primeira vez na história do reino que se tinha ouvido falar em bebês trigêmeos. – A parteira tirou um por um de nós, com alguns minutos de diferença. E tudo isso foi registrado em um decreto, redigido pelo notário e assinado pelo médico e por nosso estimado papai.

– Você só pode estar brincando.

– Não estou. Foi o que ouvi. Aliás, Gross é quem veio me contar. Ele ouviu de alguns homens na taverna do Butch.

Cornelius cerrou os dentes e apertou os olhinhos pequenos e negros.

– Vou lhe dizer uma coisa, Petrus, isso não está certo. Temos que dar um jeito nisso. Temos que ter uma conversinha com o Sr. Richter. – Hemmet Richter era o notário da aldeia.

Petrus deu uma gargalhada, mostrando uma porção de dentes podres.

A primeira casa ficava um pouco afastada da aldeia, antes de chegar ao riacho. Era uma construção sólida, de dois pisos, rodeada de pasto e ovelhas. Ali morava o burgomestre e sua família.

O arauto anunciou aos empregados da casa a chegada de Petrus e Cornelius. A mulher do burgomestre veio recebê-los no pátio da entrada, carregando um garoto pequeno nos braços.

– Altezas – saudou a mulher.

– Minha senhora – disse Petrus com cordialidade. – Devo imaginar que seu marido não haveria de estar em casa. Caso contrário, teria vindo nos receber pessoalmente, não é?

– Meu marido está tratando de questões administrativas na aldeia, mas deve voltar em breve.

– É bastante cedo – disse Petrus. –  Creio que a senhora não se importará que esperemos.

– Certamente não, milorde. Tenham a bondade.

A mulher os conduziu até o interior da casa e deu ordem para que os empregados levassem os cavalos até o pasto. A casa era bem construída e asseada, e havia um cheiro bom vindo da cozinha. Na sala, uma quantidade extravagante de crianças corria pelos cantos ou brincava pelo chão.

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