Eu não vou conseguir

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Narrado por Bianca

- José - Eu gritei quando o vejo no chão.
Eu corri até o José, a cabeça dele estava sangrando muito, ele me empurrou um segundo antes de o carro o atingir, e eu era para estar junto com ele naquele chão, não somente com alguns arranhões.
Um homem desceu do carro que bateu nele e se agachou perto do José, o rosto dele era de pânico, e ele estava fedendo a bebida alcoólica.
- O que eu faço? - Ele me olhou quase chorando.
- Liga para a ambulância - Eu falei - por favor.
Olhei para o Marcos, ele se arrastava até onde eu e o José estávamos, levantei um pouco a cabeça do José e a coloquei no meu colo, minha mão estava cheia do sangue dele, mas eu não me importava, só me importava com ele naquele estado, por culpa minha, esse pensamento me fez chorar.
- É culpa minha Marcos - Eu disse quando ele se sentou do meu lado.
Eu chorava cada vez mais, ver ele desmaiado com a cabeça sangrando no meu colo era horrível.
Tudo que ele queria era ser feliz comigo e com os amigos, e estávamos felizes apesar de tudo, mas eu como sempre tenho que estragar tudo, ele estava ali por minha culpa, ele não estaria bêbado se não fosse por mim, ele poderia morrer e eh carregaria essa culpa pelo resto da minha vida.
- Ele não pode morrer Marcos - Eu chorava, mal conseguindo falar.
- Shii - Marcos me abraçou - ele vai ficar bem, nós precisamos dele, e ele é forte.
Marcos colocou sua outra mão no peito do José e eu vi que ele também estava chorando.
- Aguenta amigo - Ele disse - por favor.
- A ambulância está vindo - O homem que o atropelou disse - me diz que ele ficará bem, por favor - O homem começou a andar de um lado para o outro.
- Eu... Não sei - O respondi - foi culpa minha.
Lembrei de uns dos últimos momentos do José comigo e de como eu tinha sido estúpida, escrevi uma maldita carta para ele e entreguei, eu sabia que ele estava chorando e eu burra não abrir a porta.
Se eu tivesse abrido aquela porta talvez tinha sido tudo diferente, a eu não tivesse obedecido a Marina, tudo seria diferente.
- Não me deixe José - Eu súplicava, mesmo sabendo que ele não me escutava - me perdoa por favor, eu te amo José.
- Bianca - Marcos me encarou - não foi culpa sua.
Escutei sirenes de ambulância e de polícia vindo, o homem que nos atropelou esperava andando de um lado para o outro, ele escutou o barulho também e me olhou preocupado, e eu vi que ele estava com medo de ser preso.
As pessoas que trabalhavam na ambulância desceu rapidamente e tirou o José do meu colo cuidadosamente.
- Entram na ambulância - Um homem disse - vocês também se acidentaram.
- Eu não consigo andar - Marcos disse - minha perna está cortada e estou tonto.
- Vou pegar a outra maca - O homem disse e voltou para a ambulância.
Os polícias estavam fazendo o teste do bafometro no homem, levantei e fui até lá.
- Ele o atropelou e dirigiu bêbado sim - Eu disse - mas ele prestou o socorro, da um desconto pra ele.
- Você foi vítima? - O policial perguntou.
- Meu melhor amigo me empurrou para fora do alcance do carro - Respondi ainda chorando - ele está iconciente.
- Obrigado, agora vá para o hospital - O policial ordenou.
Dois homens mexiam no José e faziam um curativo na cabeça dele. E uma mulher estava vendo o machucado na perna do Marcos.
- Ele está dando um ataque cardíaco - Um dos homens que cuidava do José disse.
Eles correram e pegaram uma máquina e colocaram no peito do José, deu um choque no José que pulou da maca e caiu nela de novo.
Não conseguia ver aquela cena, virei meu rosto e chorei mais, sentir alguém pegando na minha mão e vi que era o Marcos.
Deram outro choque  no José e o coração dele voltou a bater no momento exato em que chegamos no hospital.
Os paramédicos abriram a porta porta e desceram o José e o Marcos.
Uma mulher me ajudou a andar, entramos no hospital. Os paramédicos levaram o José e o Marcos para a ala de emergência e a moça me levou até uma sala para fazer curativos em mim.
- Você se machucou ou bateu em algo? - A mulher me perguntava quando fazia curativos em mim.
- Não - Eu respondi - meu amigo me empurrou.
- Ele não era só um amigo né? - A enfermeira perguntou.
- Não.
Ela terminou de fazer o curativo em mim e eu fui para a sala de espera. Tinha nos levado para o UPA, Marcos ainda estava sendo atendido, teria que ligar para a mãe do José sozinha.
Peguei meu celular e disquei o número dela, em três chamadas ela atendeu.
- Bianca minha linda - Era como ela sempre me chamava e eu comecei a chorar - o que aconteceu?
- Tia... - Tentei responder mais o choro impedia - o José...
- O que aconteceu? - Pela voz dela ela parecia desesperada.
- Estamos no UPA - Eu consegui fala - fomos atropelados.
- Estou indo para ir agora - Ela falou e desligou o celular.
Vi o Marcos no fim do corredor, ele estava com uma faixa da canela até o joelho, ele me olhou e sorriu.
Corri até ele e o abracei, senti ele chorando no meu ombro e eu chorei no dele.
- É culpa minha Bianca - Marcos falou em meio ao choro - se ele morrer é culpa minha.
- Não é Marcos - Eu falei - não é culpa sua.
- É  sim - Ele me soltou e olhou nos meus olhos - ele ter sido atropelado é culpa minha, se eu não tivesse cortado a perna ele não teria ido me levar em casa. Eu não vou me perdoar - Ele deu um murro na parede.
- Meu filho - A mãe do José faliu atrás de mim - não é culpa sua, José teria ajudado se fosse qualquer pessoa, não se culpe.
- Tia - Eu disse e a abracei e ela retribui o abraço e beijou minha testa.
Ela me soltou e foi abraçar o Marcos que chorava incosoladamente em seu ombro.
- Desculpas tia - Ele falava - ele não pode morrer.
- Ele não vai, ele é forte - Ela falou - e não é culpa sua. Agora vou na recepção, vou transferir ele para o hospital Dom Orione.
Ela saiu e eu vi o Dennis,  irmão do José chegando, ele sorriu timidamente para mim e sentou no banco  de espera.
Peguei meu celular do bolso e disquei no número do meu pai.
- Que foi filha? - Ele perguntou quando atendeu.
- Nós sofremos um acidente pai... - Expliquei - eu estou bem, mas o José não, ele está sendo transferido para o Dom Orione, vou com a mãe dele para lá.
- Se acalma filha - Ele disse - estou indo para lá.
A mãe do José chegou e me levou até seu carro e fomos para o outro hospital, a ambulância onde o José está vai a nossa frente.
Me doía de ver a ambulância na nossa frente e imaginar ele lá, iconciente, ele já deu uma parada cardíaca, e se ele morresse eu não iria conseguir ir adiante sozinha, era ele que me dava força para lutar contra a Marina, ele que me fazia acordar sorrindo e sempre olhava meu celular ao acorda e estava lá uma mensagem dele dizendo bom dia e falando que me amava, se eu acordasse sem essa mensagem agora, eu não iria conseguir me perdoar nunca, eu não me perdoaria por não ter dito que o amava mais uma vez.
Eu só queria ter voltado no tempo e ter dito que ele era importante para mim.
Uma parte de mim estava confiante dizendo que ele sobreviveria, e eu estava tentando com todas as minhas forças acreditar nessa parte.

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