Depois de me dar banho, mamãe tirou os curativos dos meus ferimentos, como fazia todos os dias, e me enrolou com um coberto. Fiquei sentada em um banquinho no quintal, observando atentamente a grama crescer. Os analgésicos super fortes me deixavam idiotizada e serena. Esse ritual também servia para eu tomar um pouco de ar nos cortes.
só que o médico nos alertou que a exposição direta a luz solar era rigorosamente verboten, então, mesmo com a possibilidade mínima de alguém na Irlanda ser exposto ao sol em abril, eu usava um chapéu ridículo com abas imensas, acessórios que mamãe usará no casamento de Claire, minha irmã. A sorte e que não havia ninguém por perto para me ver. (nota pessoal: perguntas filosóficas do tipo "Se uma árvore cair na floresta e não há ninguém lá para ouvir o barulho, pode-se dizer que ela emitiu algum som? " e " se alguém usa um chapéu de casamento perfeitamente idiota, mas não há ninguém la para ver, pode ser dizer que ele é idiota?".)
O céu estava azul, o dia razoavelmente quente e tudo me pareceu agradável. Ouvi Helen tossindo sem parar em algum quarto do andar de cima e observei, com ar sonhador, as lindas flores que balançaram na brisa para a direita e depois para a esquerda... Havia narcisos tardios, tulipas e outras florzinha cor de rosa cujos nomes eu desconhecia. O engraçado, eu lembrei, quase como se flutuasse no ar, e que nos costumávamos ter um jardim horroroso, o mais feio da rua, talvez de toda Black Rock. Durante muitos anos o nosso quintal foi simplesmente um depósito de bicicletas enferrujadas (as nossas) garrafas vazias de Johnny Walker (também nossas), e isso exatamente porque, ao contrário de outras famílias mais decentes e trabalhadoras, tínhamos um jardineiro particular. Era Michael, um velho enrugado e de péssimo humor que não fazia nada, além de empatar o tempo da minha mãe. Ela ficava parada no frio ouvindo-o explicar por que não podia corta a grama ( "os germes penetram pela ponta cortada, se instalam lá dentro e a grama morre todinha."); ou por que não podia aparar os arbustos ( "A parede da casa precisa deles para servir de apoio, dona."). Em vez de mandá-lo ir catar coquinho, mamãe lhe comprava os biscoitos mais caros que encontrava e papai aparava a grama do meio da noite, para não ter de enfrenta-lo. Mas então papai se aposentou e encontrou a desculpa perfeita para se livrar de Michael. O velho não gostou nem um pouco e, em meio a pragas sobre amadores que destruíram todo o jardim em minutos, foi embora muito indignado e arrumou um emprego na casa dos O Mahoney, onde cobriu nossa família de vergonha ao conta a Sra. O Mahoney que uma vez ele vira mamãe secando um pé de alface com um pano de prato nojento. Deixem para lá; o fato e que ele se foi e as flores, por mérito de papai, estão muito mais bonita agora. A minha única reclamação e que a qualidade dos biscoitos na casa caiu drasticamente desde que Michael partiu. Mas não se pode ter tudo na vida, e essa percepção desencadeou pensamentos complemente diferentes. Foi só quando as lágrima salgadas escorreram pelas minhas feridas e eu senti fisgadas de dor que descobri que estava chorando.
Queria volta para Nova York. Nos últimos dias eu andava pensando muito sobre isso. Não apenas pensando, como também me agarrando a uma poderosa compulsão de sair, incapaz de compreender por que já não o fizera antes. O problema e que mamãe e o resto da família iriam ficar loucos quando eu lhes dissesse isso. Já podia ouvir seus argumentos"eu devia ficar em Dublin, pois e onde estava minhas raízes, onde fui amada e onde poderia ' tomar contar' de mim".
só que a versão da minha família de "tomar conta" não é como a de outras normaizinhas. Aqui em casa, todos acham que a solução para todos os problemas e comer chocolate.
Ao pensar no quanto eles iriam protestar, reclamar e espernear, senti outro ataque de pânico eu tinha de volta para Nova York.
Precisava volta para meu emprego. Precisava rever meus amigos. Além do mais(embora eu não pudesse contar isso para ninguém, pois me mandaria para o hospício), eu precisava volta para Aidan.