PROLOGO

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É por volta das quatro da manhã. Esse é o horário que os homens de bem e as moças de família estão dormindo. Eles acordariam, provavelmente, às seis. Tomariam o café da manhã assistindo o noticiário e dirigiriam até o trabalho em algum carro com aromatizante e cintos de segurança. 

Nós acordaríamos depois do meio dia de ressaca. Nós somos o que eles chamam de escória e, em seguida, de mau exemplo. Futuros limpadores de privada. Seríamos os empregados que encerariam seus carros. Teria sempre alguém que esfregasse o chão. E eles se sentiriam felizes por isso. 

Gostam de usar gravatas. Gostam de andar alinhados. Nós, escórias, não ligamos. Quando se está chapado, você não liga pra nada. Você consegue sentir a vibração de uma guitarra na sua mente. Vê ondas sonoras colorindo o ar. Até mesmo sente a fumaça densa do cigarro, como se evaporasse pelos seus poros. 

Quem se importa com gravatas, bons salários, tevês de última geração e carros encerados?  

Viver, viver: eu é que não quero morrer por nada.

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