Trilhas

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O Will está demorando, já faz cerca de quinze minutos que se foi, o posto policial nem fica tão longe assim. Nunca iriamos negar ajuda a niguém, mas se isso pode acabar colocando nossas em risco, deve ser algo a se pensar.

Sobre o lago havia-se criado uma neblina, isso só deixava o ambiente mais macabro do que já estava. Conforme o vento dançava por entre as árvores, sons arrepiantes circulavam entre nossos corpos. Os faróis do carro estavam acesos, precisávamos deixar o ambiente claro, isso ajudaria a diminuir os medo nas meninas, meu irmão Josh está tentando conseguir sinal com seu celular, andava feito um louco de um lado ao outro do acampamento.

- Algum sinal?

- Nada, nem um pauzinho...Eu acho que deveria ir até a estrada lá deve ter...

- Nem sonhe Josh - a Alicia o advertiu - já basta o Will que foi, e ainda não voltou, não não não, nem pense em sair daqui.

- Que saco, um ano planejando essa droga de viagem, e acontecesse isso.

Agnes ouvia toda discussão do banco do carro, estava com seu casaco lilás, braços cruzados, e um olhar perdido no horizonte, ela tem andando muito sinistra desde que acordou de seu sono de dez horas a fio. Até entendo , Agnes é muito aplicada, passa noites e noites acordada estudando. 

Vou até minha mochila, pego uma lanterna que trouxe e ligo-a:

- Nem pense em sair daqui Rod! - Alicia aponta pra mim.

- Calma , vou só ajudar na iluminação.

Ela está super estressada, Will é como um irmão para ela. Ela não para de andar pra lá e pra cá, mas seu olhar não sai da pequena trilha que leva até a rodovia. Sinto meu coração sendo esmagado pela apreensão e pelo medo. Nunca passei por nenhum situação parecida, e estar assim na cena de um possível crime e muito tenso.

Alicia começa a esfregar seu rosto, o sono já está caindo sobre ela, mas pelo visto se recusa a dormir enquanto Will não volta. Pra dizer a verdade, estamos todos muito cansados, viajar em um carro apertado por dez fuckin horas não é para qualquer um. Não aguento mais me manter em pé, vou até um tronco de madeira que está perto do carro e sento-me. Vejo Agnes pelo retrovisor, posso perceber sua respiração acelerada e um leve suor escorrendo pelo seu rosto, algo não está certo, preciso falar com ela.

Levanto-me , sacudo o pó do tronco de árvore que pode ter ficado em meus shorts e caminha em sua direção.

Ouço um grito.

Todos nos olhamos, alguns segundos de silêncio, ele se repete, parece ser uma frase, mas quem está dizendo está muito longe para que ela seja compreendida, ouvimos novamente, consigo ouvir algo que parece ser "argo", não posso afirmar com certeza. Ouvimos um barulho vindo da trilha que dá acesso a rodovia, "carro", é a voz do Will, tenho certeza, " PARA O CARRO", ouço com nitidez desta vez, posso ver sua silhueta no pouco de luz que há na trilha, "ENTREM NO CARRO", ele acena em direção ao veículo com a mão. Não temos outra opção. Corro em direção ao Toyota em entro no banco traseiro, segundos depois Josh entra pela frente se senta no banco do motorista, e deixo a porta aberta para que  Alicia e Will possam entrar.

Alguns segundos depois, Will aparece ao lado da porta montado em uma bicicleta, ela a joga no chão, entra e fecha com força a porta.

- Se abaixem ... desliga o carro Josh.

O obedecemos, meu coração está a ponto de explodir, estávamos todos apertados no chão do carro. O Will estava tremendo, a todo momento ele coloca o dedo indicador em seus lábios exigindo silêncio, e com isso podia ver sua mão tremer. Não ouvi nada de anormal. Apenas o som do vento que escapava pelas brechas dos vidros do carro, e ao longe o som da água do lago se movimentando conforme o vento.

- Will - Josh cochichou até que ouvimos.

Não há som na terra que se iguale a aquele, a cada nota que aquilo emitia, podia sentir cada parte do corpo tremer, cada emissão sonora era em uma tom diferente, até que, o mesmo som que foi emitido na floresta mais cedo, foi novamente soado.

Não conseguia me mexer nem  que pudesse, todo meu corpo estava paralisado. Não conseguia ver o que estava fazendo aquilo, levantar minha cabeça poderia colocar a vida de todos em risco. Consegui levantá-la um pouco, mas o máximo que pude ver foi o topo das árvores e o céu estrelado.

Estávamos na mesmo posição a mais de cinco minutos, poderia ser bem menos, mas o medo em minha alma era capaz de transformar segundos em horas.

Pude ouvir um som ao fundo, diferente da coisa que estava cercando o carro.

Era o som de uma viatura, possivelmente duas, "estamos salvos" pensei comigo mesmo. Mas não, as viaturas passaram direto por nós, porém seja lá o que for que estava nos cercando parou de gemer seus sons, pude ouvir ela indo em direção a rodovia, o som que ela emitia ao correr, se assemelhava a um urso, esses que a gente vê na TV.

Minutos de silêncio, não sabíamos se era seguro se levantar, mas preferimos não arriscas.

Tiros. 

Mais tiros.

Nos levantamos lentamente, minhas costas já estavam doendo de ficar naquela posição, o lápis de olho de Alicia estava agora espalhado por seu rosto, com certeza ela chorou, o medo foi tão grande que acabou acionando suas lágrimas, que acredita, são bem difíceis de serem vistas.

Josh esfregou suas mãos no rosto novamente. 

- O que merda foi isso? - Alicia perguntava enquanto batia na coxa com raiva.

- Will... Will o que foi isso? - Agnes perguntou.

Will estava em choque, seu corpo tremia, ele tentava falar, mas pelo visto não tinha controle total sobre sua boca naquele momento.

- V-v-v-amos e-embor-a-a - Ele disse com dificuldade.

Josh ligou o carro, foda-se as barracas, precisamos dar o fora daqui.

Essa com certeza foi a noite mais tensa pela qual passe em toda minha vida. Mal sabia eu que ela estava somente começando.

ÁREA 52Onde histórias criam vida. Descubra agora