Capítulo sete

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E vamos lá!!


Camila era a última pessoa que eu queria ver hoje. Na verdade eu não queria ver ninguém. Ficamos nos encarando por um longo tempo, até ela desviar o olhar e descer ele para minha perna. Travei na hora que ela começou a encarar, tinha esquecido que estava sem prótese, já que eu achei que era só a minha mãe na porta. Não sabia se eu ia colocar o prótese, ou se fechava a porta na cara dela. Realmente eu não sabia o que fazer.

- Por quê você sumiu?

Sai do meu transe quando ouvi a voz calma de Camila. Levantei a cabeça e olhei para ela, que me encarava intensamente.

- Eu não sumi, só estava andando por ai. 

Respondi e me virei para ir para dentro do quarto. Deixei minha muleta do lado da cama e me sentei. Camila continuou parada na porta.

- Eu fiquei preocupada com você.

- Ficou porque quis.

Respondi um pouco rude. Eu sabia que ela não merecia isso, mas eu estava na defensiva. Tinha muita coisa na minha cabeça e o medo de que Camila se afasta-se de mim, era uma delas. 

- Por quê você está me tratando assim?

Camila entrou no quarto, fechando a porta logo em seguida. Percebi que ela tentava se controlar para não se alterar. 

- Assim como? Estou te tratando normal. 

- Não, você não está! Você olhou para todo mundo quando chegou, deu até um sorrisinho. Mas quando você passou por mim, você passou reto, nem olhou pra minha cara. Agora tá ai, toda grossa pro meu lado.

Fechei os olhos e respirei fundo, apoiando meus cotovelos nas pernas e tapando o rosto com as mãos. Camila parecia magoada com as minhas atitudes e eu nem sabia porque estava tratando ela assim. Ela me defendeu, ficou preocupada comigo, veio até a minha casa e eu estou lhe tratando mal. Me senti péssima por isso.

- Me desculpa... É que... Estava com medo. -- Falei baixinho, com vergonha de olhar para ela.

- Não tem motivo pra você ficar com medo, Lauren. -- Senti Camila chegando perto de mim. Tirei minhas mãos do rosto e levantei a cabeça.

- Claro que tem! Tudo que aconteceu hoje, tudo o que o Lucas falou, eu... Eu não sabia como você iria reagir, achei que você me trataria diferente... Sei lá. Só fiquei com medo.

- Você acha que só porque eu descobri que você "não tem uma perna"... -- Fez aspas com os dedos. - ...Eu te trataria diferente? -- Assenti  com a cabeça, fazendo ela suspirar e negar com a cabeça. - Por quê achou isso?

- Porque todos fazem isso.

Ela ficou me encarando por alguns segundos, até eu desviar meu olhar do dela. Percebi ela se ajoelhar à minha frente e logo em seguida, segurar meu maxilar, fazendo-me olhar para ela.

- Você acha que eu sou como os outros, uh? Acha que eu faria isso com você? -- Tentei abaixar minha cabeça de novo, mas ela segurou meu maxilar, não com muita força, mas o suficiente para que eu não abaixa-se. - Você acha que Vero, ou as suas outras amigas fariam isso com você? Você acha que elas também são iguais aos outros?

Não consegui responder ela, meus olhos já começava a lacrimejar e a vontade de chorar era imensa. 

- Eu nunca faria isso com você, Lo. Nunca te trataria diferente, até porque para mim, você não é diferente. Na verdade você é sim... -- Me encolhi um pouco na cama quando ela disse que eu era diferente, fazendo ela arregalar os olhos. - ... Não, não desse jeito ruim que os outros idiotas acham. Mas sim de outro jeito.

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