-Ela disse isso? -Jonny pergunta, com um sorriso largo, enquanto dirige.
-Sim, e eu fiquei me sentindo péssimo. -Falei. -Quer dizer, ela disse que tenho talento. Eu nem sabia que ela tinha me visto tocar, e ela disse que assistiu a um show meu... É tipo... Puxa!
-E, mesmo sua maior musa te pedindo pra continuar, você vai desistir? -Jonny para, e segura meus ombros, me encarando, sério.
-É o melhor a se fazer. -Digo, meio amargo. -Não tenho mais fichas!
-Não, não é! Você sabe que não é o melhor a se fazer. -Ele cruza os braços, ainda com um olhar sério.
-O que espera que eu faça? -Pergunto, levemente irritado. -Que eu consiga outras fichas para eles rasgarem? Que eu consiga outras chances para eles destruírem? Sonhar em vão não é o que quero pra minha vida.
Bufo e começo a caminhar, apenas em um ritmo baixo para que ele me acompanhe de perto. Não queria ficar longe do meu melhor amigo, mas era frustrante essa conversa. Ele sabia que eu era cem por cento dependente de Otto, e Otto era justamente o motivo da minha infelicidade e dos meus planos frustrados.
Eu não queria mais insistir nesse assunto sem sentido.
-Você vai fazer dezoito daqui a algumas semanas, sabe, não é tão ruim assim! -Jonny me acompanha, enquanto seguimos para a área externa da escola, ainda estava cedo e teríamos mais dois tempos de aula.
-Mas não vou me livrar deles! -Digo. -Então, para uma vida feliz, eu vou ter que abrir mão disso...
-Eu não vou deixar. -Ele diz sorrindo. Eu paro ao notar que ele estava sorrindo. Um sorriso diabólico.
-Você é louco! -Murmuro.
-Ahn! Ahn! Ele levanta uma mão, e faz a postura séria. Mas abaixa a mão e seu sorriso aparece novamente. Era um sorriso malicioso. -Sou seu Elfo Padrinho, Cinder Elliot.
-Elliot Cider, por favor. -Peço, mas rio.
-Como quiser, Cinder Elliot.
Continuamos caminhando e rindo, quando o sinal toca. Todos os alunos seguem ordenados para as salas.
Depois da aula, me despedi de Jonny, e decidi voltar para casa.
A vida, ao que parece, voltou ao normal.
Otto me viu, e, de imediato me tratou com frieza e indiferença; Otanael e Otávio voltaram a infernizar minha vida; Afonso continuava a suportar os três por minha causa, e Jonny, quando nos falamos ao telefone à noite, pediu para que eu tomasse uma atitude e saísse daquele lugar para nunca mais voltar.
A verdade é que não era tão fácil. Otto era meu responsável legal, pelas próximas semanas, e eu tinha que me submeter a essa vida infeliz de "gato borralheiro". E se eu saísse, para onde iria? Morar de favor na casa do Jonny? Viver sem estrutura alguma? Não. Eu tinha que aguentar. Algo dentro de mim me pedia força. E eu precisava ser forte!
Mais uma semana se passou. Era, enfim, o dia que sorteariam os dez nomes, na escola. Não teve aula, e eu não falava com Jonny desde ontem de manhã. Ele, simplesmente sumiu! Mandei mensagens, telefonei, mas ele não deu retorno para nada.
E, ao contrário, meus irmãos estavam mais que bem aparecidos! Decido mandar-lhe uma mensagem.
Era manhã, e eles estavam em uma correria.
-Elliot, seu incompetente! -Otávio resmunga, me fazendo tirar os olhos do aparelho. -Onde está minha fantasia de Bombeiro?
-Deve estar em uma das caixas do depósito? -Dou de ombros, e volto a encarar meu celula.
-Elliot, a minha fantasia de Homem-Aranha. Está aonde? -Otanael pergunta.
-Onde a fantasia de Bombeiro está?! -Tento soar óbvio.
-Vá pegar! -Eles mandam.
-Sabe, procurar não ia matar vocês. -Resmungo. Eles ignoram.
Suspiro e reviro os olhos, indo até meu quarto, procurar em uma das caixas. Revirei algumas, com muita preguiça, e as deixei no lugar.
-Pensei que estivessem por aqui... -Murmuro. -Eu as deixei aqui? Ou foi ali?
-Elliot! -O som da voz de Otto ecoa pelo recinto.
-Sim? -Respondo, me pondo de pé.
Otto, já bem vestido, ponto para ir para a empresa, entra no quarto e analisa as caixas, antes de começar a falar.
-Ahn, -Ele começa. -Estava pensando que fui um pouco... rígido demais com você naquele dia, e, como prova da minha benevolência, eu te autorizo a ir hoje, com os garotos, até a festa da escola.
Ele nem me olha ao dizer aquilo. Estava preocupado com seu celular.
-Obrigado. -Digo ironicamente.
-Por nada. -Ele dá de ombros, não entendendo minha ironia. -Ah, propósito tem fantasia? Poderia usar a dos meninos, estou pensando em leva-los para comprar novas e...
-Otto. -O interrompo. -Não se preocupe, eu não vou. -Digo rispidamente.
Ele arqueia as sobrancelhas, surpreso, mas não menos feliz.
-Ah, é mesmo? -Ele pergunta, e respondo com um balanço de cabeça. -Poderia me dizer o motivo?
-Nada demais. Só... já era. -Dou de ombros.
-Ah, é mesmo? -Ele cruza os braços, e tenta esconder seu sorriso, atrás da postura vitoriosa.
-Não vai mais querer tocar? -Ele arqueia a sobrancelha.
-Não. Não vou. -Digo.
Inflo o peito, querendo soar confiante e intimidador. Otto me olha, com a sobrancelha arqueada, ainda relutante e duvidoso, mas acaba por dar de ombros.
-Ah, nesse caso eu estou indo. -Ele abre a porta. -Até mais tarde.
-Até. -Digo, sem muita emoção.
Volto a empilhar as caixas e ouço as vozes esganiçadas deles, contentes com a surpresa do pai. Ouço a porta da frente bater e sei que eles já se foram. Ainda bem!
Desço e procuro por Afonso, mas ele também sumiu.
Volto pro quarto, pego o telefone e não há mensagens de Jonny.
-Maravilha! -Resmungo.
Jogo o celular na cama e vejo o violão ao lado do criado mudo, com a minha camisa em cima. Eu não posso parar de sonha! Algo dentro de mim grita. Não posso desistir!
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Cinder Elliot (Cinderela EM1)
FantasyElliot Cider, vamos dizer, não era lá a pessoa mais sortuda do mundo. Perdeu o pai novo, o que fez com que sua mãe se casasse, escolhendo um homem rude e pai de dois garotos esnobes. Quando a mãe de Elliot morreu, seu padrasto mostrou ser um homem...