Não sei se sou muito corajoso, ou só muito burro. A questão é que não sei se estou pronto pra falar com a Júlia, todo esse tempo só admirando de longe. Sendo algo que eu não podia ter. Com o Cellbit eu pude realmente conhecê-la, não era mais a "Júlia crush-não-tão-secreta" ela era a Júlia minha amiga, a que rir das minhas piadas mais horríveis, a que conhece meu lado vulnerável e ainda assim, continua ali pra mim. Quando nos beijamos a primeira vez foi algo mágico. Clichê, eu sei. Dizem que beijar a pessoa que você gosta é como fogos de artifício. Eu sequer gosto de fogos de artifício, são só barulhentos e brilhantes demais. Beijar Júlia foi como flutuar, foi como voltar pra casa depois de muito tempo. Não acho que eu possa continuar com isso. Júlia tem que ser minha. Quero beija-la sem temer as consequências, quero poder estar com ela em momentos difíceis e fazer ela rir. Quero que ela dê pra mim o mesmo sorriso que dá pra sua família e pra Olivia. O sorriso que apelidei como "Sorriso de pessoas especiais" é aquele sorriso que ela só usa com quem ama. Júlia é especial. E se tudo der certo, ela será minha.
Depois de um banho relaxante e horas no espelho me preparando com discursos que no minuto seguinte eu esquecia, passei um pouco mais de perfume pela terceira vez aquela noite. Queria estar preparado. Ouvi uma buzina de carro e corri pra descer as escadas. Dei um beijo na testa da minha mãe que estava com um balde de pipoca no colo assistindo uma de suas tão amadas novelas mexicanas e fechei a porta, entrei no banco de trás do Chevrolet do Felps e passei o cinto pela minha cintura com as minhas mãos suando, eu estava tremendo.
– Cara, vai dá tudo certo. – Guaxinim sorriu pra mim, o que saiu mais como uma careta já que ele estava tão nervoso senão mais do que eu. Não me pergunte o porquê dele estar tão ansioso assim. Eu não saberia responder.
– Onde vai ser essa festa mesmo? – Eu não tinha decorado o local, os meninos disseram que se viravam com isso.
– No meio do nada, um pouco mais a esquerda. – Felps riu.
– Estamos usando o GPS Rafa. – Gabs me respondeu.
– Certo. – enxuguei minhas mãos na minha calça jeans pelo que parecia ser a quinta vez.
Depois de vinte minutos chegamos em um lugar que parecia com um galpão abandonado, o lugar era enorme e de aparência decadente.
– Estamos no lugar certo? – Calango perguntou assustado.
– Dizem que por dentro é melhor. – dei de ombros e fui pra fila.
Sim, fila. O pessoal da Decode eram super organizados com seus shows. Vendiam ingressos pro pessoal da escola e eles esgotavam em menos de 15 minutos.
Entreguei meu ticket pro cara que deveria ser o segurança do local e entrei. Por dentro, era realmente melhor. Com mesas espalhadas em todo o espaço. Um palco mais a frente. Um bar a direita e luzes roxas que deixavam o local mais apropriado pra um show.
Vi Olivia acenando de uma mesa para gente. Sorri e fui até lá com o pessoal me seguindo. Todos já estavam lá, já que fomos os últimos a chegar. Antes de me sentar dei uma boa olhada na Júlia que conversava animadamente com o irmão.
Ela usava uma calça de couro preta e um moletom cinza com uma estampa engraçada. Mas o que mais me prendeu a atenção foram os seus tênis. Não me pergunte porquê. Já que eram apenas tênis com estampa de super-heróis.
– A Victória não para de olhar pra aqui. – Maethe suspirou.
– Aposto que ela se tocou que me ama. – Esse foi o Guaxinim, é claro.
– Ela tá precisando é levar uns tapas. – Sayu riu.
– Não conta comigo. – Gabs deu de ombros. – Como agressora, sou ótima fugitiva.
A mesa inteira riu.
– Aquela menina tá te encarando a uma meia hora Calango! – Olivia apontou pra garota ruiva do outro lado do galpão. – Por que não vai lá falar com ela?
– Porque tenho preguiça de correr atrás de quem eu quero, imagina do resto. – ele disse nos fazendo rir. Olivia recebeu uma mensagem no celular e chamou a Júlia pra ir no banheiro com ela.
– O que deu nela? – perguntei.
– Mulheres meu querido, mulheres. – Alex riu colocando a mão em meu ombro.
As luzes diminuíram deixando o local cada vez mais escuro e uma luz no centro do palco se acendeu.
A Decode subiu no palco fazendo a galera gritar. A vocalista usava uma máscara fofa de coelhinho. Eles começaram com covers de Artic Monkeys fazendo todo mundo cantar junto.
– Gente – Sayu chamou nossa atenção.
– Fala logo que essa é minha uma das minhas músicas favoritas. – Calango resmungou enquanto eles tocavam "R U MINE".
– Vocês não acham estranho a Olívia receber uma mensagem antes do show começar? – ela continuou ignorando totalmente o réptil.
– Acha que ela pode ser a cantora misteriosa? – Gabs perguntou com os olhos brilhando através das armações vermelha do óculos.
– Faz sentido. – PK concordou.
– Ela deve ter chamado a Júlia pra ajudar com o figurino. – Guaxinim disse com a mão no queixo.
– Se ela for a cantora mesmo, a Júlia saberia, são melhores amigas desde sempre! – Maethe falou.
– Oh Meus Deus. Desvendamos um mistério! – Gabs sorriu enquanto Alan revirava os olhos.
– Não somos a Misterio S.A. desistam. – eu tentei argumentar, mas eles não me deixaram continuar e começaram com teorias malucas que envolviam a Olívia ensaiar enquanto fingia pra todo mundo que estava na biblioteca.
Eles só pararam de falar, quando a própria Olivia voltou do banheiro e sentou ao lado do Alex.
– Porque estão me encarando assim? – ela ajeitou o cabelo.
– Você não deveria estar ali? – Calango apontou para o palco, onde a vocalista cantava perto do Rodrigo que fazia um solo de guitarra.
– Porque eu estaria ali? – ela inclinou a cabeça como um filhotinho.
– Só idiotas respondem perguntas com outras perguntas. – Guaxinim apontou.
– Achamos que você fosse a cantora misteriosa. – Gabs assumiu.
Olivia caiu na gargalhada, ela simplesmente explodiu em risos, com direito a rosto vermelho e olhos lacrimejantes.
– Vocês são hilários. – completou, com a mão na barriga.
– Se você não é ela, então...– Felps franziu o cenho. – Espera, cadê a Júlia?
– Foi a mãe dela que me mandou mensagem, ela queria saber se a Júlia poderia ir pra casa, ela ia sair e o André não poderia ficar sozinho já que tá doente. – Olivia explicou secando seus olhos. – A gente foi no banheiro pra tentar falar com a mãe dela e pedir pra ela ficar mais um pouco. Mas como podem ver ela não deixou.
Meus amigos concordaram e voltaram a prestar atenção no show.
Júlia tinha ido embora? Eu não conseguiria falar com ela hoje? Minha coragem estava indo para o ralo.
Até que a Decode começou a tocar minha música favorita. Olhei pra o palco para me distrair e vi algo que fez meu peito encher de esperança. Eu conhecia os tênis que a vocalista estava usando.
Hey stalkers!
Como estão? Eu iria pedir desculpas pela demora, mas resolvi agradecer por continuarem aqui, por não desistirem de stalker. Eu só estava um pouco ocupada. Obrigada pela paciência. EFELIZ UM ANO DE STALKER ❤
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Stalker || Cellbit
FanfictionJúlia passou a receber mensagens anônimas quando sua melhor amiga escreveu seu número no quadro de avisos da escola. Agora, ela tem que descobrir quem é e tentar não se apaixonar.