6. Júlia

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Acordei com o sol invadindo o meu quarto e fiz uma nota mental pra fechar as malditas cortinas quando for dormir. Fiquei vegetando na cama até o despertador tocar. Fui em direção ao banheiro e fiz minhas higiene matinais. Vesti uma calça jeans escura e uma regata preta com citações do Harry Potter. Amarrei uma blusa xadrez vermelha e preta na cintura e uma touca cinza na cabeça. Calcei meus tão desgastados vans pretos e desci as escadas.

- Bom dia família. - falei enquanto pegava duas maçãs na fruteira. Meus pais resmungaram algo incompreensível e eu voltei ao meu quarto pra pegar minha mochila.

Desconectei o celular do carregador e apanhei minha bolsa que estava jogada ao lado da escrivaninha. Bati na porta em frente ao meu quarto. Esperando meu irmão gêmeo-não-idêntico ter a decência de abrir a mesma. Ia bater mais uma vez quando ele abriu com a maior cara de sono e arrastando a mochila.

- Caiu da cama? - ele perguntou enquanto coçava os olhos.

- Não seja tão chato. - joguei uma das maçãs pra ele enquanto fechava a porta.

A escola ficava a duas quadras de casa então íamos andando. No caminho Alex já se animava e me contava piadas ruins que aprendeu com Felipe. Fomos falando sobre tudo. Alex era meu confidente.

Assim que chegamos na frente da escola, Alex beijou o topo da minha cabeça e foi atrás dos seus amigos. Encontrei Olivia e fomos ao meu armário pegar os livros.

- Seu irmão está cada vez mais gato. - disse enquanto encostava no armário ao lado suspirando me fazendo revirar os olhos.

- Qual é Olivia? - fechei o armário e ajeitei a mochila no ombro voltando a andar. - Por que não fala com ele?

- E-e-Eu? - gaguejou. - Não Júlia. Ele tem as garotas que quiser aos pés. Acha mesmo que iria reparar em mim?

- Claro que sim. - abri a porta da sala e joguei minha bolsa em uma cadeira dos fundos. - Você é linda!

E eu não estava mentindo. Olivia tinha olhos cor de mel e cabelos curtos platinados em um corte moderno. Tinha curvas agradáveis e um sorriso lindo.

- Fala isso por que é minha amiga. - ela revirou os olhos. Dei de ombros vendo a professora de história entrar na sala. Alex era da mesma série que eu só que em turmas diferentes. De todo o grupo só um amigo dele estudava na minha classe. Rafael. O dono de lindos olhos azuis e um cabelo incrivelmente loiro. Rafael era meu crush na terceira série. Mas ele nunca me deu bola então eu segui em frente.

A professora começou a passar assunto no quadro e eu me esforcei em escrever.

[...]

Assim que o sinal tocou eu corri pra o refeitório. Iria enfrentar aquela fila monstruosa enquanto Olivia estava na biblioteca. Minha barriga roncava alto e eu batia o pé impaciente. Assim que chegou minha vez eu peguei minha bandeja e fui atrás do Alex. Estava fugindo o dia todo de Vitória e seu grupinho. Sou o que eles chamam de "popular" mas não sou obrigada a passar o dia ouvindo garotas fúteis falando sobre a última cor de esmalte lançada. E além do mas Alex tinha pegado o meu caderno de anotações.

Encontrei ele em uma das últimas mesas e sorri. Mesmo Alex sendo um dos garotos mais populares da escola ele mantinha amizades com todos. Fui em sua direção e pude reconhecer alguns amigos dele.

- Hey Alex. - chamei vendo ele com um bigode de iogurte.

- Hey Ana! - ele sorriu e todos os olhares daquela mesa se direcionaram a mim.

- Quero o meu caderno de anotações. - apoiei minha bandeja na mesa e estendi a mão.

- Ele não tá comigo. - respondeu me fazendo revirar os olhos. Voltei a esticar a mão e ele coçou a nuca. - Bom. Eu tava pensando em contar aquilo pra os meus amigos.

- Você cheirou maconha? - me exaltei.

- Olha eu acho que ninguém cheira maconha. - interveio um dos amigos dele. Alan se eu não me engano.

- Só me entregue o bendito caderno Alex! - vi ele revirar os olhos e tirar o caderno grosso e cheio de post-its da mochila me entregando. Guardei na bolsa e dei as costas. Estava indo embora quando ouvi o Alex me chamar novamente.

- Senta com a gente, Ana! - ele sorriu. Voltei e me sentei na mesa junto com todos eles. Pude reparar em alguns olhares me encarando como se pudessem me fazer derreter.

Alex continuava falando com os garotos e as meninas a minha frente me encaravam com desdém.

- Então... - tentei puxar assunto.

- Não adianta. - Maethe me interrompeu. - Sabemos quem você é. Ana Júlia Ventura. Muito diferente do seu irmão. Sabemos que você não se relaciona com pessoas como a gente. Então faça o favor e volte pra o seu bando. - a mesa ficou em silêncio. Alex pigarreou e eu sabia que ele começaria a falar. Levantei minha mão o interrompendo do que quer que fosse e me exaltei.

- Quer saber? Eu achava tão linda a forma de que o Alex falava de vocês. Todos vocês. - respirei fundo. - Ele nunca me contou um defeito sequer. Mas olhando por esse lado. Vocês são tão podres quanto eles. - disse me referindo ao que ela nomeou meu bando. - São tão hipócritas que me faz querer vomitar. Você não é diferente deles Maethe. - ela arregalou os olhos. - Você não é melhor que eles. Já que só esperou eu sentar pra poder me atacar. - parei tentando me acalmar. - Eu acho tão lindo os poemas que você escreve na aula de filosofia. Gabs suas fotos são Incríveis. Alan e Felps vocês são hilários. PK, Calango e Guaxinim eu sei que foram vocês que colocaram LSD no café da professora Dóris. E Rafael - o encarei. - Seus desenhos são Incríveis. - sorri. - Mas é uma pena que sejam tão hipócritas assim. Não quero julgar todos. Longe disso. Mas pela forma que se calaram sei que pensam como ela. - peguei minha bandeja e me levantei. - Foi um prazer ver como vocês são de verdade. Agora que sei que vocês e eles dão na mesma. - dei as costas. - Acho que vou voltar a ficar com eles.

Stalker || CellbitOnde histórias criam vida. Descubra agora