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A Feiticeira

  As vestes de Cona, a feiticeira de quem os guidous falaram, arrastavam-se de forma elegante nas folhas secas da trilha. Sua expressão era séria, trajava um vestido de mangas boca de sino, longo, cor preta, onde batera nos pés, tapando os saltos acinzentados e finos. Desde os ombros, uma capa roxa descia em linha curva, deixando meio metro esticado no chão, os cabelos negros eram amarrados por um coque, os olhos eram verdes e a pele branca como giz. Uma beleza exótica, era o que todos diziam. Ela viera em sua carruagem até sentir uma vontade inóspita de caminhar, precisava de um momento apenas com a natureza, já estava cansada de ser bajulada por escravos e servos. Deu ordens para que as criaturas parassem e mandou-os ficarem parados até que ela retornasse.  

  Liz ainda estava de olhos fechados, debruçada na pedra, quando ouviu passos advindo da curva a sua frente. Escondeu-se rapidamente atrás da rocha e observou o que passara. Contemplou uma mulher alta, de roupas escuras e logo desvendou quem era. Cona, a feiticeira de quem Frank e Garu falaram. Seguiu-a com os olhos até a mesma desaparecer em meio à senda. Sentiu medo no começo, sabia que era um sonho, ela pensava, mas os contornos de Cona amedrontavam qualquer um. Sentou-se no chão atrás da pedra, não tirou os olhos da trilha e ao perceber que a feiticeira não voltaria tão cedo, suspirou e aliviou-se, observando as árvores ao seu redor.

  Cona continuava a seguir o caminho com o nariz empinado e as mãos soltas em volta do quadril. Chegou sem demoras à porta da árvore onde Liz ficara por cinco anos, abriu-a delicadamente e seguiu reto, transpassando o cômodo vazio e aprando-se abaixo do portal semicírculo, onde fitou, de olhos arregalados, a mesa de pedra fazia. Avistou Garu e Frank encolhidos no canto da sala, tremiam de medo, seus queixos chegavam a fazer ruídos e suas expressões apavorantes dava a entender do que a mulher era capaz.

  – Onde está a garota? – Indagou em um grito estridente.

  – Bem... Senhora, a garota... Ela está – Garu gaguejou dando curtos passos na direção de Cona. – Ela está...

  – Onde está a garota? – Ela gritou ainda mais auto. – Não me digam que a deixaram escapar? – A voz sagaz da feiticeira ecoou pelo cômodo.

  – Não foi bem assim... – Frank tomou a palavra enquanto juntava-se ao amigo. – Ela estava paradinha dentro do bloco de gelo, mas daí, ele derreteu e ela saiu correndo – concluiu a frase em voz rápida, o que não saiu nem um pouco claro.

  – Fale direito! – Berrou dando longos passos na direção das criaturas.

  – O gelo derreteu e ela fugiu, senhora! – Garu traduziu as palavras de Frank.

  – Vocês estão dizendo que Elizabeth fugiu? Impossível, ela estava em hibernação!

  – Era exatamente isso que estávamos tentando entender – o guardião exprimiu enleado.

  – Seus incompetentes! – Cona acelerou, deu mais dois passos e chegou à frente dos dois.

  Os guidous encolheram-se já temendo o que podia acontecer. A feiticeira segurou os dois pelo pescoço, Frank com a mão direita e Garu com a esquerda, levantou os anões no ar, de modo que ficassem face a face, encarou-os e viu suas cabeças verdes ficarem escuras. Por um segundo imaginaram que morreriam, mas em tais circunstâncias Cona precisaria deles, além do mais Liz estava no bosque, a mercê do pior pesadelo da feiticeira. Por fim, jogou-os no chão e gritou:

  – Achem a garota, viva ou morta!

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