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No Pico dos Lobos

  E quando menos esperavam, cinco lobos surgiram da floresta ao lado, rodeando-os como se fossem suas presas. Os olhares dos três se arregalaram, se não estivesse tão frio soariam como cavalos, o coração parecia querer saltar pela boca, os músculos se contraíram e a cabeça latejou. Estavam com medo. Espontaneamente, Ara retirou o punhal da bainha, Afonso colocou uma flecha no arco e Liz segurou a lança firmemente na direção de dois dos animais.

  – O que fazem em nossos domínios? ­– Um lobo de pelagem acinzentada proferiu em uma voz grave junto do rosnar medonho.

  – Não queremos brigar, estamos à procura... – Afonso pensou em dizer livro, porém assentiu que isso seria burrice. – À procura de comida!

  – Pois estão no lugar errado! – Outro animal mais claro retorquiu num tom de zombaria.

  Enquanto rosnavam e aproximavam-se cada vez mais, a única coisa que pensavam era atirar e matar todos aqueles logos num piscar de lhos, porém três contra cinco não é muito cabível numa situação como aquela. Em algum momento, só se ouviu os ruídos aterrorizantes da matilha, até se darem conta que os pelos grossos dos animais já raspavam em suas vestes. Como se nada pudesse piorar, um dos lobos saltou em cima de Ara, outro em cima de Afonso e outro em Liz, as meninas gritaram tão alto que pássaros voaram de seus ninhos na copa das árvores, o arqueiro gemeu espantado. E ainda que tentassem usar as armas já na conseguiam, estavam imóveis no chão, presos por lobos enormes, maiores que o comum.

  – Me solta! – Ara gritou num som agudo, o punhal voara para longe de sua mão e o animal jazia em cima da mesma impedindo qualquer movimento.

  – Saia de cima de mim seu saco de pulgas fudido – Afonso berrou enquanto mordia os lábios e tentava alcançar a flecha e o arco bem ao seu lado.

  Elizabeth não conseguiu dizer nada, sua ranseur rolara para longe de sua mão e o lobo rosnava como um cachorro raivento em cima da mesma.

  – Já chega! – Uma voz grossa ecoou na clareira onde estavam. Os lobos saltaram de cima dos três e andaram para perto de um rapaz erguido deslumbrantemente sobre uma rocha.

  Antes de ver o que acontecera, Ara e Liz correram até suas armas e empunharam-nas rapidamente, enquanto Afonso, um pouco desengonçado, tornou a segurar o arco com a flecha pronta para ser atirada. Levantaram-se juntos e fitaram com as armas em punho o que supostamente salvara suas vidas.

  – De nada humanos! – O homem bradou metidamente.

  – Quem é você? – Ara indagou ao olhá-lo.

  Estavam diante de um rapaz incrivelmente ufano, de olhos azuis, cabelos loiros, sem barba, robusto e musculoso. Trajava uma roupa velha, calças largas, camisa de mangas longas, calçava coturnos marrons e cobria-se com uma capa longa de pele de lobo. Na cabeça, ia uma toca junta do manto, era em formato de cabeça de lobo, na verdade era uma cabeça de lobo. Sem dúvidas era muito confortável. Ele parecia ter vinte anos e sua beleza incomum chamou a atenção de Ara e Liz.

  – Me chamo Elpros, Elpros Maxius! – Respondeu num tom esnobe.

  Ao bater os olhos no rapaz, Afonso sentiu uma vontade irresistível de acertar-lhe a seta, porém ele havia salvado-os e parecia ser uma ótima pessoa.

  – O que fazem em meus domínios? – Elpros indagou.

  – Viemos em busca de comida – Ara mentiu, pois sabia que a mochila de alimentos estava bem cheia, escondida na capa de Liz.

  – Pois aqui não há nada para vocês, voltem embora antes que virem comida de meus lobos – o rapaz retorquiu num sorriso malicioso.

  Os lobos ainda rosnavam ao lado do homem, suas patas permaneciam firmes em sinal de espera.

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