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O Estranho Bosque de Ogash

  Na certa, Elizabeth mal sabia do que Afonso havia contado, não entendera quase nada. O fogo continuava vivo quando a conversa despertou.

  – Sim, sou um Rebelde, mas não é um tipo de religião ou nada parecido, na verdade, sou um perdido no Bosque de Ogash – o homem respondeu enquanto fitava as labaredas incandescentes da fogueira.

  – Sabe, nesse meu sonho – tornou a bater na mesma tecla –, existem coisas e palavras que eu não conheço muito bem. Você não poderia me explicar um pouquinho sobre esse lugar? É que quando eu acordar, quero contar tudo para minha mãe, detalhe por detalhe!

  Afonso suspirou, cruzou as pernas em cima da almofada, passou a mão nos cabelos e respondeu educadamente:

  – Bom, já que insiste em saber o que é esse lugar – deu uma pausa –, para contar tudo à sua mãe quando "acordar", é justo que eu te explique um pouco sobre tudo isso que você está vivendo. Não é?

  – Certamente! – Ela respondeu enquanto amarrava os longos cabelos em um coque.

  – Há alguns anos atrás, eu cheguei nesse bosque, apenas vestindo a roupa do corpo...

  – Quantos anos atrás? – Liz o interrompeu.

  – Uns dez anos, eu acho, não me lembro bem... Mas então, como eu ia dizendo, cheguei a Ogash de mãos abanando, sem absolutamente nada. Certamente eu não tinha chances de sobreviver, pois na época, eu tinha uns oito anos, ou até menos. Algumas coisas fogem de minha memória, mas se eu não me engano, eu morava em uma vila bem grande. Eu tinha amigos e amigas, pai e mãe, irmãos e irmãs, brincava todos os dias, de manhã até a noite, corria dentro das matas, entre as plantações e sob os prados. Lembro-me vagamente quando vim pra cá, acho que estavam eu e meu amigo e minha irmã jogando bola, só que aí... – Afonso pensou, havia se esquecido de muitas coisas. – Só que aí... Aí... Ah lembrei! Eu dei um chutão na bola e ela voou para dentro da mata... Adentrei sozinho a floresta para procurá-la, andei lentamente sob a vegetação rasteira, foi quando vi a bola toda desfiada embaixo de uma árvore. Uma árvore de tronco grosso e raízes expostas – Liz ouvia a história de Afonso de orelhas em pé, lembrou-se rapidamente das histórias de sua mãe e voltou a escutar. – A bola estava entre uma dessas raízes, apoiei um braço no madeiro e agachei para pegar a bola, mas antes deu tocar o brinquedo, uma tontura me dominou e eu desmaiei, do nada, não deu tempo nem de pensar!

  Tomou fôlego e antes que voltasse a contar a história Elizabeth o interrompeu:

  – Também desmaiou diante de uma árvore?

  – Sim – ele respondeu não compreendendo a pergunta da menina. – Por quê?

  – Eu estava procurando minha mãe – Liz começou –, andei praticamente o vilarejo todo a procura dela. Depois, vi um vulto correr para dentro da mata – ela ainda não esquecera de nada. – Disparei atrás dele, pisei em espinhos, arranhei meus braços, mas daí sem que eu percebesse, colidi brutamente com uma árvore, depois só ouvi minha mãe gritar e desmaiei.

  – Acha que isso pode ter ligação? – O arqueiro perguntou.

  – Bom, se tiver, pouco me importa, daqui a pouco estou acordando e não quero preocupações para minha linda cabecinha – respondeu seca.

  – Ah Elizabeth...

  – Pode me chamar de Liz – o interrompeu novamente. Uma coisa que ela não aprendera com a mãe era esperar as pessoas falarem para tomar a palavra.

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