Sentada, com um coelho nas mãos, sem poder limpá-lo. Estou com ele há cerca de 2 horas e ainda permanece como antes.
Minha mente segue nele, em suas palavras, naquele dia e naquela noite.
Eu quis ir atrás dele, quis responder que não amava Gale, mas eu mentiria?
Queria que me pedisse para eu não me casar e queria ter respondido que eu não o faria, mas ele não pediu, e deve ser porque ele não o quer. Escutei suas razões, suas palavras, mas são impossíveis. Nenhuma pessoa seria capaz de entregar-se dessa maneira a outra, muito menos se não a conhece. Ele não me conhece. Como poderia me amar assim? É acaso possível amar assim?Impossível.
Trato de voltar minha atenção ao coelho, mas a minha mente inicia outra rodada de recordações, outra rodada de suposições, e termino onde mesmo? Onde terminei todos esses dias: é impossível.
Todas as manhãs, escapei de casa na primeira hora para me refugiar na floresta. Regresso muito tarde, levo ao Prego o que caço e colho e entrego para Hazelle sua parte e, para minha mãe, o restante. Logo corro para o orfanato e me abrigo lá.
Eles não o mencionaram, apesar de eu ter estado atenta às suas conversas. Ainda que eu diga a mim mesma que não quero saber dele, para continuar acreditando nisso, uso outros caminhos e saio o mais tarde que posso.
Finjo cansaço ou algum desconforto e evito ver Gale.
Isso é pura culpa. Não só cometi uma infidelidade, eu estou traindo sua confiança e sua amizade. Eu estou mentindo descaradamente para ele. Não posso olhá-lo nos olhos.
No entanto, isso não vai durar. Ele não é paciente e terminará se cansando da minha atitude. E quando ele perguntar? O que vou dizer?
<Gale não podemos nos casar. Acontece que eu dormi com o padeiro e acho que estou apaixonada por ele.>
Apaixonada por ele...
Acaso é assim o amor? É isto sobre o que falavam todas as meninas? Isto é o que minha mãe sentia por meu pai? Isto tão confuso é amor?
Eu me recuso a acreditar.
Quem no seu perfeito juízo suporta este peso? Quem pode suportar a vontade de querer ver a outra pessoa o tempo todo, de querer escutá-lo, olhar para ele, de querer tirá-lo do pensamento para tocá-lo e beijá-lo? Quem suporta esse desejo e essa dor de só pensar em não tê-lo, essa sensação de vazio que somente se preenche quando eu o vejo, quando eu o escuto, quando eu o toco, essa vontade de me assegurar de que é real?
Isso não pode ser amor.
Se nos rostos dos apaixonados somente vejo olhares felizes, grandes sorrisos, olhos brilhantes, a satisfação de ir junto a essa pessoa, a segurança, a certeza do que eles sentem... se apenas vi felicidade quando se ama.
Mas, se isso não é amor... O que é? Loucura. Acho que apenas isso o descreve.
- Sai da minha cabeça. - rogo em voz alta - Sai.
Viro-me para o céu com os olhos fechados.
- Oh, venha e me diga que você me ama e que isso é amor.
- O que é o amor? - sua voz me sobressalta e me faz abrir os olhos de imediato, olhando-o assustada.
- O que faz aqui? Você esqueceu, certo? - ele me pergunta, ainda que não haja rastros de aborrecimento.
<O que eu esqueci?> Eu penso e ele
deve ler isso em meu rosto, porque diz:
- Sabia que você havia esquecido. Prim me mandou buscá-la para o horário agendado com o costureiro. - diz com um meio sorriso e eu me lembro das economias de Prim, do seu presente.Naquela manhã, depois que Peeta se fora, deixando-me sozinha na floresta, voltei para casa e eu tive que me desculpar com minha mãe por tê-la assustado, assim como com a minha irmã e Hazelle, para que ela dissesse a Gale, pois ele foi me buscar na floresta.
Ele não me encontrou e voltou dizendo que eu devia estar escondida por lá.Não o desmenti. Eu lhes disse que subi numa árvore e caí no sono sem querer.
Depois, Prim gritou emocionada e me disse que Gale lhe havia dito sobre a data e me avisou que teríamos esse compromisso em 8 dias (hoje), para que me fizessem um vestido. "Seu presente de casamento".
- É verdade. - respondo, levantando-me da pedra - Eu esqueci. Devo ir andando. - eu lhe dou o coelho.
- Você não vai me dizer? - pergunta, observando-me e tomando meu braço - Tentei lhe dar o seu espaço, esperando que me contasse o que está acontecendo com você quando estivesse pronta, mas você não me contou. O que está havendo?
Eu não posso levantar o olhar, porque o que quero ver são aqueles olhos azuis, tranquilos, transparentes, como um céu, e os de Gale são como os meus, um cinza de aço, frio e duro.
- Não está acontecendo nada. - digo, esquivando-me e caminhando até o distrito.
- Eu conheço você. - diz atrás de mim - Diz pra mim o que está se passando.
- Gale... - eu me detenho e viro-me para ele, ele disse que me ama...
- Como sabe que me ama? - pergunto, vendo como seu rosto se assombra por minha pergunta e logo se torna receoso.- Por que essa pergunta?
- Você diz que me ama, mas como pode saber algo assim, se você nunca sentiu algo parecido por outra pessoa? Como você sabe? E se não é amor? Como você sabe? - ele permanece calado, coloca as mãos nos bolsos, encolhe os ombros.
- Nunca senti isso por ninguém mais, eu acho que isso é o que me faz estar seguro de que te amo, te quero para mim. Você não é igual às outras meninas. Eu a conheço há anos, ninguém me conhece melhor do que você. O que mais poderia ser se não é amor?
Ambos ficamos pensando em silêncio.
- Você nunca me disse que me ama. - acrescenta em tom baixo - Responda-me uma coisa. - diz e toma o meu rosto para olhar para ele e não evitá-lo - Você me ama?- Gale. - tomo seus braços em cada lado do meu rosto - Você acredita que eu me casaria com você, se não o amasse?
Ele sorri tristemente e responde com algo que fica comigo, perfurando tudo o que sempre acreditei saber.
- Sim. Você se casaria comigo, mesmo sem me amar.
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Nota da autora:
Olá!
Capítulo curtinho.
Não sei que tantas voltas Katniss dá ao assunto, mas, bom, ela parece necessitar de doses de clareza.
E Gale? Acho que já sabe que alguma coisa vai mal, não?Beijos,
Lyla*************************
Nota da tradutora:
Everdeen, qual é a dúvida? 😉
Falta pouco para terminar... 😢
Beijos!
Isabela
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No caminho (Katniss e Peeta, se não houvessem ido aos Jogos)
Fanfic* Ela jamais teve que se oferecer como um tributo. * Ele jamais foi selecionado. Sua vida no Distrito 12, cheia de privações, de caça clandestina, de olhares roubados, de vergonha de se conhecerem, de silêncio entre ambos. O tempo foi justo e a vida...