No caminho (Katniss e Peeta, se não houvessem ido aos Jogos)

Um beijo

PEETA

Cheiro de floresta, cheiro de liberdade, cheiro dela.

Eu a beijo com tudo o que sou capaz, com tudo o que tenho dentro, com tudo o que sempre guardei, amando-a em silêncio.

Beijá-la é...
Como haver vivido debaixo d'água, sair ao exterior e perceber que necessitava respirar e que havia um mundo na superfície.

Não há palavras, não há nada que deva ser dito que os nossos lábios e olhos já não tenham dito.

Quando me separo dela, pela simplicidade de ser humano e necessitar de ar, ela se encarrega de novamente nos unir e, se não é ela, sou eu.

Nós nos sentamos juntos no transcurso da manhã, sem termos emitido uma palavra. Apenas olho pra ela, eu olho pra ela sem poder acreditar. Ela sempre me pareceu bonita, mas jamais fui justo. Ela é ainda mais bela do que eu poderia expressar.

Não me privo de acariciar seu rosto, de admirar suas sardas, de seguir com meus dedos o contorno de suas feições, de sentir sua respiração na minha mão, enquanto sigo a linha de seus lábios.

Frente a frente.
Ela acaricia meus cílios, perfila meu nariz, passa seus dedos sobre meus lábios, toca meu cabelo, e me observa, justamente como eu faço: como um cego que vê pela primeira vez.

Eu a beijo incontáveis vezes, conheço cada canto de sua boca e me dou conta de que eu a amo mais do que pensava.

Ela jamais esteve em minhas possibilidades. Aprendi a vê-la à distância, aprendi a me resignar a não tê-la.

Eu a vi crescer e converter-se na mulher mais bonita que poderia existir, eu a vi converter-se na mulher que viveria sua vida junto a outro homem.

E, entre burlas e risadas dos que se diziam meus amigos, eu aprendi a calar o que meu coração seguia gritando cada vez que a via.

Esforcei-me em continuar, em conseguir algo para mim, por simples prudência.

Mas que difícil é fingir amor, que difícil é ver como se entrega tudo e, ainda assim, você se dá conta de que esse tudo não é nada em comparação ao que recebe.

Que difícil é ver o seu amor passar com o braço dado a outro, que difícil é abraçar a quem ama você, fingindo amá-la, quando o seu coração chama em voz alta outro nome.

Acreditei que eu aprenderia a amá-la, acreditei que isso era possível.
Mas, como se aprende algo assim?

Os meus lábios disseram milhares de coisas ao longo da minha vida, mas há uma simples palavra que jamais saiu deles e agora sei a causa. Estava esperando para dizê-la à única que deveria escutá-la:

- Eu te amo. - digo, soltando o que sempre guardei para ela - Eu sempre te amei.

Ela me observa surpreendida. Seus olhos se ensombrecem com a dúvida.

- Como você sabe que me ama? - pergunta insegura.

- Como não saber? - respondo, tocando seu rosto.

- Você jamais sorri pra mim. Eu não vi um único sorriso em você, que respalde a verdade de suas palavras.

- Eu aprendi que sorrisos mascaram a verdade por trás deles. Se eu sorria, as pessoas não perguntavam o que se passava. As pessoas acreditam que você é feliz. Aprendi que era mais fácil ocultar o que está aqui dentro. - digo, tocando o meu peito - Posso sorrir para qualquer um, para que não se detenha e observe estes. - assinalo meus olhos - Só você já viu o que há aqui, só você sabe o que há aqui e pode saber o que eu sou. Jamais vou sorrir pra você para que não enxergue aqui dentro. Cada sorriso que você veja em mim, quero que seja real, sincero, como sei que vai acontecer quando eu vir o seu.

Ela fala de sorrisos quando é a pessoa que menos vi sorrir neste mundo, a mulher mais admirável que eu conheço, a mulher mais real que existe.

Ela guarda silêncio e me observa detalhadamente, medindo se eu menti. Seus olhos me dizem que chegou à conclusão de que sou sincero. Ela toma minha mão.

- Você não é feliz? – pergunta.

- Eu sou, ao menos o mais que podia ser, mas justo agora sou o mais feliz da Terra. - afirmo com absoluta franqueza .

Ela sorri em resposta e eu me maravilho ao contemplá-la. E minha face responde com um gesto similar ao dela. Ela volta a me observar e vejo seu rosto resplandecer.

- Acho que copiarei sua resposta. Justo agora, estou mais feliz do que eu já estive em toda minha vida.

Essas simples palavras me fazem sorrir como um idiota, e me alegro por isso, me alegro de haver escutado essas palavras.

Conversamos, depois disso conversamos. Sobre tudo, sobre nada, sobre o passado, mas não sobre o futuro.

A noite começa a deixar saber que se fará presente e me assombra o fato de que o dia passou assim, sem se sentir, como em um sonho.

Levanto-me da clareira onde estivemos sentados. Ela me acompanha, mas, antes de abandonar a floresta, eu a pego pela cintura.

- Eu não vou pedir a você que cancele seu compromisso com Gale, eu não vou pedir a você que diga que me ama, eu não vou pedir que você pense em mim, somente peço que não se esqueça deste dia. - eu a solto e caminho.

- Você vai se casar? - pergunta, quando apenas dei um passo.

Viro-me para vê-la.

- Você vai?

- Eu? Não sei, Gale é meu noi...

- Não há necessidade de me dar explicações, me diga que você quer voltar a me ver e eu virei. Se você se casar e ainda me pedir para me ver, eu virei. Eu virei cada vez que você queira, até que um dia você desperte e seja você a que vai até mim para me chamar e dizer: 'Vamos ao inferno'. E eu vou segui-la ao inferno, se me pedir e, se não o fizer, também.

Ela fica parada no limite da floresta e eu atravesso a cerca. Eu quero que ela reflita sem interferências da minha parte, assim como também sei que ela não vai querer que nos vejam sair da floresta juntos e, muito menos, caminhar pela Costura em minha companhia.

Meu lugar, por mais que eu queira, ainda não é estar ao seu lado e chamá-la minha. Esse lugar e privilégio ela deve me dar e eu devo ganhá-los.

Caminho até o que me espera como uma nova vida, o que construí com anos de silêncio e amor calado, anos dedicados a essa mentira, e o que eu derrubei com um simples beijo na única que é a minha verdade.

Chego à casa dela.

- Querido! - ela corre para me abraçar e não merece o que eu direi a seguir, mas não mentirei mais para ela.

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Nota da tradutora:

O primeiro beijo do ponto de vista da Katniss foi lindo!
E quando é sob a perspectiva do Peeta e acompanhado de "eu te amo"?
Qual é o adjetivo? ❤❤❤❤

Beijos!

Isabela