Capítulo Dez

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Em seu consultório o doutor Ivan tentava convencer Danlov sobre o tratamento da esquizofrenia, explicando que o mesmo visa ao controle dos sintomas e a reintegração do paciente. Se ele conseguisse chegar a um diagnóstico concreto esse tratamento iria requerer duas abordagens: a medicamentosa e a psicossocial.

Sob o tratamento medicamentoso Danilov faria uso de remédios antipsicóticos ou neurolépticos.

Na fase aguda da doença estes aliviariam os sintomas psicóticos, e também nos períodos entre as crises, preveniriam de novas recaídas.

A maioria dos pacientes precisava utilizar a medicação ininterruptamente para não ter novas crises e deveria submeter-se a avaliações médicas periódicas.

Apresentando melhoras significativas ele iria procurar manter a medicação na menor dose possível para evitar recaídas e evitar eventuais efeitos colaterais.

As abordagens psicossociais, as conversas com o psiquiatra seriam necessárias para promover a reintegração de Danilov à sociedade e com Ivana, já que essa significava sua família.

Isso devido ao fato de que alguns sintomas como a apatia, o desinteresse e isolamento social por muitas vezes persistirem mesmo após as crises.

Então, sempre era necessário um planejamento individualizado de reabilitação do paciente. O apoio de Ivana e a força de vontade de Danlov poderiam ajudá-lo a lidar com mais facilidade com as dificuldades do dia a dia.

Em 29 de março de 1967, a polícia encontrou o corpo de Mikhail Koshice, de 28 anos, um estudante de negócios que vivia com sua esposa grávida na zona sul de Leninkovsk. Ele tinha marcas de ligadura no pescoço, tornozelos e pulsos. A língua, o pênis e os testículos haviam sido arrancados a dentadas e havia também marcas de queimadura em suas mãos indicando que ele fora torturado.

Sua esposa havia esperado que ele voltasse para casa antes da meia-noite, e na manhã seguinte quando ela encontrou seu carro estacionado na rua com a porta entreaberta, questionou os vizinhos. Ela descobriu que a mulher que morava na casa onde o carro de Mikhail estava estacionado vira seu sequestro.

Esta mulher afirmou ter visto um homem. Ele era alto, louro e aparentava mais de 30 anos. Ela também afirmou que ouviu Mikhail gritar:

– Você não vai conseguir isso! – Durante o seu rapto.

A vida de Danlov e Ivana não parecia ter melhorado depois das sessões com o doutor Ivan. Ele continuava sem tomar banho e cada vez mais isolado, deitava-se na sala e parecia não dormir nunca. Sem aparentar nenhuma disposição para atender aos fregueses, estes estavam se afastando.

Para Danlov, na verdade a cada dia via menos sentido em sua vida. Afinal ele parecia estar atrapalhando Ivana. Aquelas pessoas que o vigiavam sempre estavam dizendo isso a ele... Dia e noite, pessoas vigiavam, riam dele dormindo na sala... Algum homem poderia estar entrando pela janela de Ivana... Quem sabe doutor Ivan, polido em sua linguagem e educação. Seria ridículo ele pular uma janela, mas ele amava Ivana, estava sempre com ela, a desculpa era a doença, ela era o elo para a sua desonra, sua traição...

Danlov já não conseguia se conter e as poucas vezes que ia ao trabalho as pessoas observavam que ele sempre estava falando sozinho , parecendo interagir  com vozes ou pessoas que somente ele via.

A fala, muito pouca, a cada dia estava mais desorganizada com pouco ou nenhum nexo. Para o doutor Ivan, nessa ideia de que pensamento de seu paciente estava cada vez mais desorganizado, o diagnóstico da esquizofrenia parecia estar cada vez mais perto

Os problemas na fala só poderiam estar relacionados à incapacidade de a pessoa formar uma linha de pensamento coerente. Neste sentido, a comunicação eficaz de uma pessoa portadora de esquizofrenia poderia passar a ser prejudicada por causa deste problema, ficando a cada dia mais difícil já que as respostas às perguntas feitas seriam sempre mais parciais ou completamente alheias e desconexas.


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