Capítulo Oito

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Apesar de passarem pouco tempo juntos, Ivana nos últimos dias percebera um comportamento estranho em Danlov. A cada dia ele aparentava menos emoção e se tornava cada vez mais displicente consigo mesmo. Sua face inerte, sem um sorriso, sem uma expressão, um esgar que fosse. A fala monótona e monossilábica muitas vezes era substituída por rosnados ininteligíveis que causavam agonia a Ivana

Na verdade ela chegava cansada do trabalho, mas isso não justificava que ele não demostrasse nenhum interesse por ela, que afinal era jovem e sonhara com um casamento com vida sexual ativa. Porem sem interesse no trabalho, que estava sendo executado maquinalmente, rosnando sozinho, sem um banho sequer ele se deitava ao lado dela, que passara a achar difícil dormir com ele, já que o cheiro de sangue a carne começava a impregnar sua pele.

Mal o sol nascera no dia 20 de fevereiro de 1967, quando pessoas que caminhavam em uma trilha nas montanhas encontraram o corpo nu de Kristina Vercherko, de vinte anos de idade, uma séria estudante universitária que deveria ter um futuro brilhante. O corpo estava jogado em uma encosta na saída de Leningovsk. Marcas características de cordas estavam em seus pulsos, tornozelos e pescoço; E quando o corpo foi virado, viram que os mamilos estavam arrancados e o sangue escorria de sua região anal. Ao contrário das três primeiras vítimas, no entanto, havia duas marcas de agulhas em seu braço, mas não havia histórico de uso de drogas por parte de Kristina. Mais tarde foi revelado na autopsia que ela havia sido injetada com soda cáustica.

Finalmente Ivana conseguiu conversar com o doutor Ivan Ryabenko. Depois de uma longa conversa com Ivana, ele levantou a possibilidade de um quadro esquizofrênico estar perturbando Danlov.

Ele explicou que a pessoa com esquizofrenia em virtude dos sintomas da própria doença não apresentará crítica acerca do seu quadro, já que a principal característica da psicose é a apreensão incorreta da realidade. Neste caso, um familiar que identificasse o problema teria que saber que muitas vezes seria difícil convencer a pessoa sobre os sintomas já que a própria natureza do quadro levaria a pessoa a estar convicta de que o que estava dizendo era a verdade sobre a realidade.

Por isso, muitas vezes algum parente ou amigo próximo deveria  ser responsável por levar a pessoa doente a um especialista ou para a internação se fosse o caso. E ela como único ser da família de Danlov teria que assumir esse papel.

Em 23 de fevereiro de 1967, o corpo mal decomposto de Mickail Kovenk de 18 anos, um ator de teatro que havia desaparecido por volta de 9 de fevereiro foi encontrado perto de onde havia sido encontrado o corpo de Kristina. A gravidade da decomposição impediu a determinação do corpo ter sido sodomizado ou torturado, mas ele havia sido estrangulado e tinha tido a língua arrancada como as outras vítimas.

Como a outra vítima do sexo masculino, tivera também os órgãos genitais arrancados. E, em resposta a série de assassinatos as autoridades criaram uma força-tarefa composta por todos os oficiais de Leningovsk e cidades vizinhas a fim de capturar o misterioso assassino.

O doutor Ivan inventou uma situação onde ele foi comprar carne no açougue de Danlov. Lá o viu abatido, pálido e barbudo. Depois de um longo monólogo ao qual nem sequer com monossílabos Danlov respondeu, ele conseguiu uma promessa feita por um aceno de cabeça, de que o mesmo iria ao seu consultório.

Tal promessa foi cumprida na manhã seguinte, após Ivana ter batido o pé afirmando que não iria trabalhar enquanto ela não fosse ao médico. Na verdade, o que Danlov mais queria era ficar sozinho, então resolveu fazer o sacrifício.

Danlov ouviu em silêncio o relato do doutor Ivan... As coisas pareciam estar acontecendo ao contrário do convencional. Afinal, a relação paciente fala e médico escuta parecia estar invertida. Apenas o médico falava e ao entender de Danlov, parecia muito entendido sobre sua vida. Afinal, será que o doutor estava ouvindo seu pensamento? Poderia estar vigiando cada passo, espiando sua vida...

Doutor Ivan pediu então que eles retornassem com uma semana... No pensamento de Danlov, a desconfiança martelava... Porque seriam eles a irem? O doutor estaria se encontrando com Ivana? Ela era a espiã que contava sua vida a ele?

Ivana conseguiu um tempo para ir ao consultório do doutor Ivan, onde ele esclareceu o quadro... Sim, havia quase uma certeza que Danlov era um paciente esquizofrênico.

Não havia exames médicos disponíveis capazes de diagnosticar a esquizofrenia. Para que o paciente fosse diagnosticado com esquizofrenia, o psiquiatra deveria examiná-lo  para confirmar se era um caso da doença ou não. O diagnóstico seria feito com base em uma entrevista minuciosa com a pessoa e seus familiares e após descartar outras doenças que também pudessem causar os mesmos sintomas psicóticos da esquizofrenia, mas que decorressem de outras doenças que atingissem o cérebro. Porém, como fazer esses exames, se Danlov não tinha família e se negava ao tratamento?

No final da rua em que ficava o consultório, olhos atentos e raivosos observavam a janela do doutor Ivan.

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