Capítulo Doze

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No dia 17 de junho de 1967, quando a polícia encontrou um carro abandonado em frente ao casarão onde o corpo de Lyuba Kaynok fora encontrado, já sabia que não teria muitas novidades a encontrar. Porém isso poderia não ser verdade...

A polícia respondeu ao chamado de pessoas que andavam pelas proximidades do casarão e viram o carro abandonado e reconheceu como sendo o carro de Mikhail Koshice, uma das vítimas do assassino em série. Então encontrou o corpo do irmão de Valkiria, sua viúva, no porta-malas do carro. Estranhamente, parecia um crime diferente dos demais, pois não havia nenhum sinal de violência sexual. Seu cadáver mostrava marcas de como os outros. Morte por asfixia, o corpo intacto ainda não apresentava rigidez cadavérica.

Os termômetros registravam -12,5 °C, e já era noite em Leningovisk. Se as pessoas que se recolhiam às suas casas por causa do provável temporal que se aproximava conseguissem prestar atenção em algo além dos seus pensamentos, teria visto uma figura vestida com uma capa de chuva, que caminhava apressadamente carregando algo indefinido em um de seus braços. O guarda chuva preto e o capuz da capa, juntamente com a chuva, não permitiam a identificação do transeunte. Apenas alguém alto, sem rosto, um ser a mais a caminhar na neblina. Porém, se alguém pudesse ouvir esse homem, saberia que ele murmurava frases ininteligíveis. Os passos rápidos pareciam denotar perseguição.

Horas atrás, os nervos de Valkíria Koshice também estavam à flor da pele. A morte do marido ainda era um fato que não admitia. Aquela fora sua última consulta obstétrica antes do parto cesáreo que estava marcado para o final do mês de junho. Seu irmão Nikolai a aguardava no pátio da Clínica. Ela estava apreensiva. Deveria passar pelo casarão onde meses atrás, a polícia encontrado os corpos de Lyuba e seu bebê.

Valkíria era supersticiosa e depois da morte de seu marido tinha pesadelos constantes. Sua família relacionava isso aos últimos fatos, porém ela não. Para ela era um aviso funesto, representado pelo estranho homem de guarda chuva preto e capa de chuva que povoava seus sonhos.

A chuva obrigou a mesmo sendo dia Nikolai acender os faróis... Estes iluminaram a alguém que na chuva, tentava retirar o pneu de um Lada preto.

Valkíria protestara desesperadamente, porém o espírito de bom samaritano obrigava o irmão a parar.

Ela não desceria de seu carro por nada desse mundo... Queria apenas que seu irmão resolvesse tudo e fosse para casa. Dali não sairia até que chegasse o dia de seu bebê nascer. Então ela voltou à atenção para o irmão abaixado junto ao carro preto, que junto ao estranho, tentava trocar o pneu... E viu que o estranho, tão idêntico ao homem dos seus pesadelos, estava de pé, perto do seu irmão. A corda que estava em sua mão fora passada em redor do seu pescoço.

Em vão seu irmão tentou segurar os braços daquele estranho homem de capa preta, porém os esforços diminuíram e ele ficou imóvel. Não havia ninguém na rua.

Então, estática dentro do carro, Valkíria viu o homem com as chaves na mão. Ela estava trancada e não havia o que fazer. Pelo retrovisor, viu o homem abrir o porta-malas e dentro dele colocar o corpo de Nikolai.

E dentro do carro ela viu um vulto negro, de capa de chuva, que abrira a porta do carro. Valkiria já não sabia se os arrepios gelados que percorriam seu corpo era pelo medo ou pela chuva que caia. Com o estranho homem segurando amigavelmente o seu braço, seguiu obediente para o casarão.

A chuva fizera com que anoitecesse completamente. Valkiria perdera a noção do tempo e um pássaro noturno rasgou o silêncio com seu grito estridente. Os sonhos... Ela sabia que estava certa.

Apenas os passos dos dois se faziam ouvir no piso de madeira. Como quem seguisse um ritual, o homem levou Valkíria para o mesmo quarto onde os corpos de Lyuba e de seu filho foram encontrados. Após a luz de um lampião a gás ser acesa, um jovem alto, sem ódio em seus olhos em seus olhos cinzentos, sorriu e se aproximou.

Um berço vazio estava em um local próximo a uma cama. Tudo impecavelmente limpo e branco. Sem uma palavra sequer, ele passou uma corda de seda em seu pescoço...

Ninguém viu quando, algum tempo depois, um homem saiu do casarão vestindo uma capa preta e carregando uma criança em seus braços.


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