A Nova vida de Sam

04 - "Boadrasta" e meu aniversário

Chego perto do carro e ambos param de conversar e me olham, a mulher sorri, ela deve ter em torno dos quarenta. Os cabelos compridos e loiros, tem um sorriso simpático, mas nada me tira da cabeça que ela está forçando o sorriso, claro, deve estar pensando “Essa é a filha nanica, xexelenta dele?” Consigo até imaginar ela rindo e cuspindo saliva, mas diferente da minha imaginação, ela continua me olhando, se encolhe envergonhada e coloca o cinto passando pelos seios normais dela, meu pai trocou a minha mãe por uma mulher normal, não era uma menina de vinte anos, não era peituda, com um bumbum grande, apesar que eu não consigo ver a bunda dela, mas não me parece grande, e nem magra ela é!

Gente, o que aconteceu com esse mundo? Abro a porta do carro e me jogo para dentro do carro, olho para trás e vejo a senhora Martha acenando para mim, e andando mais rapidamente, como se quisesse conversar comigo, arregalo os olhos e olho para frente.

- Pai, liga isso, liga! - Ele olha assustado para mim, mas não deixo nem ele pensar. - Anda pai, aquela velha maluca ta vindo aqui! - Vejo a mulher olhar para o lado, e se assusta também, não por Martha parecer perigosa, mas por susto de realmente ter uma senhora correndo até nosso carro, eu ainda conseguia ouvir ela gritando “Ei, Sammy”, que medo, meu pai ligou o carro, girou o volante e saiu cantando pneus, até me lembrei da mãe de Iris. Me deixo respirar e olho para trás.

- Quem era ela? - Meu pai me olha pelo retrovisor, olho para ele assustada demais para responder, a mulher também olha para trás, tentando ver Martha. - Sammy? Quem era ela?

- Ninguém, pai. - Respondo ofegante. - Ninguém. - Encosto as costas no banco, nossa, o que será que ela queria? Falar dos meus olhos! Certeza! Será que meu pai contou para essa mulher sobre meus olhos? Certeza também. Vejo ela virar o corpo, para me olhar, sorrindo.

- Oi! - Ela estendeu a mão para mim, sorrindo. - Meu nome é Lucy. - olhei para as mãos dela, as unhas eram compridas, pintadas de rosa com umas flores, que lindo! Todo mundo tinha coisas bonitas, mas eu não posso reclamar para minha mãe ou meu pai, não quero que eles me deem tudo que uma garota de dezessete anos tem, tenho que ser adulta, não é certo, acho que fiquei por muito tempo pensando que vi Lucy indo tirar a mão dela, agarrei a mão dela com as minhas duas mãos.

- Sou Sammy. - Ai, como sou estupida, além dela já saber porque meu pai deve ter falado, meu nome estava espantado no meu peito, escrito tudo errado com uma caligrafia feia, ela sorriu, a boca grande, de lábios grossos, sua boca estava com brilho lábial, os olhos castanhos claros, a sobrancelha estava fina e bem feita, ela era cheirosa, estava com uma camiseta branca com um desenho de um jacaré pequeno no canto e uma calça jeans que parecia já gastada, e uma sapatilha preta com uns detalhes em prata. Soltei a mão dela, ta bem, devo confessar que ela não parece fazer mal a ninguém.

- Vamos comer comida japonesa? - Meu pai sorri e olha para Lucy, que volta no lugar e sorri para ele também. Comida japonesa era minha predileta, fico relutante de sair, olho para baixo, e junto minhas mãos nas minhas pernas e não respondo.

- Oh, querida, o que houve? - Lucy se vira novamente e me olha, coloca uma das mãos gentilmente na minha perna, prendo a respiração e sinto vontade de chorar, solto o ar e olho para ela. - Esta com medo? - Eu olho para ela, como se pedisse ajuda, até to parecendo a Iris! Olho para baixo de novo. - Eu sei que você não vai querer me mostrar e nem me contar, mas seu pai me contou sobre a Heterocromia. Eu tenho uma gata que é assim. - Ela sorriu para mim, fez carinho com a mão. - E ela é super linda, assim como você. - Ela mostrou a língua brincando. - Só que ela é bem metida.

Me permito sorrir e levanto a cabeça olhando para ela, será que eu poderia conhecer a gata dela? Será que ela vai ser feia que nem eu?

- Eu gosto de comida janponesa. - Comento, voltando a olhar para minhas mãos.