Capitulo Oito

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15 de março – Três meses atrás...

Dois meses.

Oito semanas e três dias.

59 dias...

Parece que o mundo se virou contra mim. A escola, os professores, minha vida, até o meu próprio corpo. Venho sentindo dores de cabeça com tanta frequência que elas já se tornaram parte de mim. Os enjoos não me deixam dormir, e as tonturas não me deixam levantar. Sem mencionar o sono que nunca some. Meus professores insistem em me colocar no grupo de apoio da escola para alunos que sofrem bullying, que estão entrando em depressão e coisas do tipo, mas eu me recuso e Tia Loorea também não acha necessário.

_ Tome este remédio querida – disse ela estendendo uma cartelinha de remédios para mim.

Na cartelinha continham 20 pílulas ovais da cor violeta. Franzi a testa.

_ Por que são dessa cor?

_ Apenas tome, vai se sentir melhor.

Tomei uma pílula e logo senti a dor amenizar. Alguns minutos depois já não sentia mais nada.


Passaram alguns dias e percebi que Chris parecia muito inquieto.

_ O que você tem? – perguntei durante uma janta silenciosa.

_ Nada, só... - ele respirou fundo - Acho que chegou a hora de arranjarmos um emprego.

_ Isso é bom – disse a Tia Loorea – Por que a preocupação?

_ Acho que vou ter que procurar emprego fora da cidade.

Tia Loorea e eu nos entreolhamos.

_ Chris... Acho que isso não é necessário – eu disse receosa.

Ele deu uma risada sarcástica.

_ Len, por favor. Que emprego eu encontraria aqui? Essa cidade é um lixo – ele disse a ultima parte baixo, para si mesmo.

_ Chris! – repreendeu Tia Loorea.

_ Além disso – continuei – Se você trabalhar em outra cidade vai ter que abandonar o time de basquete, e você sabe que isso é importante pra faculdade. É o que você sempre quis.

_ Você está certa. É o que eu sempre quis. Até nossa vida virar um inferno, e você entrar em depressão.

_ Chris! – gritou Tia Loorea – Não fale assim com a sua irmã! Sabemos que esse é um momento difícil para nós, mas você não pode sair descontando sua raiva em todo mundo.

Chris se levantou com raiva.

_ Quer saber? Não precisam se preocupar, já abandonei o time. Amanhã saio de viagem.

Chris subiu as escadas com passos pesados. Tia Loorea enterrou o rosto nas mãos. Eu estava espantada, Chris nunca fala assim com a gente. Nossas vidas realmente estão mudando muito, nós estamos.

Chris voltou pra casa depois de duas semanas alegando ter sido contratado em uma agencia de esportes na cidade vizinha. Ele só teria que ir pra lá duas vezes por mês. É claro que eu não acreditei, mas depois do que aconteceu com a gente ele vem se fechando cada vez mais. Não parece mais o mesmo, alegre, atencioso e disposto. Não parece mais meu irmão.

Tudo mudou, nada é mais o mesmo. Venho ingenuamente esperando o dia em que eu vou acordar e perceber que tudo isso é um pesadelo.

Estou esperando...


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