Entre Espaço e Tempo

Capitulo Dezoito

Negrume. Uma floresta profunda de árvores sem folhas. O ar pesado, abafado e quente. Uma grama tão seca que seria capaz de se incendiar por inteiro em uma fração de segundos apenas pelo mencionar do fogo. O fogo... A fumaça... Mas não tinha fogo, nem fumaça. Mas ele me queimava.

Eu corria pela floresta tentando escapar desse novo pesadelo que minha mente fora capaz de criar... É só um pesadelo.

Acorda... Por favor, acorda!

Ela me perseguia pela floresta. Ela era forte como eu. Ela era fraca como eu. Corríamos na mesma velocidade de modo que nenhuma era capaz de se distanciar nem de se aproximar da outra. Eu sentia seus pulmões implorando ar, ela sentia meu coração pulsar freneticamente. Eu era como ela, por que éramos a mesma pessoa.

"Pare de fugir de quem você é!" – eu gritava para mim.

"E quem eu sou?" – perguntei.

"Você sou eu..." – respondi.

Nos encaramos, arfando no mesmo ritmo. Explorei a réplica á minha frente, o ar que refletia a minha imagem. Éramos idênticas. Cabelos ondulados, loiro platinado. Olhos médios, castanho escuro. Sobrancelhas escuras grossas. Pele pálida.

Porém... éramos diferentes. Ela era forte, tinha um coração valente, lutava pelo que tinha e pelo que não tinha, era bonita e sabia disso, era feliz e compreendia isso.

Repentinamente o mundo começou a girar rapidamente, como se estivéssemos dentro de uma máquina de lavar gigante. Me segurei em um tronco de árvore seca, finquei minhas unhas na madeira áspera tentando me manter firme no lugar. O mundo parou de girar. A vi jogada no chão como uma boneca mole. Cambaleei na sua direção e me sentei no chão ao lado dela, seus ombros tremiam indicando que chorava como uma filha que perdeu a mãe... Ela se sentou e me fitou com olhos inchados e a mão direita sobre o peito, logo acima do coração. Estiquei a minha mão e a repousei sobre sua. Nossas mãos tingidas de vermelho pressionavam o mesmo coração sangrento. Agora, éramos perfeitamente idênticas...

Livra-te de quem não sois.

Seja quem você é.

Ame o que tens.

Lute pelo que quer.

Não te fadigues pelos inimigos.

Empunhe a tua espada.

Esteja preparada.

Ontem foi uma lição.

Hoje é um desafio.

Amanhã ainda não existe...

Eu achava que não era possível esconder segredos grandes por muito tempo, porém, no meio da noite, pensando em minha mãe, reconheci que estava errada. Ela conseguiu esconder um mundo inteiro de mim, por 17 anos funcionou, mas agora vejo as paredes desse segredo desmoronando, fazendo as paredes da minha antiga vida comum cederem também.

Deitada na minha cama eu analisava as pequenas rachaduras que se formaram no meu teto ao passar dos anos, desde que meu pai era pequeno. Não consegui dormir depois de mais um entre tantos outros pesadelos que me despertam no meio da noite. Foi um pesadelo diferente... Agora meus olhos já se acostumaram com a pequena quantidade de luz que a lua oferece.

Miah dormia ao meu lado serenamente, me fazendo relembrar de quando éramos crianças e acreditávamos que a companhia da outra no meio da noite afastava pesadelos, algo mais que descobri esta noite não ser verdade.