Capitulo Dezessete

66 7 2
                                    


Abri a porta do porão.

Encolhida no canto da sala pequena e mal iluminada, estava Miah sentada com os joelhos junto ao corpo, os braços em volta das pernas e a cabeça abaixada. Corri na direção dela.

_ Miah! O que aconteceu?

Ela levantou a cabeça e olhou para mim. Os olhos cansados e tristes, úmidos com as lágrimas, carregados por pequenas olheiras.

_ Minha mãe... – Miah começou a falar, mas parou e começou a chorar.

Abracei-a e a ajudei a ficar de pé. Um milhão de coisas passavam pela minha cabeça enquanto a guiava para a sala. Enchi um copo de água enquanto ela se sentava no sofá. Me juntei a ela e a observei tomar tudo em um só gole.

_ Miah... O que aconteceu? – voltei a perguntar.

Ela olhou para as mãos que tremiam o copo.

_ Minha mãe me trancou...

_ O que? Sua mãe te trancou no porão? – perguntei sobressaltada.

Miah assentiu com lágrimas nos olhos.

Era difícil imaginar a Sra. Scarlet, a melhor amiga da minha mãe, trancando a própria filha em um porão.

_ Por quê?

_ No dia que vocês me trouxeram para casa, contei para minha mãe o que Alfred nos disse... Ela começou a gritar, ficou agressiva de repente e me mandou ficar longe de você – ela olhou para mim – Quando eu disse que não faria isso, ela...

_ Você está trancada há dois dias? – perguntei espantada.

Miah assentiu.

Senti a raiva tomar conta de mim. Não pude aceitar o fato de que alguém fosse capaz de fazer isso. Principalmente com a própria filha. Decidi levar Miah para casa, sabia que não era uma boa ideia, o primeiro lugar que a Sra. Scarlet procuraria a filha dela seria na minha casa, mas Tia Loorea estaria com a gente. E eu podia contar com Alfred e com o Philip.

Miah juntou algumas coisas do quarto dela em uma mala pequena e entramos na caminhonete. Ela começou a chorar de novo. Não suportava vê-la assim, não pude segurar minhas lágrimas.

Chegamos em casa. Depois de fazê-la comer e tomar um banho ela se deitou na minha cama e dormiu. Fui para a minha varanda e liguei para Philip.

_ Eva. Como se sente?

_ Bem, obrigada... – parei de falar sem saber ao certo o que dizer.

_ O que deseja? – ele finalmente perguntou.

_ Nada, só... Precisava de companhia...

_ Chego em um minuto – ele disse e encerrou a ligação.

Sorri. Por mais que minha vida estivesse na maior desordem possível, não pude ignorar o fato de que agora tenho um amigo como ele, alguém em quem posso contar á qualquer hora.

Quando me virei dei de cara com Philip escorado no batente da porta de braços cruzados me fitando com olhos curiosos.

_ Philip! Como...

Ele fez sinal para que eu fizesse silencio.

_ Shh – ele veio na minha direção e me puxou para fora do quarto – Caroline está dormindo.

Ele se virou e desceu as escadas. Revirei os olhos.

Típico de Philip...

Fomos para a varanda da sala. Sem saber o que falar, permanecemos em silencio por alguns minutos. Debruçados na cerca da varanda admirávamos a paisagem tão ordinária e encantadora. Por um momento consegui deixar de pensar no que estava acontecendo em minha vida e focar na beleza de mais um dia de verão. Da varanda eu conseguia enxergar as pessoas correndo pela praia, deitadas na areia deixando que o calor do sol as aquecesse.

Entre Espaço e TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora