Nada... Não havia nada. Nem som, nem cheiro, nem luz. Escuridão e vazio.
Dor... Foi a primeira convidada ou ao menos a sensação da dor. Abriu portas aos demais visitantes. Deu chance do frio e da agonia se fazerem presentes.
Ao abrir e piscar dos olhos, a visão de um quarto invadiu-lhe. A noite estava silenciosa, apenas os grilos faziam sua orquestra em algum ponto, lá fora.
Os movimentos de cabeça, para olhar melhor ao redor, não lhe eram permitidos, sequer respirar regularmente conseguia.
Estava acontecendo mais uma vez. Mais um acréscimo à lista de todas as ocorridas antes.
Não poderia ser evitado. Era insuportável e desconfortável, aterrorizante, até. Tentou erguer a mão, mas o comando não foi obedecido. Todas as tentativas de escapar eram inúteis. Era inevitável. Em todas as vezes que tentara fugir, que tentara se desprender disto, falhara.
O momento estava chegando, o instante em que tudo piorava. O pânico, não a calma como se espera, invadiu o corpo de ambos os seres ali.
Uma dor compartilhada, não é melhor suportada. Sentir o seu desespero, misturando-se ao de alguém, era ainda mais desesperador.
No interior do cômodo onde se encontrava, iluminada por uma vela, que agora lhe era visível pelo ângulo periférico, estava uma figura, uma silhueta, sentada em uma cadeira próxima à cama, os olhos opacos, a expressão aflita, piedosa. Agora podia perceber que se tratava de um servo. O homem lhe lançava um olhar de pura pena e compaixão.
Talvez por seu estado.
Talvez pelo final...
E a hora havia chegado. Nada tornava aquilo mais suportável, nem tranquilizador. Não havia maneira, por mais que houvesse tentativa, de se desvencilhar daquela situação.
A respiração se tornou mais fraca, os batimentos mais lentos e as pálpebras mais pesadas. Os sussurros que o vento agora fazia, trazia o fantasma de mão fria e dedos ossudos, que capturaria a alma da mulher ali deitada.
A morte.
O seu beijo acariciou a face e os lábios levaram consigo o último suspiro de um corpo que lhe era alheio, mas que lhe fazia sofrer por igual, pelo medo do desconhecido.
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A Emissária da Morte
Любовные романыEla sabe o que vai te acontecer. Se o seu fim está próximo, se aquele é o seu último sopro de vida, ela vai estar lá e viver com você o último instante. Apesar de se atormentar, a aceitação é a saída, sabendo que não tem o que fazer para mudar isso...