Capítulo II

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     O impacto da colisão a atingiu completamente, mandando-a diretamente para baixo e fazendo com que caísse no chão. Se quer teve tempo para entender o que acontecia, ou para escapar das sombras que a envolviam tão repentinamente.

     Escuridão invadiu seus olhos e o medo a inundou. Jamais pudera evitá-lo. Mesmo com tantos anos passados, continuava a seu lado. Como um companheiro fiel, se fizera presente em toda a sua vida. Intensificando-se ainda mais, em momentos como aqueles. Quando seu corpo e sua alma eram trancafiados em seu próprio mundo prisão, onde tudo podia ser sentido, mas a vontade não era nada, em meio aos domínios da dor, tristeza e agonia, que a devoravam, cada vez em que Dara mergulhava em um novo prelúdio.

     Sabia que este era o início e aguardou o instante em que chegaria a seu destino. No entanto; os segundos se passavam lentos e ela permanecia ali, perdida entre as trevas. Um novo cenário tinha que ganhar forma agora, mas o tempo se arrastava e nenhum vestígio de luz, era registrado. Alguma coisa não estava certa. Pôde sentir. Então a dor veio triunfante para avisar-lhe que mesmo tardia, não a esquecera. Ferozmente a cobriu por inteira, atacando cada célula de seu corpo, deixando para trás, a marca de um agonizante peso em seu peito, como se algo houvesse sido cravado lá. Os prantos e os gritos, que por diversas vezes clamaram por liberdade, lutavam insistentemente dentro de si, por uma escapatória. Foi quando uma leve pressão em seu ombro, seguida de uma voz, a puxaram de volta para a realidade.

     - Sente-se bem? Machucou-se?

     Seus cinco sentidos deviam estar bloqueados, então como podia ouvir ou sentir? Todas as regras as quais Dara estava  acostumada a ter que seguir, pareciam não mais ter valor e a ideia de que tudo aquilo poderia tornar-se  em algo ainda pior, a apavorava, causando-lhe calafrios com o simples pensamento. Ela se viu mandando para longe, a mão de quem quer que a tocava, em um ato súbito de auto defesa. Não estava enjaulada como em todas as outras vezes, pelo menos, não mais.

     Fuga.

     A opção que sempre lhe fora negada, brilhava incandescente a frente de seus olhos, implorando para que fosse a escolhida e em tal situação, Dara não negaria a tamanho pedido.

     Ouvindo seus instintos, levantou-se imediatamente e sem se demorar, aumentou o espaço entre ela e seja lá quem fosse. Apressou-se em sair rapidamente dali, afastar-se daquele estranho.

     Em sua corrida, buscando escapar, conseguiu ouvir a voz daquele que a pouco, lhe tirara a certeza e lhe plantara a dúvida. Ele parecia querer saber algo, mas não iria voltar para descobrir o que era e nem tinha a menor intenção de responder-lhe.

    O sentimento de pavor a consumia, queimando lentamente em brasas arrebatadoras, deixando somente as cinzas do medo, sufocando-a, sem recobrar o fôlego para se equilibrar. Dara queria entender estes sentimentos desconhecidos, era como desbravar o seu interior sem a posse de um mapa. Contudo sentia que o alívio apossava-se dela, a distância era um bálsamo percorrendo seu corpo, fluindo na corrente sanguínea. Parecia que a cada passo ficava mais segura e pretendia se assegurar o quanto pudesse.

     Virando à uma outra rua, com maior movimentação, em seu ímpeto de se distanciar, quase se chocou com uma mulher, levando um grande balde de madeira, cheio de água, ao desviar, tropeçou para dentro de um círculo de crianças, mas imediatamente saiu de lá. Como se nada tivesse acontecido, elas continuaram a brincar, despreocupadamente.

     - Dara? Estás bem? - Uma voz fina, que em nada se assemelhava à de antes, a abordou em meio ao vendaval de seus pensamentos. Subindo o olhar, viu sua amiga Marina, com uma expressão preocupada.

     - Está pálida! - O comentário a fez olhar para a interlocutora, ao lado da primeira. E não foi surpresa ver sua outra amiga, também olhando-a.

A Emissária da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora