Capítulo V

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Como buscar alento no vazio? Como querer paz nas trevas? Por quem gritar, se não há voz? Enclausurada, amedrontada e amordaçada; assim se sentia. Ao menos os seus pensamentos não foram calados e reprimidos.

Teve a sensação desconfortável de entrar num corpo que não lhe pertencia.

Então era isso! Um prelúdio a arrebatara, mandando-a para o novo hospedeiro de seu espírito...

Sem lhe dar tempo de raciocinar, sua fiel parceira de luta, abraçou-a impiedosamente: a dor nunca a deixava cruzar aquele caminho sem antes a cumprimentar afetuosamente.

Lenta e demoradamente, a luz foi surgindo; fraca, doentia, bloqueada pelas pálpebras, que escondiam o lugar ao redor. Era possível ouvir uma respiração entrecortada. Era a sua própria respiração. Sentiu uma mão quente tocando-lhe de forma suave. O toque fez as pálpebras abrirem calmamente. Iluminado pelo céu da manhã, o quarto tomou forma. Uma janela permitia que a luz entrasse, para revelar o senhor ali sentado, tomando sua mão nas dele, fazendo as lágrimas em seus olhos, brilharem como gotas de chuva.

A inspiração estava ficando mais difícil à cada segundo que passava. A falta de ar e a tosse que veio, só aumentou a dor no peito e a cada respirar, se tornava mais audível o chiado dos pulmões sobrecarregados. Estava insuportável, sufocando corpo, alma e espírito.

O homem entrou em um pranto comedido. Até ali, ele tentava poupar a mulher de ver seu sofrimento, para não preocupá-la.

Tudo o que foi sobrando era a dor. Frio preencheu todo o resto, asfixiando o pouco oxigênio que restava, transformando em pó, a esperança de ambas. Não havia mais volta. Só deviam seguir sofrendo quietas e aceitar o fim próximo.

Súplicas para que não se fosse, palavras reconfortantes, promessas de que tudo iria melhorar, foram sussurradas ao pé do ouvido da hóspede e hospedeira, mas nada iria adiantar.

Para confirmar, um arrepio subiu, desde os pés, até o rosto. O fantasma da morte deslizava serpenteando o corpo, vinha ceifar mais uma vez, levar consigo mais um ente de alguém, mas desta vez... Desta vez Dara sabia quem era.

A morte sugou e levou consigo a última fagulha de ar, que mantinha a vida presente naquele ser, que expirou para uma viagem rumo ao infinito...

Alguém lhe puxava, interrompendo esse momento de torpor. Seria ela tentando levá-la também? Era esse o momento? Depois de tantas vezes que a vira levar tantos, faria o mesmo consigo? Desesperou-se, mesmo sabendo que se essa era a sua hora, não faria diferença.

- Dara? Ei! - Nunca a ouvira chamar o nome de ninguém... Porque com ela estava sendo tão fora do comum?

- Sente-se mal? - Aquela voz... Ela conhecia aquela voz... - Marina, acho que ela está passando mal.

O rosto levemente bronzeado de Paula, invadiu a sua visão, estava com a mão em seu ombro. Marina se encontrava ao lado, ambas com expressões semelhantes de preocupação.

Piscou algumas vezes, atordoada com a situação e com a luz fraca do sol, que insistia em surgir por entre as nuvens carregadas, fazendo seus olhos lacrimejarem.

- Dara, diga-nos o que tens?! - Implorava Paula, sacudindo seus ombros.

Custava-lhe processar em sua mente, àqueles acontecimentos e ela se encontrava perdida em milhões de pensamentos, que iam e vinham, dando voltas e nós em sua cabeça. Como poder explicar o que nem ela mesma entendia?

- E-estou bem. - Repetia o já tão conhecido discurso. -Só... Preciso ir para casa agora.

Rapidamente ela se levantou, tropeçando para o lado, ao sentir uma leve tontura pelo movimento abrupto. Marina segurou-lhe pelo cotovelo para ajudá-la a se firmar.

A Emissária da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora