Capítulo XI

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     O dia terminava suas últimas melodias, se inclinando, em agradecimento ao público, dando lugar ao início do crepúsculo violeta. Os espectadores celebravam o concerto celeste, rindo e conversando, sem deixar de aproveitar o cheiro dos apetitosos pratos, postos às mesas diversificadas.

     A praça estava em ar de festa e alegria. Postes ardendo em suas chamas, balançando ao ritmo da música, que se embaralhava com o vento, mostrando que os homens também sabiam criar boas canções. Vestidos farfalhavam como folhas nos galhos, rodopiando em passos elaborados, convidando aos que assistiam, a entrarem na roda.

     Esse comportamento foi despertado, logo após os noivos dizerem o tão esperado "Sim" e os espectadores cruzarem as portas da igreja, reunindo-se para comemorar a constituição de uma nova família.

     Era evidente a felicidade estampada no rosto e no olhar dos jovens de mãos dadas à frente do altar. Rita estava, de fato, uma noiva deslumbrante! O véu caindo em uma bela camada de mistério e delicadeza. Suspiros de admiração e inveja eram ouvidos em todo o templo. Admiração por ela usar aquela peça e pelo ato a que a roupa era atribuída. Inveja, por serem um par feito um para o outro, coisa que muitas e até muitos, desejavam.

     A cerimônia se realizara como planejado, como imaginado, mas mesmo assim sendo, Dara veio perceber seus reais sentimentos, em relação a isso, apenas no instante em que o Pe. Francisco os declarou casados, enfim. Ela, Dara, notou o quanto a ideia de casar-se não lhe apetecia, como aos outros. Não vinham boas sensações ou deduções de que isso lhe era uma coisa certa.

     Pais deixam heranças para seus filhos, títulos talvez, mas o que ela tinha a passar, não era uma coisa agradável, tampouco desejável.

     Ela não iria fazer ninguém mais sofrer aquilo. Levaria consigo esse "dom". Matrimônio só lhe traria mais peso e culpa, que lhe arrancariam a faísca de felicidade, que poderia ter, até que mais um prelúdio a tomasse.

     - Coruja Branca, é um belo vestido! - Dona Joana a cumprimentou, tocando a saia de seu traje.

     - Agradeço! - Sorriu, baixando o olhar, voltando ao momento presente.

     - Está muito formosa, minha jovem! - Comentou outro comerciante, a quem Dara também costumava fazer compras. - Todos os moços vão querer uma dança consigo.

     - António, deixe a menina mais vermelha e poderemos fritar ovos em suas bochechas. - Interveio Joana, deixando Dara ainda mais ruborizada. - Mas, Coruja Branca, há rapazes muito bonitos por aqui hoje. Não recuse, caso a convidem. - Ela pensou que não poderia ficar mais envergonhada, até ouvir tais conselhos.

     - E-está certo... Vou levar isto à mesa. Com vossa licença. - E saiu rapidamente, ainda a tempo de ouvir a pequena discussão que ficou entre os vendedores:

     - E eu quem a constrange, ham? Ao menos não a expulsei com meus elogios. - Dizia António.

     - Ora, aposto que diria coisas ainda mais embaraçosas. - Rebatia Joana.

     Dara apenas sorriu, ouvindo-os, enquanto depositava um dos bolos que trouxera, como acertado para alguns fazerem e inspirou o ar caloroso, oferecido pela animosidade dos festeiros e do clima. O casamento estava sendo ainda melhor do que o planejado. As flores, ricas em cor e perfume, ornamentavam os espaços, alimentando os olhares com uma bela visão.

     Os noivos bailavam e puxavam os convidados, enchendo mais a roda, trocando olhares cúmplices, a cada pessoa que capturavam, como se as incentivando, não somente a coreografar, mas a se juntarem a eles nessa felicidade, os induzindo a tomarem o mesmo rumo matrimonial.

A Emissária da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora