Parte 1: Capítulo I

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Nuvens densas cobriam o céu da manhã, deixando tons cinzentos por todos os lados, mas nenhuma camada espessa de obscuridade nublada, trairia a tonalidade ofuscante das folhas das árvores, insistentes em serem vistas por todos os lugares, porém estas mesmas nuvens se assimilavam às grandes elevações de terra, que circundavam o pequeno vilarejo, quase formando uma muralha protetora, encobrindo vestígios da parca e singela civilização presente ali. O topo de cada monte, era coberto por uma névoa pálida, que atraía os olhares dos raros visitantes, fazendo-lhes tremer ao pensamento de escalarem suas extensões.

Casas de taipa, em pequenas proporções, bordeavam as ruas, transformando a floresta em lar, a madeira das paredes, em troncos habitáveis, o barro batido, em reforço estrutural e segurança para suas moradias. A pedra, usada para revestir o chão da praça principal, cantava sua canção ao passo dos transeuntes, principalmente dos mais apressados, com suas carroças de mercadorias. Uma torre ao centro, com dois grandes sinos silenciosos e esquecidos pelos moradores, servia para alimentar a imaginação das crianças com estórias de horror e para os forasteiros observarem, quando se cansassem das belezas ao redor.

Eram muitos os passantes: comerciantes, donas de casa, ferreiros, crianças, alguns animais até. A variedade de cores, sons e cheiros, causava certa nostalgia ao rapaz, plantado ao centro, observando todos os pontos dali. Ric, não lembrava perfeitamente de tudo, mas o pouco que recordava, avivava sua mente àqueles tempos.

Concentrado como estava em contemplar ao redor, não notou uma pequenina nuvem branca, que baixara do céu em alta velocidade, aproximando-se perigosamente, batendo suas asas em um movimento memorizado, passando a centímetros de sua cabeça, provocando-lhe um sobressalto e um grande passo para o lado oposto ao da pomba alva, que voava sem que suas asas sumissem, vaporizadas com o ar. Entendendo o que havia acontecido, não pôde deixar de sorrir, por seu susto tolo, esperando que, ocupadas, as pessoas não o tivessem percebido, especialmente as moças. Era preciso deixar boa impressão e manter a compostura.

Recompondo-se, manteve o olhar observador por mais alguns instantes, para em seguida, caminhar por aquelas ruas, agora tão estranhas e ao mesmo tempo, reconhecíveis, tentando lembrar para onde deveria ir.

Subitamente seus passos vacilaram, cambaleando e retrocedendo. O segmento, foi o som de um baque surdo à sua frente, mas ainda estava confuso com essa força abrupta que o acometera. Compreendendo que havia colidido com algo, baixou seu olhar e concluiu que o seu "algo", na verdade era "alguém".

O vestido espalhado pelo chão, indicava que acabara de derrubar uma mulher, que estava sentada, com o rosto oculto por um capuz negro como o seu vestido. O brilho dourado de um pingente em seu pescoço, era o único ponto de cor em meio às vestes escuras, destacando uma coruja de asas abertas, gravada nele. Ela permaneceu ali, calada e imóvel, talvez estivesse machucada. Como podia ter feito algo assim? Cometera um grande erro. Descuidar-se ao ponto de machucar uma dama? Inclinando-se ao nível dela, tocou-lhe o ombro, num gesto preocupado.

- Sente-se bem? Machucou-se? - Ele não pôde ver qualquer expressão, aumentando ainda mais sua apreensão. A resposta à suas perguntas, foi um forte tapa em sua mão, deixando claro, que não gostaria de ser tocada. O que aquilo significava? Ela estava brava? Assustada?

Rapidamente, ela pôs-se de pé, afastando-se, colocando mais distância entre eles. "É... Assustada." Concluiu. Na tentativa de impedir que se fosse de vez, ergueu a mão para alcançar seu braço, se detendo ao lembrar da ardência que ainda sentia.

- Espere! Não irei machucá-la. - A reação dela foi oposta ao pedido: acelerou os passos, iniciando uma corrida, distanciando-se mais ainda. - Ao menos diga-me se está bem! - Ele se ouviu gritando, inesperadamente. Será que não o havia compreendido? Nunca fora tão fluente em seu português.

A Emissária da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora