Capítulo IX

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O doce som de piano, era ofuscado pelo falatório e gargalhadas que ecoavam no grande salão. A fumaça dos charutos dos homens, misturava-se aos fortes perfumes das mulheres. Jogos, bebidas e as moedas que passavam de uma mão para outra em velocidades espantosas, certamente não eram a visão mais chocante daquele lugar. Esta posição ia para as damas. Vestidas vulgarmente, com decotes que mostravam até seus umbigos. A maquiagem e as joias, complementavam o que as caracterizavam como...

- Prostitutas! - Ric não pôde conter a surpresa.

- Flores. - Disse uma mulher, surgindo à sua frente. - É como gostamos de ser chamadas.

Esta era mais velha que as outras e tinha um sotaque familiar, muito diferente dos nativos dali.

- Sou madame Carmen, dona deste estabelecimento. Bonne nuit, garçons! - Agora estava claro. Só poderia ser francesa.

- Boa noite, senhora! - Ulisses falou baixinho, fazendo Ric voltar a si.

- Por que não avisou-me que tratava-se de um prostíbulo? - Murmurou para o companheiro.

- Não é como se tivesse me dado alguma chance. - Ulisses murmurou de volta.

- Como não? E todo o tempo que esperei para que me contasse?

- Vosmecê não esperou tempo algum!

A discussão que se iniciaria, foi interrompida por madame Carmen, que se pôs entre os dois.

- Ora, rapazes, isto não é necessário. Não importa de quem foi a ideia, ninguém precisa saber! - Ela sorriu maliciosamente e piscou um olho para eles. - Prontos para se divertirem?

Conduzindo-os até uma mesa, os fez sentar, sem lhes dar chances de esboçar qualquer reação.

- Trarei algo para beberem. - Disse, saindo.

Ric só podia olhar absorto. Nunca estivera em um bordéo antes e, ao julgar pela expressão de Ulisses, com certeza ele também não. Estava certo de que estar em um lugar destes, não era algo bom, mas a curiosidade falava mais alto. Sempre lembrava das histórias que seus tios contavam, sobre como eram lugares alegres e aconchegantes, onde um homem ia para fugir dos problemas e da monotonia da vida conjugal. As descrições dos ambientes, o faziam criar imagens em sua mente, as quais, agora, ganhavam fortes tons de nitidez, a cada canto que mirava. O palco, onde as mulheres dançavam e mostravam partes de seus corpos para atrair os homens, que as olhavam, enquanto bebiam e jogavam. A cada instante, suas mesas eram servidas com mais bebidas, vindas do acervo nos fundos. Enormes prateleiras atrás de um balcão. Bem ao lado, uma escada para o segundo piso, onde deviam ficar os quartos. O piano estava do outro lado, perto da entrada. Uma delas o tocava, no entanto era impossível ver seu rosto. Apenas seus cabelos marrons, que caíam em longas tranças sobre suas costas. Tudo, exatamente, como havia imaginado.

- Aqui estão as bebidas! - Madame Carmen falou, chamando a atenção para si.

Ela serviu três copos de uísque e puxou uma cadeira, sentando-se junto a eles.

- Devo dizer que estou realmente perplexa. Nunca pensei que veria o filho de Frederico em minha casa.

Ulisses pigarreou.

- Perdoe-me, não quero ofendê-la, mas nunca tive a intenção de pôr meus pés neste lugar.

Ela sorriu de forma sincera, fazendo aparecerem todas as marcas que o tempo havia deixado em seu rosto.

- Não me ofende de forma alguma. Posso ver em seus olhos que é um jovem para casar-se e ser fiel a apenas uma mulher, mas se não foi a vontade que o trouxe até aqui, o que foi então?

A Emissária da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora