Let Me Sleep • Jøshler

1. Can't Help Falling In Love With You (Tyler)

Duas batidas no vidro da janela do meu quarto eram suficientes para me fazer sorrir. Sem pensar duas vezes, saí correndo o mais silenciosamente possível até a janela. Já era madrugada e ventava lá fora, as folhas planavam como pássaros e o ar era gélido, mas de alguma forma leve e reconfortante. Quando a persiana está aberta, dá para ver o quintal, sempre está quieto lá fora. Exceto quando ele aparecia. Josh era meu único amigo desde o jardim de infância. Não é surpresa alguma que depois de quinze anos juntos eu nutria uma afeição por Josh. Especialmente a partir dos meus quatorze anos, quando percebi que tais sentimentos sequer existem.

–Por um momento achei que você não viria hoje. – Falo abrindo a janela e deixando que Josh entre.

–Desculpe, eu estava esperando minha mãe ir dormir. Ela demorou dessa vez. – Joshua diz pulando a janela e rapidamente fechando a mesma atrás de si.

Toda noite, Josh dormia no meu quarto. Ele tinha insônia, eu tinha medo do escuro, então era um bom acordo, assim nenhum de nós ficaria sozinho. Essa era, sem dúvidas, a minha parte preferida do dia. Toda aquela proximidade e o eventual contato entre nossos corpos fazia com que eu sentisse calor. Penso naquilo o mais inocentemente possível, o que não é muito possível quando você divide uma cama com o seu melhor amigo por quem você tem um abism- digo, uma quedinha.

Fui até a porta e a tranquei devidamente. Não acontecia nada entre mim e Josh, mas se eu dormisse demais e um dos meus pais viesse me acordar, eles teriam um ataque cardíaco ao me ver dormindo com o meu melhor amigo. Minha sexualidade não era muito bem vista nessa casa, então eu tento ao máximo fingir ser heterossexual.

Josh já havia se aninhado do lado esquerdo da cama, como sempre puxando o cobertor para si, ao que termino de fechar a porta. Ele era um tanto egoísta quando se trata de cobertores. Caminhei até o lado direito da cama e me deitei lá, a uma distância segura e respeitosa de Josh, puxando a coberta para mim, afinal, eu mero mortal, também sinto frio.

–Está frio lá fora? –Sou o primeiro a dizer alguma coisa. Me viro para olhar para a silhueta do rosto de Josh, quase invisível em meio ao escuro, ligeiramente iluminado pela quase inútil luz da lua.

–Até que não, só muito vento, mas não chega a estar frio do tipo congelando. – Ele diz e se mexe na cama, ficando mais próximo de mim.

–Ah, entendo... –Murmuro sem saber o que dizer. Hoje provavelmente seria um daqueles dias onde não falaríamos nada de importante e só ficaríamos ali, olhando para o teto. Não gosto desses dias, são entediantes.

–Hey, Ty. –Ouço a voz sussurrada de Josh ecoar. Tínhamos de falar baixo, já que o quarto de Zack ficava ao lado do meu.

–Sim?

–Você já gostou de um cara? – A hesitação era quase sólida em sua voz.

A pergunta me pegou de surpresa. Do que ele estava falando? De mim? Não, não poderia ser, eu era só o amigo de infância dele. Não havia nada mágico entre nós, não que eu gostasse disso, mas não havia. Talvez ele estivesse gostando de outra pessoa. Mas quem? Bem, isso não importava muito. É incrível como uma simples pergunta conveniente dessas consegue acender um coração. No momento, me senti esperançoso. Talvez, finalmente, Josh fosse dizer algo, fazer algo, me dar algum sinal. Eu tinha minhas suspeitas, mas ele nunca fez nada que me comprovasse. Hoje, em uma madrugada de 23 de setembro, talvez seja o dia.

–Talvez, por que a pergunta? –Uma resposta simples, rapidamente formulada pelo meu cérebro, mas que me deixou em uma posição neutra (Ou o mais próximo de neutro que eu poderia
poderia chegar). Parabéns para mim.