4. The Ice Is Getting Thinner (Tyler)

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Há duas semanas, Josh não aparece.
Nem uma batida na janela, ligação, mensagem, nada.
Eu não culpo a ele. Talvez ele estivesse certo, ele estava tendo cuidado, ele não queria piorar as coisas.
Entenda, meus pais são 100% homofóbicos. Ambos.
Eles, por diversas vezes, tentaram me aproximar de filhas de seus amigos, só para evitar que eu olhasse para garotos.
Mas eles estavam tão errados.
Ah sim, estavam. Eu nunca precisei olhar para ninguém, eu tinha Josh.
E aquele dia foi a gota d'água.
A cada passo que eu dava, eu sentia o ar ficar mais pesado. Era como se eu estivesse caminhando até a ponta de um precipício.

"O que ele está fazendo aqui?!"
"Eu já disse que Josh não pode entrar nessa casa! Ele é uma má influência pra você, Tyler."
"Desde quando você anda fazendo isso?!"
"Você não pode mais ver Josh. Nunca. Não é por um tempo, meses, sei lá. Não. Você está terminantemente proibido de ver Josh Dun."
"Eu não quero um filho gay. Você seria uma desgraça pra essa família"

"Você JÁ É uma desgraça pra essa família."
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Hoje é uma segunda-feira de manhã.
Ótimo, escola. Ou como eu prefiro chamar, inferno.
Levantar de manhã era cada dia mais difícil. Tudo doía, principalmente minha cabeça.
Acho que estive pensando demais.
Depois de uma simples troca de roupas, peguei minha mochila e desci as escadas.

–Bom dia, Tyler. – Minha mãe me cumprimentou, sendo a pessoa amorosa que ela tentava ser. –Você está quase atrasado, de novo.

–Eu sei. –Respondi abrindo a porta da sala e respirando fundo. O sol daquela manhã bonita queimava meus olhos.

–Não vai comer? –Ela perguntou, fazendo algumas torradas. – Você precisa comer algo.

–Não quero. –Fechei a porta atrás de mim. Eu sabia que eu precisava, mas eu não sentia fome alguma.

Andei até a escola, passando pela casa de Josh. Normalmente, aquilo me faria sorrir, mas nas ultimas semanas, eu tentava ao máximo conter as lágrimas.
Ao mesmo tempo que eu queria abraçá-lo, beijar seus lábios e dormir com ele mais uma vez, fingindo que nada aconteceu, eu queria esquecê-lo pois eu não queria perder minha família de uma vez por todas.
Dilema.

Cheguei na escola e corri para a sala de aula. Sentei na mesma cadeira em que sempre sentava: a do fundo, perto da janela. Ainda me sobrava algum tempo antes da tediosa aula de geografia que estava por vir, então aproveitei para rabiscar algumas coisas nas últimas folhas do meu caderno. Por algum tempo, não me dei conta do que estava fazendo ou do que estava acontecendo ao meu redor.
Terminei e contemplei minha obra: Josh.
Merda. Eu realmente tinha desenhado Josh? Como isso tinha acontecido?
Fechei o caderno com força. Eu não queria olhar para aquilo por nem mais um segundo.
A porta se abriu e o Prof. Gilbert entrou. Ele deixou suas coisas sobre a mesa e iniciou a aula, falando sobre algo relacionado à Revolução Francesa.
Passaram-se uns 15 minutos e a porta se abriu novamente. Uma garota e a coordenadora adentraram a sala.

–Bom dia turma. Temos uma nova aluna hoje. – A coordenadora anunciou. –Essa é Jenna Black e ela vai estudar na turma de vocês. Acolham ela e sejam amigáveis. – Ela falou com um sorriso no rosto – Tentem não assustar a garota. –Acrescentou com uma expressão séria.

Jenna se sentaria do meu lado. Ótimo. Uma pessoa nova para me encher a paciência era tudo que eu precisava.
Em poucos minutos, a turma toda estava em volta da pobre garota, bombardeando-a com perguntas, enquanto Prof. Gilbert tentava, em vão, fazer com que todos voltassem a seus lugares.
Após alguns minutos de falatório, todos se cansaram e obedeceram as ordens do professor (que por sinal estava amaldiçoando a coordenadora por ter apresentado Jenna no seu horário).

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Pleck.

Ouvi algo cair no chão. Uma caneta para ser mais específico. Me abaixei para recolher o objeto e bati minha cabeça. Não em alguma coisa, mas sim em alguém. Jenna.

–Ai me desculpa, eu sou tão atrapalhada – Ela levantou os olhos para mim, se desculpando.

–Não tem problema – Sorri forçosamente e lhe devolvi a caneta.

Voltei meu olhar para a página em que tinha desenhado Josh. Eu não queria observar por muito tempo, mas era exatamente isso que eu estava fazendo.

–Qual é seu nome? – Jenna perguntou. Não esperava que fizesse isso, afinal, eu  só tinha pego a caneta dela. 

–Hm, Tyler Joseph. –Voltei meu olhar para ela. –Jenna, certo?

–Sim. – Ela sorriu. – Você desenha muito bem, Tyler. Quem é o modelo?

–Ninguém importante... –Fecho o caderno. Eu não queria falar sobre Josh.

–Ok... – Ela contemplou o caderno fechado por alguns instantes. –Ahn... Você... Você gosta de Death Cab?

E nesse momento, Jenna passou de uma menina nova que sentava do meu lado à uma ótima pessoa em apenas 5 palavras e um ponto de interrogação.

–Espera, você gosta deles? –Falei um pouco mais animado do que deveria. Ela era a primeira pessoa além de Josh que conhecia eles.

–Eu não gosto deles, eu sou fã número 1 deles! –Ela exclamou sorrindo.

E assim a aula se seguiu. Eu, Jenna e DCFC. E eu estava... Feliz? Sim, feliz. Era como se agora existissem dois Tylers: O melhor amigo de Josh e o novo amigo de Jenna.
E eu precisava de um tempo do melhor amigo de Josh. Um bom tempo.

Let Me Sleep • JøshlerOnde histórias criam vida. Descubra agora