-Escolher um lado? –Igor retruca, colocando a blusa na arara. –Como escolher um de vocês? Por quê Cassandra diria isso?
-Eu não sei. –Dou de ombros, avaliando uma camisa de botões. –Ela é cheia de segredos com ele. É toda misteriosa. Acho que queria me assustar, ou estava jogando verde, vai saber!
-Ou ela quis te dar um aviso. –Ele acrescenta. –Pensa bem: a Cassandra é afilhada da sua mãe, ela não deseja seu mal; e para ela ter falado que não quer escolher um de vocês, significa que se vocês brigarem, ela não vai ficar do lado de ninguém. Ou, se ficar, é provável que fique com Eyvie.
-Ok. Chega de séries para você. Essas suas teorias estão começando a me assustar.
-Pensa bem, Brandon, você é o oponente perfeito. Como um duelo de titãs. O motivo, talvez seja bobo, mas a briga, claro, inevitável. Um dia você vai fazer dezoito anos, e ele vai vir com o inferno atrás de pegar o que ele construiu naquela empresa, durante todos esses anos.
-Eu li o testamento, estou mais preparado. –Digo.
-Eu sei, mas estamos falando do Eyvie. Cada passo errado é um ponto pra ele. E menos um para você. –Igor fala.
-Ok, sem teorias de conspiração, sem teorias de guerras, ou de brigas, ou seja lá o que está fazendo! Ele não vai se livrar de mim. Não dá pra se livrar de uma pessoa! –Tento soar óbvio, mas ao mesmo tempo tento me convencer, mesmo sabendo que pode conter verdade atrás disso que Igor disse.
Escolho um smoking, e pago no caixa. Decido mandar uma mensagem para Cassandra, para que ela não se preocupe, pois estaria em casa amanhã, e que eu e Igor passaríamos a noite estreando os novos jogos. Uma mentira por boa causa não pode ser uma mentira que condena! Claro, não deixa de ser mentira, mas parece tão inofensiva.
-Ok, eu vou levar sua mãe de carro. –O pai de Igor surge na porta. –Vão querer carona?
-Não, pai. Eu e Brandon vamos depois. Não queremos chamar muito a atenção. –Igor explica.
-Ah, é por causa do Eyvie. Entendi. –O pai de Igor entende. –Mas, Brandon, você não vai querer avisar ele? Sei que a relação de vocês não é das melhores, e eu não quero causar mais problemas.
-Está tudo bem, sr. Gomes, eu estou ciente. Não vou causar problemas para o senhor.
-Claro. Sem problema. Só não queria mais problemas para vocês. Bom, rapazes, estou indo. Não demorem, sim?
Assentimos e o pai de Igor sai, fechando a porta. Continuo amarrando a gravata, tentando fazê-la ficar perfeita no pescoço.
-Não aperta muito. –Igor diz, se jogando na cama e pegando o celular. –Seu padrasto vai apertar bem mais quando te ver. Que tal deixar um pouco para ele?
-Acho que prefiro continuar com o pescoço meio enforcado, para ir me acostumando. –Brinco.
-Está dando para trás? –Igor pergunta, esperançoso.
-Já tomei minha decisão. –Digo e termino de dar o nó na gravata, pego o paletó e sigo até a porta. –Eu não vou voltar atrás na minha decisão.
-É apenas uma festa. –Igor fala.
-Não. É a minha chegada àquele mundo. –Abro a porta e desço as escadas, vestindo o paletó e checando os dentes por todos os reflexos que passo.
-Já chega. Vai quebrar todos os espelhos da minha casa, seu filho da mãe sortudo. –Ele me empurra para o carro. –Vai ser todo perfeitinho assim na China!
Gargalho com o comentário. Embora os elogios que me fazem de eu ser "bonito", "atraente", "charmoso", possam agradar meu ego, eu não me acho bonito. Há tantos defeitos, como posso ser charmoso? Ah, a maldita insegurança!
Saímos, depois dos pais de Igor, e ele nos leva de carro até a empresa. Não paro de secar as mãos na calça. Eu até cogitei desistir e pedir para que ele desse volta, mas eu não podia. Não dessa vez. Eu nunca vi pessoas assim. Nunca fui a uma festa com muitas pessoas, já que, segundo Eyve, eu não poderia me expor, não poderia causar fuzuê para acabar com a imagem que minha família construiu por anos. Ele iria cuidar da imagem, e eu não podia, de forma alguma interferir.
Não mais. Agora, quem vai cuidar, vai ser eu!
-Pronto? –Igor pergunta, parando o carro. Estamos em frente ao edifício da Encantus. A sede de Dream Village. Um pouco da minha futura vida, o começo de uma nova.
-Acho que sim. –Respiro fundo. –Vamos rápido.
Ele assente fomos bem rápidos em sair do carro, entregar as chaves para o manobrista e ir até a entrada, sem atrairmos muitos flashs.
-Nomes, por gentileza. –O segurança, carrancudo, pede.
-Eu sou Igor Gomes, filho do sr. Gomes. –Igor fala primeiro.
Meu sangue congela e meus olhos se arregalam. Olho para Igor, desesperado.
-E você? –O segurança aponta para mim.
-E-eu... Eu... –Gaguejo, nervoso. É mais que óbvio que meu nome, nem em sonho estaria nessa lista.
-Esse é o Brandon White Neves. –Igor diz, com a boca cheia. –Não é óbvio.
O segurança parece surpreso e um pouco desconcertado.
-Puxa, eu não sabia que o sr. Neves viria. –O segurança se vira para mim. -Você se parece muito com o seu pai, sabia? Mas infelizmente seu nome não está na lista.
Minha expressão desmorona em milissegundos.
-Fala sério, Monk. É o sr. Neves. Ele vai ser seu patrão em poucas semanas. –Igor o persuade. –Olha, não precisa se preocupar com o emprego. deixa por minha conta. Você não sabe de nada e não viu nada. –Vejo Igor passar uma nota de cem para a mão dele. –Está bem?
-Sim. –Monk concorda. –Podem passar.
Fico surpreso, mas Igor me puxa pelo braço, não me deixando falar nem mesmo um "obrigado" ao segurança.
-O plano é: você evitar ser visto pelo seu padrasto, descolar o número de uma gatinha, porque eu me viro em descolar um para mim, e voltar antes de acabar a festa.
-Espera. Para onde vai? –Retruco.
-Descolar o número de uma gatinha. Eu não vou ser vela, tenha dó, né! –Ele aperta meu ombro. –Vai lá tigrão! Não esquece que o primeiro tópico é "Não ser visto pelo seu padrasto"!
Assinto, enquanto Igor começa a sumir na multidão de pessoas. Todos bem elegantes, em seus melhores ternos. Modelos altas e, extremamente, magras, em vestidos que acho não fazem jus a seus corpos. Algumas estão com os vestidos um pouco largos. Ou elas estão muito magras.
Como conseguem? Será que comem? Ok, eu não sou a melhor pessoa para falar disso, já que eu, de frente, pareço estar de lado, mas eu vivo comendo. Elas mal bebem o champanhe.
Atordoado com toda essa multidão, decido ir até o bar, pedir um whisky. O barman me serve e sento.
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Branco de Neve (Branca De Neve EM2)
ФэнтезиBrandon White Neves nunca viveu, ou chegou perto de viver, um conto de fadas. Seus pais, desde sempre quiseram um menino lindo e forte, e ele nasceu: lindo, de cabelos negros e pele branca igual neve! Mas, ainda pequeno, seu pai faleceu e sua mã...