Capítulo 12: O Inferno e o demônio

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River e eu andamos em direção ao farol. No começo, ambos estávamos meio hesitantes, mas logo apressamos nossos passos. Eu me encontro logo à frente dela, atento à qualquer perigo, que pode ser qualquer coisa.

River... - Chamo.

Ela me encara, esperando que eu continue.

Por que aquelas coisas na floresta te... Você sabe, te assustaram tanto? - Pergunto, meio hesitante.

Ela se mantém calada por alguns segundos. Posso ver que a situação à constrangeu um pouco.

Aqueles eram servos dos bruxos. - Ela diz enfim.

Servos de bruxos? - Estranho.

Sim. Não são muito conhecidos, mas muitos reis subornaram bruxos para que lutassem ao lado deles. Os bruxos invocavam essas... coisas. Que são imortais e perigosas. - Ela fala com um nojo de cada palavra, mas ainda sim, de forma natural.

Tá certo. - É a única coisa que consigo dizer.

Por que tenho a impressão de que tu não entendestes? - Ela fala com um ar desconfiado.

Por que eu não entendi. - Respondo com um sorriso bobo. - O que são servos de bruxos? Melhor que isso, quem são esses bruxos?

Ela para, e me olha como se eu fosse um ser completamente estranho.

Em que mudo tu viveu? - River soa perplexa.

Seja lá do que ela estava falando, eu decido não continuar discutindo sobre aquilo. Pelo menos, não agora. Quando sairmos daqui, eu espero ter todo o tempo do mundo com River para conversarmos sobre o que nós quisermos. 

Continuamos nosso caminho.

De repente, uma sensação estranha preenche meu corpo. Como uma presença próxima aquele farol. Não sei dizer se sinto alguma ameaça em relação à isso, mas sei que existe algo lá.

Pare. - Digo para River, pondo meu braço na frente dela.

Ela estanca no lugar, encarando o horizonte fixamente.

Já vi. - Ela diz.

Olho na mesma direção que ela, e vejo que não encarava o horizonte, mas sim, o Ceifeiro, que andava próximo ao farol, arrastando seu enorme machado no chão. Ele parece como um guarda protegendo uma base policial.

Um demônio guardando a porta para a saída do inferno. Faz sentido. - River diz em um tom sarcástico.

Você acha que estamos no inferno? - Pergunto. - Isso significaria que nós morremos.

É óbvio que não morremos. Se fosse isto, não estaríamos aqui, conversando um com o outro. - Ela fala seriamente. - Eu não acredito em inferno, nem mesmo em demônios ou anjos. Mas se existem coisas como estas, tenho certeza que não é muito diferente disto. - River olha em volta, indicando todo o espaço à nossa volta. - Ou daquilo. - Ela aponta para o Ceifeiro.

Eu nem parei para refletir sobre as palavras de River. Honestamente, já pensei demais sobre esse mundo, e o por que de eu estar aqui. Já cansei de tanto pensar. Só quero sair daqui, e depois, que se dane tudo isso.

Como vamos passar? - River pergunta. - Ele vai nos perceber.

Observo o farol, tentando achar alguma brecha em qualquer lugar. A estrutura não é muito grande, ele poderia facilmente nos ver se tentássemos dar a volta e entrar pelo outro lado. E ainda resta saber se tem uma porta do outro lado, pois de onde eu estou, posso ver uma entrada, e talvez essa seja a única.

Urg... - Sinto uma dor forte em meu peito, e acabo soltando um ruído um pouco alto.

Não faças muito barulho, Angel. - River me repreende, abaixando seu tom de voz.

A dor some, eu me recomponho e me mantenho calado. Logo, sinto-a novamente. Dessa vez, não só no peito, mas também nas costas e em meu braço direito. Contenho todos os grunhidos, tentando resistir a dor. De repente, a dor aumenta. Sinto-a vindo forte como se tivesse levado o impacto de um caminhão caindo em cima de mim. Grito.

Angel...! - River tapa minha boca rapidamente.

Infelizmente, o Ceifeiro me ouviu. Ele olha na nossa direção, e logo ergue seu machado. A criatura se aproxima vagarosamente, como sempre faz.

Dro...ga... - A dor que passa do meu peito e costas para o meu braço é muito forte.

Não consigo me mover direito. O incomodo me impede até de pensar.  River me ajuda a levantar. Ela põe meu braço sobre seus ombros, e me ajuda a andar também.

Não... vamos conseguir desse jeito. - Digo, de forma lamentável.

Temos que conseguir de algum jeito! - Ela grita em resposta.

O Ceifeiro apressa o passo, e logo, ele está correndo em nossa direção. Me solto de River e me preparo para um confronto contra ele. Por alguma razão, o monstro passa direto  por mim e tenta atacar River. Ela move seu machado fatal pelo ar, em uma tentativa de cortá-la ao meio. Porém, River consegue ser mais rápida, e se esquiva se jogando no chão.

Foi tudo tão rápido, e eu não esperava essa atitude dele. Ele nem me nota. Sua atenção está completamente focada em River. O Ceifeiro aperta seu machado com força, e dá um passo para mais perto dela.

Olhe pra mim!! - Grito com ele, e o ataco violentamente, cortando sua perna fora com a minha foice.

O monstro cai desengonçadamente no chão, soltando um grunhido perturbador, que preenche minha mente de uma forma dolorosa. Mas, eu quase consigo identificar palavras nesse ruído.

Puxo River pelo braço e à levanto. Começamos a correr para o Farol. A dor que antes me incomodava agora sumiu de vez.

O que ser isto no teu braço?! - Ela diz assutada.

Olho para o meu braço direito, e vejo um líquido preto escorrendo por ele. Percebo que isso sai da minha própria pele, como se fosse suor.

Depois a gente vê o que é isso!! - Digo em resposta.

Chegamos à porta do farol. Fazemos força para abrí-la. Ela é grande e pesada.

Com o canto do olho, vejo algo se aproximando rapidamente. Percebo ser o machado do Ceifeiro, voando pelo ar na direção de onde River está.

River...! - Grito.

Empurro ela para dentro do farol e à tiro do caminho da arma. Porém, eu acabo sendo atingido. O machado atravessa meu peito e me joga metros pra trás.

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