Capítulo 3: Coelhos assassinos

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Aula de história. Detesto. Por que eu tenho que aprender sobre quem já morreu? Sei que essa pergunta é bem idiota. Mas eu realmente não suporto essa aula. E esse professor é tão chato quanto a matéria. Eles se merecem.

- Angel! - Ele chama.

Com quem ele está falando? não tem nenhum Angel na turma.

- Angel! Acorde! - Percebo que ele está falando comigo.

- Eu não sou Angel! - Retruco. - Eu sou... Quem eu sou?

- Angel! Angel! Angel! Angel!

***

Angel!

Me levanto assustado. Olho para todos os lados e vejo uma garota, com um fundo em preto e branco logo atrás dela. É verdade. Eu não estou mais na rotina de ir pra escola, ver meus amigos e aturar aulas chatas. Agora eu estou no fim do mundo, só tenho uma companheira e, pelo que ela disse, tenho que lutar pela minha vida.

Oi River. - Minha voz soa sonolenta.

Levante-se. Temos que sair. - Ela diz apressada e me puxa pra fora dos panos que usamos como cama.

Qual é a desse "Angel"? - Pergunto.

Foi onde eu te achei. Angel's Land. Vai ser o seu nome. - Ela conclui.

Até que não é um nome ruim. Quem sabe até me traga sorte. Eu ainda tenho esperanças. Ainda tenho esperanças de que tudo isso seja um sonho. Simplesmente não faz sentido eu estar aqui. Eu estava no meu aniversário e do nada eu parei nesse lugar. Não! Não! E não! Eu acredito que logo, logo, eu vou acordar. Mesmo tudo parecendo tão real, não tem como ser. Simplesmente não tem como ser. Não é?

River se equipa com algumas facas e pega seu arco e uma bolsa de flechas. Ela anda em direção ao corredor da pequena caverna.

Para onde vamos? - Pergunto, minha cabeça ainda girando.

Nós vamos caçar. - Sua voz ecoa séria em minha mente. - Pegue alguma arma e me acompanhe e, pelo amor do rei, não faça nenhuma idiotice. - Seu tom soou um tanto ameaçador agora.

Agora percebo que eu não comi nada desde que cheguei aqui. Minha barriga ronca um pouco, mas não me incomoda muito. Acho que o medo está tomando todo o meu corpo para que ele se preocupe com alguma outra coisa. Analiso por alguns segundos as armas. River me apressa, então eu apenas pego um machado e uma faca e acompanho ela. Ao sair da caverna, eu escondo a faca dentro da calça e mantenho o machado na mão.

O que nós vamos caçar? - Faço uns movimentos rápidos com o machado. O som da lâmina afiada cortando o vento ecoa no ar.

Qualquer coisa que seja comestível. - Ela anda em direção ao rio.

E o que tem pra comer por aqui? Peixe? - Observo a água tentando avistar algum nadando.

O ultimo peixo que encontrei tentou me comer. Mas não se preocupe, não foi nesse rio. - Ela entra no rio e vai andando em direção a outra margem.

Hesito um pouco em segui-la, mas vejo que não é muito fundo. Quando entro, a água bate em meu peito. Nós atravessamos sem problemas.

Continuamos andando até chegarmos em um campo aberto. Avisto algumas árvores desfolhadas ao longe. A falta de coloração deu um ar sombrio a todos os locais pelos quais passei. Não seria diferente aqui. Percebo algo pequeno se movendo entre a grama acinzentada. Uma figura escura, parecida com um coelho, saltita pelo espaço aberto. Mais delas aparecem, pulando e correndo com uma aparente alegria que eu nunca vi antes nesse lugar. Foco meu olhar em apenas uma. Sigo seu movimento com os olhos, até que vejo um objeto pontudo atingi-la e matá-la rapidamente. Viro meu olhar para River e vejo que ela atirou uma flecha na pobre criatura.

Por que você fez isso? - Pergunto, indignado.

Eles são comida. - Ela responde secamente.

River saca um faca da cintura e enfia-a em outro coelho que passou perto dela, Matando-o. Ela levantou-o até a altura de sua boca e lhe deu uma mordida, arrancando um pedaço de sua carme.

Você vai come-lo cru? - Fico mais indignado.

Você tá vendo alguma fogueira por aqui? - Ela soa sarcástica. - Deixe de moleza e engula logo aquele que eu acertei. Acredite, é melhor você comer.

o que ela quis dizer com isso? Seja lá o que for, não tive coragem de enrolar mais. Seu olhar assustador me impede de ir contra as vontades dela. ouvi meu pai dizer uma vez que minha mãe sabia muito bem como controlar ele. Agora eu entendo o que ele quis dizer. Ando até aquela pobre criaturinha estirada no chão. A pego nas mãos e a encaro. Isso realmente é um coelho. Um coelho alienígena demoníaco, mas é um coelho. Encaro a criatura morta. Eu vou mesmo come-la? Encosto meus dentes nela. Não sinto gosto  de nada. Talvez não seja tão ruim assim. Mordo com força ate arrancar um pedaço da carne. Sinto um líquido com um gosto extremamente amargo escorrer em minha boca. Cuspo tudo fora. Tusso, tusso e tusso.

Vai mesmo morrer de fome? - Ela pergunta com um tom sarcástico.

Como você consegue comer isso? - Questiono em meio as tosses.

Com algum tempo você se acostuma. - River parece ter notado alguma coisa. Pois ela se virou rapidamente em alerta e sacou uma faca.

Me aproximo dela e tento encontrar o que a alertou. A única coisa que vejo são coelhos. Mais coelhos. Eles nos encaram com olhares estranhos. As criaturinhas escuras começam a se aproximar lentamente. River da um passo para trás.

Corra. - Ela diz baixo, e dispara velozmente na direção contrária. 

Não entendo o por que disso. são apenas coelhos. O que eles podem fazer? De repente, sinto uma enorme dor na perna. Quando olho, vejo que um  dos coelhos me mordeu. Tento tirá-lo sacudindo a perna rapidamente, mas ele cravou seus dentes nela. Ele morde com mais força e arranca um pedaço da minha carne. Caio no chão, agonizando de dor. Olho para o ferimento. Que horror. Posso ver minha carne por dentro da pele. Os pedaços mal arrancados pendurados. Sinto-me enjoado. Uma tontura me vem e me deixa sem condições de me levantar. Os coelhos avançam em minha direção. Acho que agora eu vou acordar.

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