Capítulo 5 "Meu Herói"

503 47 6
                                    

Eu esperei até a hora correta para voltar pra casa, não me importava se escola ligasse, eu inventaria uma desculpa qualquer no dia seguinte, e tudo ficaria bem, mas nesse momento eu não tinha forças nem para tomar uma lufada de ar. Agradeci silenciosamente quando estacionei meu carro, e não vi o do meu pai. Ele notaria assim que me visse que havia algo errado. Eu entrei em casa e dei cara com Ashley, parecia um pouco pálida , com sua pele levemente ressecada, e pela primeira vez, não usando roupas finas dentro de casa, ou até mesmo maquiagem, eu pisquei surpresa.

- Oh, olá querida. Chegou cedo. - Eu assenti, seus olhos me avaliaram por tempo o bastante para saber que tudo não estava bem.

- O que houve com sua blusa? - Eu forcei um sorriso amistoso.

- Um pequeno acidente na cantina. - Ele arqueou as sobrancelhas, pronta para fazer mais perguntas.

- Foi um dia complicado, estou morta. - Ela assentiu, me seguindo com o olhar inquisidor enquanto eu andava rumo ás escadas.

- Aliás, belo vestido. - Menti, era horrendo, um pouco folgado na cintura com um xadrez laranjado, ela sorriu, descendo as mãos por ele.

- Acha mesmo? - Eu assenti sorrindo, me esforçando para dar um sorriso genuíno, enquanto inflava seu ego. Ela piscou.

- Obrigada. - Eu subi as escadas sem me dar ao trabalho de mimá-la um pouco mais. Aquele deveria ser o bastante para ela esquecer a história da blusa, ou minha aparência catastrófica quando cruzei aquela porta. Ou talvez não, foi o que pensei quando cruzei a porta do meu banheiro, pálida, magra, com olheiras de choro recente, até meu cabelo parecia mais opaco, e o pacote completo era como um cadáver ambulante.

Eu passei um bom tempo sob a água quente, vestindo um pijama confortável e secando os cachos em seguida, sem me importar muito com a juba que se formara, pegando o álbum das últimas fotos que eu havia revelado, enquanto deixava o sentimento de nostalgia me envolver como uma manta quente e aconchegante.

Dois toc's na porta me fizeram despertar do sono fugaz que me alcançara apenas alguns minutos antes, eu rapidamente enfiei o álbum sob meu travesseiro, era patético uma garota da minha idade estar de pijama ás 20h de uma noite de sexta revendo um álbum de fotos estúpido.

- Entra. - Minha voz soôu rouca.

- Oi. - A voz morna cumprimentou, eu o encarei surpresa, enquanto ele sorria e deslizava para dentro do meu quarto, fechando a porta atrás de si.

- Meu pai deixou você subir? - Alex assentiu, parecia tão surpreso quanto eu, e eu torci que o motivo não fosse Ashley e sua boca grande fazendo fofoca sobre meu estado de espírito. Ele sentou-se ao meu lado da cama, enquanto eu puxei o travesseiro e o coloquei sobre as pernas descobertas.

- O que aconteceu? Eu te procurei por toda a parte. Eu, fiquei preocupado, você sumiu. - Eu mordi o lábio, Alex teria sabido, e eu teria lhe contado, ou talvez nem precisasse, ele descobriria, éramos tão próximos, isso claro, á muito tempo.

- Eu não estava me sentindo bem, mesmo antes de ir com você, eu... Estava um pouco enjoada, é só isso. - Ele sorriu, mas não pareceu convencido.

- É a melhor desculpa que você tem? - Eu bocejei.

- No momento foi a melhor que pude arranjar. - Ele sorriu, e assentiu, deslizando as pernas para cima da cama e despencando a cabeça nos travesseiros como se estivesse em sua própria casa, eu o invejei por isso, por se sentir mais em casa do que eu, mesmo que aquele fosse meu lar.

- Você está bem? - Aquele tom era íntimo demais, íntimo demais pro estranho que Alex havia se tornado, mas isso não impediu do bolo se formar na minha garganta patética.

DESAPAIXONADAOnde histórias criam vida. Descubra agora