Capítulo 9 "Salvar alguém?"

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O dia amanhecera frio e invernal, lá fora, poucos raios de Sol se atreviam á atravessar as nuvens espessas, e embora fosse uma manhã gloriosa para aproveitar cada minuto sob as cobertas, eu não consegui permanecer sob eles depois das 5h da madrugada.

Meus ombros doíam, minha cabeça latejava, nem mesmo o remédio para dormir havia colaborado para um sono tranquilo naquela noite, longe disso, eu empurrei as cobertas sentindo meu estômago embrulhar.

As lembranças do pesadelo de mais cedo me sugavam como um redemoinho, pipocando em minha mente em cores pálidas. Apertei os lençóis sob meus dedos, me trazendo de volta a única realidade que importava, esta, por pior que fosse.

Eu não tomava mais café com meu pai, na verdade eu mal o via, saía cedo e chegava mais tarde do que no dia anterior, Ashley dizia que ele estava compensando a falta de seu sócio que ainda estava de Lua de mel, mas eu jamais conheci uma pessoa que tenha passado dois meses em lua de mel.

Dois meses, era o tempo que fazia desde que eu havia chegado, de fato, era possível notar alguma diferença, meu corpo pelo menos, parecia ter se recuperado, eu havia ganhado peso, meu cabelo não estava mais seco e quebradiço, mesmo minhas bochechas possuíam um pouco mais de cor, embora, especialmente naquela manhã eu ainda estivesse com olheiras profundas. Mordi o lábio, eu estava me recuperando, lentamente, dolorosamente, mas estava.

***

- Uma manhã gloriosa! – Alex uivou sentando-se ao meu lado. Eu sorri, enquanto ele jogava seu livro sob a mesa, encarei a capa do livro de história.

- Alex, hoje é aula de artes. – Sussurrei, e ele piscou levemente surpreso.

- Oh, certo, talvez eu tenha acordado atrasado, chegado mais atrasado ainda, e pego o primeiro livro que vi no armário. – Eu ri, enquanto Jô, a professora de artes entrava na sala.

- Continua com problemas com o sono? – Ele arqueou as sobrancelhas.

- Eu nunca tive problemas com dormir. – Maneei a cabeça.

- Você não tem problemas para dormir, apenas para acordar. – Ele sorriu de canto.

- Douché!

- Muito bem, em que pé estamos aqui? – Ambos levantamos a cabeça no mesmo instante quando nossa professora se pôs sob nós. Alex deu um sorriso maroto.

- Desculpe professora, minha linda colega de classe roubou totalmente minha atenção. – A senhorita Jô balançou a cabeça no que pareceu desaprovação, embora segurasse uma risadinha, minhas bochechas coraram ridiculamente. – Você falava?

- Gostaria de saber como vai o projeto de vocês para a exposição. – Eu abri a boca um par de vezes, sem nenhuma resposta boa o bastante, nós não tínhamos voltado á trilha, nem havíamos combinado nada para fazer as fotos de novo, a verdade é que eu não tinha nada. Alex sorriu.

- Na verdade a Emily fez algumas fotos minhas no último jogo. – Ele disse virando-se pra mim e arqueando as sobrancelhas, os imensos olhos azuis da professora viraram-se pra mim, um doce sorriso.

- S-sim, isso mesmo, e... – Eu não tinha revelado nenhuma, mas a câmera estava ali em algum lugar, eu capturei minha bolsa e a fucei, encontrando o objeto em poucos segundos, e colocando nas fotos para a professora dar uma olhada. Eu sabia que aquilo não era o bastante, na verdade, eu apenas havia sentido essa necessidade de capturar aquele momento, e não era minha intenção mostra-las como parte da obra. No entanto, ela era a professora de artes, e eu sabia que sua opinião final pesaria na decisão de quem ganharia a bolsa, esforço e comprometimento eram certamente algo que um professor presava.

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