Yolanda Laurel Cignoli era a representação fiél das mulheres que perpetuavam o clã Cignoli, fria, calculista, aversa á demonstrações públicas de afeto, e disposta á ir contra qualquer coisa que pudesse representar ameaça á imagem da família, a velha senhora era gelada como uma manhã invernal. Mamãe costumava ressaltar o quanto a velha Cignoli se desgradou quando seu filho e único herdeiro decidiu, aos 19 anos, ainda no inicio da faculdade de direito, que se casaria com ela. Uma mestiça, que jamais demonstrara grande ambição e proveniente de uma família que ela julgou inadequada, no mínimo.
Três anos, foi o período ao qual todas as relações foram cortadas, mesmo o financiamento da faculdade de seu filho, visitas, ligações, ajuda. Tudo foi suspenso, a velha senhora apenas virou as costas e saiu, retornando apenas anos depois, no meu nascimento, disposta á uma reconciliação depois de ficar viúva.
Mas mesmo a frieza pálpavel da velha Yolanda não se sobrepôs á fúria repentina que caiu sobre ela naquela tarde de domingo.
Eu deslizei escada acima, rumo ao corredor, enquanto lá em baixo a equipe de limpeza que Ashley havia solicitado lavava pratos e arrumava sua bagunça. Mesmo sem se aproximar da pesada porta de madeira, os gritos poderiam ser escutados, gritos dela, e eu que mal ouvira ela levantar a voz nos últimos 17 anos rapidamente me acostumei ao timbre forte e ímpetuoso proveniente dali. Não consegui me sentir culpada, quando suavemente encostei meu ouvido contra a madeira fria, e ouvi sua voz saltar dali.
- VOCÊ DESONRA A IMAGEM DE SUA FALECIDA ESPOSA, E MESMO A IMAGEM DA SUA FILHA.
- Francamente mamãe, foi só um anúncio público, não foi a tentativa de desonrar seja lá o conceito deturpado que você tem de qualquer uma dessas coisas.
- Você anunciou diante de dezenas de pessoas que finalmente teria sua família, quando você, foi o único responsável por destruir sua esposa, por destruir sua filha. Você me dá desgosto.
- Eu não sei do que a senhora esta falando. Eu trouxe Emily, estou cuidando dela, estou tentando recompensá-la, e tudo o que eu mais quero...
- Você está tentando se recompensar meu filho... Se livrar dessa culpa podre que te corrói. - A voz dela era um sibilar magoado, e mesmo na minha imaginação Leon se encolheu.
- Eu... As coisas com Jade se tornaram complicadas, mas você está errada sobre Emily. Eu só quero o melhor para ela, estou fazendo o certo.
- Não! Você ACHA que está fazendo o certo, quando na verdade está fazendo o melhor para você. Conte a verdade á ela... Sobre Jade, ela tem esse direito!
- Sabe que eu não posso fazer isso. Isso poderia destruí-la, você entende isso mamãe? Eu não vou correr o risco de acabar com a vida da minha filha, não como...
- Como você fez com sua mulher? - Um suspiro alto, pressionei meus dedos agora trêmulos contra a porta.
- É tudo muito complicado mamãe.
Eu me encolhi, mal conseguindo respirar, então havia algo, havia algo e todos sabiam, mesmo minha avó tinha segredos, enquanto eu, era a única que eles deliberadamente decidiram manter no escuro.
- Se é tudo tão complicado, permita-me simplificar querido. Este lar, essa casa, está acabando com minha neta, mesmo um tolo pode ver isso, ela era uma garota linda e cheia de vida, e embora o maior dos tolos pudesse notar que agora ela não passa dessa menina tristonha e magoada, você está cego, cego por aquela garota que insiste em chamar de esposa.
- EU NÃO PERMITIREI QUE FALE ASSIM DA MINHA MULHER!
- E eu não permitirei que fale assim comigo! É muito simples Leon, se Emily quiser ela poderá vir morar comigo, uma única palavra dela hoje, uma única ligação dela nos próximos meses, e eu não exitarei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DESAPAIXONADA
RomanceEmily Cignoli perdeu sua mãe de uma forma dolorosa e trágica, sendo obrigada á ir morar novamente com seu pai e sua madrasta, na cidade que há muito tempo deixou para trás. Emily tinha apenas duas metas: Lidar com a convivência diária com seu pai...