O que deveria ser o estreito espaço que separava a escola do velho galpão, pareceu se estender infinitamente, enquanto eu e Kendra fazíamos o percurso carregando a pesada maleta de equipamentos que eu havia ganhado nos anos anteriores.
- Chega, espera, preciso de um minuto. – Kendra arfou, soltando a bolsa, que levou meus dedos juntos, fazendo meu corpo se inclinar perigosamente em direção ao asfalto.
- Já estamos quase lá. – Ofeguei, puxando-a pelo braço. Ela se soltou.
- Me explica de novo, por quê não pediu pro seu namorado carregar toda essa tralha? Vai por mim, ele faria sem esforço. – Encarei a maleta, e fui até ela, erguendo uma de suas alças e fazendo o possível para carregá-la sozinha.
- "A", não somos namorados. "B" somos mulheres fortes e não precisamos da ajuda dele, e "C" você ao menos se escuta? – Ela soltou o que poderia ser uma risada nasal, e pro meu alívio retomou a alça esquerda.
- Me explica de novo, como você está de castigo mas continua passando a tarde toda naquele galpão com seu "não-namorado"? – Eu revirei os olhos.
- A senhora Carson gentilmente ligou para o Leon e explicou a situação. – E ele não havia comprado a idéia de imediato, passar boa parte da tarde na escola, teoricamente sozinha trabalhando em um projeto para a exposição parecia suspeito sob muitos pontos de vista, principalmente pelo seu. Mas depois que a gentil orientadora se ofereceu para uma reunião com ele, o diretor e a professora de artes, ele percebeu que passar toda uma tarde jogando conversa fora na escola, implicaria a perca de um tempo que ele não estava disposto á perder, especialmente por mim. Uma fina linha de suor começava á tracejar seu rosto pálido, quando finalmente chegamos ao galpão. Ela largou a maleta.
- Se ser sua amiga vai implicar nessas atividades, estou seriamente repensando essa relação. – Eu sorri, e quando Adam surgiu de detrás de um amontoado de cadeiras retorcidas rindo, ela bufou.
- Pode pegar esse seu sorrisinho e enfiar no seu...
- Certo. – Interrompi. – Fico te devendo uma. – Pisquei, enquanto ela se empertigou e tirou um tufo de poeira que aterrissou no seu sobretudo azul escuro.
- Não pense que eu não vou cobrar. – Disse enquanto saía e fechava a porta com um baque.
Antes que pudesse me virar no entanto, braços fortes me cercaram, e um suave beijo aterrissou no canto da minha boca. Sorri.
- Senti sua falta hoje... – Disse quando suas mãos me viraram para si.
- Sinto sua falta sempre. – Soprou, fazendo os pelos da minha nuca se arrepiarem.
- Eu quis dizer...- Disse fechando os olhos, e fazendo o possível para não perder a linha de raciocínio quando sua boca se moveu para o Sul, tracejando o início da minha mandíbula. – Que não te vi o dia todo. Fiquei preocupada. – Ele se afastou um pouco, e deu um sorriso suave.
- Tive alguns problemas pra resolver pela manhã. – Arqueei uma sobrancelha duvidosa. De todas as coisas, a que mais me irritavam em Adam até então, era o quanto ele era evasivo. Já fazia quase uma semana desde que eu havia ganhado o espaço no galpão, passamos alguns dias arrumando uma das salas, tirando entulho, e reorganizando caixas. Passamos bons momentos juntos jogando conversa fora, mas jogar conversa fora não é o mesmo que conversar.
- Certo. – Disse me afastando um pouco, e pegando a maleta pesada. Ele balançou a cabeça e rapidamente me alcançou pegando a outra alça.
- Está livre amanhã? – Sorri, enquanto levávamos o objeto para a salinha de vassouras que havíamos desocupados no dia anterior.
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DESAPAIXONADA
RomansaEmily Cignoli perdeu sua mãe de uma forma dolorosa e trágica, sendo obrigada á ir morar novamente com seu pai e sua madrasta, na cidade que há muito tempo deixou para trás. Emily tinha apenas duas metas: Lidar com a convivência diária com seu pai...