DESAPAIXONADA

Capítulo 21 "Segredos"

Adam me encarou, intacto, parecendo levar seu próprio tempo para assimilar as palavras que havia dito. Inspirei fundo, e puxei sua mão com suavidade, depositando um beijo profundo no interior de seu pulso, como certa vez ele fizera comigo. Seus dedos escorregaram para meu rosto, acariciando minha bochecha, permanecendo ali e eu inspirei sua pele com suavidade.

- Eu não posso, eu não... – Engoli seco, eu não era capaz de retribuir á frase, ao momento, não ainda. Eu era um quebra-cabeça com várias partes faltantes, e fingir que eu era completa, fingir que Adam me tornava completa era covardia da minha parte.

- Não estou pedindo que você diga o mesmo. – Ele sussurrou, me puxando para mais perto. – Estou pedindo que você entenda, que quero estar com você, por que á esta altura estar com você em qualquer ponto é melhor do que não estar, e não importa o que isso implique, eu não quero te perder. – Eu o encarei, sentindo meus olhos marejarem, enquanto engolia a sensação que interditava minha garganta. A vida inteira lidei com pessoas desistindo de mim, primeiro meu pai, em seguida meu melhor amigo, alguns anos depois, minha mãe, que não apenas desistiu dela, como também de nós, mesmo sua família desistira de me acolher e cuidar de mim por mais alguns meses, antes de me mandarem para a casa do homem á quem eu tinha aversão. Mas ali, á minha frente estava ele, que passou por tantas situações dolorosas quanto possíveis, que não desistiu de si mesmo e que agora, estava disposto á lutar por mim, por nós. Eu não sabia por quanto tempo teríamos isso, não sabia se ao menos "isso" era de fato algo tão forte quanto eu desejava que fosse, mas ali, naquele momento, percebi que alguém se importava comigo, alguém que estava disposto á me ajudar, e á me amar, embora eu fosse quebrada e com várias partes faltantes, alguém que lutaria por mim. O amanhã ainda era desconhecido e nebuloso, mas para o hoje, aquilo era mais que o suficiente.

Meu corpo estava cercado por braços, pernas e músculos que não me pertenciam, me debati por alguns segundos antes de lembrar onde eu estava, casa de Adam, e ali, ao meu lado, me prendendo em seus braços com firmeza, Adam. Tateei no escuro, e toquei em algo macio, seus cabelos acariciaram meus dedos e eu fiz uma ou duas carícias ali antes de Adam se mexer murmurando algo ilegível, sorri na penumbra, tateando mais para baixo, sua bochecha e mandíbula me cumprimentaram, a barba por fazer raspou em meus dedos e eu estremeci um pouquinho, antes de encontrar sua boca. Sua respiração quente fez meus dedos ondularem, olhei ao redor, e embora pouco fosse distinguível no escuro, a pouca luz que vazava do corredor pela fresta da porta, denunciava que não estávamos mais na sala. Uma cama de casal se estendia abaixo de nós, e embora o corpo de Adam fosse mais amplo, grande parte do espaço era eu quem ocupava, de fato fazia sentido que estivéssemos em seu quarto, ali seu perfume parecia estar no ar.

Retornei para ele, descendo meus dedos para pouco abaixo do seu pescoço, e percebi com um sorrisinho bobo no rosto, que ele ainda estava sem camisa. Decidi que eu o queria acordado, por isso me icei em sua direção, ficando sobre os joelhos enquanto minha boca descia em direção á sua, eu o beijei e sua respiração alterou-se levemente, antes da minha boca continuar descendo, raspei meus dentes em seu queixo, e ele pode ter ou não falado alguma coisa, não ouvi com clareza, havia um zumbido constante em meus ouvidos. Foi só quando minha boca chegou á seu pescoço que suas mãos despertaram, agarrando minha cintura com força, eu sorri comedida, meu coração batucando bem acima do seu, meus joelhos se dobraram, cada um de um lado de seu corpo e eu joguei meu tronco sobre o dele, dando beijinhos em seu pescoço, descendo minhas mãos por aquele peitoral largo, e dando beijos suaves em seu rosto. Se eu tinha qualquer dúvida sobre ele estar ou não acordado, ela caiu por terra rapidamente, por que em poucos segundos seu corpo ergueu-se e num movimento preciso me girou, deitando-se em cima de mim.