Capítulo 5

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O sol passava pelas cortinas e já iluminava todo o quarto quando Alice acordou, provavelmente por causa da claridade. Já passavam das dez horas da manhã. Olhou pelo quarto enquanto tentava despertar completamente. Aquela tinha sido uma noite intensa, para dizer o menos. O chão do quarto estava cheio de roupas e de penas jogadas em um canto, consequência do novo número que ela estava bolando. Era importante se reinventar sempre. Ainda não sabia se iria preferir penas brancas ou pretas, mas aquilo ia ter que ser decidido outra hora. Se levantou e atravessou o quarto até o guarda-roupa. Puxou a porta pesada e escura do móvel, para escolher o que iria vestir naquele dia. Ainda fazia um pouco de frio, então ela pegou um vestido longo que gostava de usar com um casaco. Escovou os dentes e foi para a cozinha preparar seu café da manhã, estava faminta. Ligou o fogo e colocou bacon e ovos em uma frigideira. O cheiro de bacon saía da panela e inundava toda a casa. Colocou tudo em um prato e se sentou para comer. Quando terminou foi para banheiro e tomou banho. Colocou seu perfume preferido, que tinha um suave aroma de rosas. Se vestiu, e estava pronta para aquele dia. Tinha a sensação de que seria um bom dia, que coisas boas estavam por vir, e colocou um sorriso em seu rosto. Quando sua mente insistiu em trazer Heitor de volta à sua memória ela saiu de casa, como que tentando fugir do que aquilo podia representar. Da possibilidade de que Heitor atrapalhasse aquele dia que, conforme ela sentia, seria tão maravilhoso.

Desceu as escadas do seu prédio correndo. Já eram quase onze horas e tinha que estar no clube às onze e meia, para ensaiar seu número. Além de tudo estava ansiosa para ver Marina e contar-lhe sobre tudo que tinha acontecido na noite anterior depois que eles a tinham deixado em casa. Seria ótimo também contar com as opiniões dela, sempre tão precisas quando Alice precisava de algum suporte. Abriu a porta principal e saiu para a calçada. A rua estava movimentada naquele dia, pessoas indo e vindo. Alguns pareciam estar passeando. Iam devagar, olhando cada prédio, como que tentando sentir a beleza que a cidade escondia. Outros pareciam estar trabalhando. Ela chegava à essa conclusão por causa da marcha frenética com que eles ganhavam as calçadas, seguindo sempre em frente, sem desviar. Os que estavam passeando se dirigiam para o canto, ignorando, muitas vezes, a falta de educação com que os trabalhadores apressados passavam por eles. No meio dos caminhantes apressados surgiu a figura de um entregador. Ele estava trabalhando, mas não seguia o mesmo ritmo dos outros, e nem podia. A encomenda que levava era delicada. Alice sentiu o coração bater um pouco mais rápido quando viu que o homem se aproximava. Estaria ele vindo para a sua casa? Talvez. Era melhor esperar para ver. O que o homem trazia em suas mãos eram rosas, exatamente iguais as que Heitor costumava lhe dar. Sentia um misto de alegria e revolta com aquilo. O presente podia significar que Heitor ainda sentia alguma coisa por ela. O que ela não sabia se teria muito valor, depois das várias vezes que viu ele com Ariane. Além disso, que direito tinha ele de vir colocar dúvidas em seu coração depois de trocá-la sem o menor pudor? O entregador parou na frente da casa dela. Ela ficava mais nervosa a cada segundo. Agora haviam chances reais de que aquelas flores fossem para ela.

-A senhora mora nesse prédio?

-Sim.

-Conhece a senhorita Alice Mendonça? Tenho que entregar isso para ela.

De fato, ela estava certa. Aquelas flores eram mesmo para ela.

-Sou eu. Pode me entregar.

Ela pegou as flores e deu uma moeda para o entregador. Talvez para agradecer pelas boas notícias que ele trazia. No canto do bouquet havia um bilhete. Alice o pegou ansiosa, queria saber o que a pessoa que lhe mandara aquelas flores tinha para lhe dizer.

"Querida Alice, a noite passada foi maravilhosa e não consigo tirar você da minha cabeça. Espero que possamos nos ver hoje a tarde. Parece que Marina me disse que vocês estariam ensaiando hoje no clube, passarei por lá para te ver.

AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora