Capítulo 11

2 0 0
                                    

Elas se dividiram e foram para o seus destinos. Alice abriu a porta do táxi esperando por Ariane. Olhava para ela como se ela não estivesse ali. Como se de alguma forma pudesse ver o horizonte que estava detrás dela. Fingir não ver Ariane era uma forma de conseguir ir até o final com aquilo. Dentro de alguns minutos estariam ela, Heitor e Ariane dentro da mesma sala, conversando sobre aquela história toda de novo. Não seria um momento agradável, sem sobra de dúvidas. Marina já tinha entrado em seu táxi e partido na direção oposta da que as duas iriam tomar. Provavelmente ela iria até a casa de Fernando, seria meio estranho aparecer sozinha na casa de Gabriel assim. As duas entraram no carro e se preparam para partir. Ariane arrumava o vestido cuidadosamente. Parecia avaliar cada centímetro do vestido para que estivesse perfeito, com certeza uma tentativa de tirar a atenção do seu rosto. Podia-se ver a vergonha no jeito como ela desvia o olhar se você olhasse muito tempo para o rosto dela. Se ela sentisse que a estavam encarando ela simplesmente passaria a olhar pro chão, te respondendo sem tirar os olhos daquela direção, até que eventualmente o assunto acabasse. Alice se sentiu mal por ela. Por pior que Ariane tivesse sido com ela nas últimas semanas- na verdade desde quando elas se conheceram, as duas semanas só tinham sido pior do que o normal-, ela não merecia passar por aquilo. Nenhuma mulher merece. Alice decidiu engolir seu ego, e tentar levar um pouco de conforto para uma pessoa que estava precisando muito de um amigo. 

-Ariane, eu sei que nós nunca fomos grandes amigas, na verdade estamos bem longe disso, mas eu quero que você saiba que eu sinto muito pelo que esse homem fez com você. Não é sua culpa, e você não tem motivo nenhum para estar envergonhada.

Ariane olhou para baixo. Falar no assunto trouxe de volta a consciência do estado em que seu rosto se encontrava, e junto com essa consciência vinha a vontade de sumir. O desejo de se enterrar viva num buraco como punição por ter sido tão estúpida de acreditar num homem como aqueles. Alice se sentiu mal, ela viu que aquelas palavras acabaram sendo mais um motivo de sofrimento do que um conforto para aquela menina, que já se encontrava ferida o bastante. Alice então tomou coragem para fazer uma coisa que pensou que nunca faria, e abraçou Ariane. As duas se olharam, no silêncio do carro, onde só se ouvia o barulho do trânsito lá fora elas ouviam "Estou aqui!" sendo pronunciado de dentro do silêncio delas. 

-Por tanto tempo eu tive tanta raiva de você.

-Isso não importa agora.

-Importa sim! Eu sentia que você recebia tanta atenção, tanto amor, por nada. Que você não tinha o menor talento e que era superestimada por ser a novidade. Na verdade, desde que você chegou eu construí uma armadura com relação a você. Não só você, com todos... com todas. Na minha casa, na minha infância, eu estive sempre competindo com as mulheres o tempo todo. No começo eu competia com minha irmãs e com a minha mãe pela atenção do meu pai, depois eu competia com as minhas colegas de classe pela atenção dos meninos. Eu sempre fui assim, é como eu fui ensinada a ser. "A única mulher em que você pode confiar sou eu" minha mãe costumava dizer. "Elas são suas amigas até roubarem o seu homem."

-Oh, Ariane, que coisa horrível para se dizer para uma filha.

-É, horrível, mas eu não a culpo. Ela passou por momentos difíceis durante a sua juventude também. Foi deixada no altar porque o noivo se apaixonou pela madrinha de casamento, que era a melhor amiga dela.Depois disso o meu avô fez com que ela trabalhasse quatorze horas por dias, durante meses, para pagar a festa. Ele dizia que ela era a culpada, que ela não tinha sido esperta o suficiente para segurar o marido, e que era burra por confiar em qualquer uma. Depois ela conheceu meu pai, fugiu com ele e se casou porque não aguentava mais viver naquela casa. Ela nunca escondeu que não amava meu pai, que o casamento deles tinha sido apenas a rota de fuga que ela encontrou. De qualquer forma ela nutria uma forte gratidão por ele. Dizia que se não o tivesse conhecido provavelmente teria morrido vivendo daquele jeito. Acho que é por isso que eu sou assim. Tem muita coisa que eu carrego nos meus ombros, histórias que aconteceram ainda antes de mim. 

AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora