23/11 - quinta-feira

81 5 2
                                    


Viver é esquisito.

Às vezes passam semanas, meses, sem uma novidade. De repente, quando estamos quase acostumando com a vidinha besta... O mundo vira de ponta cabeça, a gente no meio do redemoinho.

Começou hoje cedo, na escola. No recreio fui com as meninas pra trás da quadra, conversar sobre coisas que só interessam a nós. Glorinha agora deu pra vir atrás.

Pati tinha uns cigarros meio amassados que pegou da irmã. Acendemos e fomos passando de mão em mão, balançando para a fumaça não aparecer. O papo era o de sempre: Meninos e beijos. Beijos na boca, lógico.

- Em filme e novela nunca dá pra ver direito.

- Nem é beijo de verdade.

- Ou eles não mostram. Disfarçam.

- Um vira a cabeça de lado.

- Tem uns que é pra valer. Põe a língua, claro que sim!

- Vai dar um beijo ou lamber a língua do cara?

- É assim, gente. Tem beijo na boca simples, e beijo de língua.

- Põe a língua se quiser.

- Mas... as duas ao mesmo tempo?

- É, um fica chupando a boca do outro.

- Que nojo!

- Se for assim, nunca vou querer beijar ninguém.

- Duvido.

- A santa virgem...!

- Sabem o que eu queria? Perder a virgindade num acidente de bicicleta. Assim não ia mais ter de me preocupar com isso.

- Mas como, de bicicleta?

- Impossível!

- Li numa revista.

- Que revista idiota você anda lendo?

Bel fez um "v" com os dedos para baixo:

- Se você cair assim, ó, no cano.

- Aaai!

- Tá bom. Você está maluca.

- Que besteira!

- Dizem que sangra muito!

- Voltando ao assunto, ANTES... precisa beijar.

- Beijar quem? A bicicleta?

- Não tem graça, Cléo!

- Quer saber? Beijar o Alex eu ia achar ótimo. Na boca, de língua, de chupão...

- Pati, o Alex é o máximo mas não te dá a mínima!

- É um bestinha.

- Muito velho pra você. Quase dezoito!

- Dezesseis.

- Taí, velho!

Teca, que até então tinha ficado calada e fumado o cigarro inteiro, resolveu abrir a boca.

- Vocês estão falando tanta bobagem! Só quero ver o vexame no dia que forem beijar alguém.

- Falou a sabidona.

- E o que você sabe? Por acaso já beijou?

- Bom. Beijar um menino, pra valer, ainda não. Mas minha prima está me ensinando.

- Ensinando...?

- Como assim?

- A gente treina.

O SOL NÃO ESPERAOnde histórias criam vida. Descubra agora