5/12, quarta

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Não entendo porque a mãe do Luca faz questão de colocar um cara como ele nesses colégios de padre linha dura. A gravatinha ridícula do uniforme, o tal padre bedel que mede com régua a distância entre o colarinho da camisa e o cabelo dos meninos. Não combina!

– Essa história, é verdade? Das bombas que você fez?

– Meu, como esses caras falam! Até você já sabe? Não tem nada de mais, Maria, te conto. Foi num outro colégio. Você tem ideia do que é ser novo numa classe de quinta série com trinta caras que se conhecem desde o pré? Ainda por cima falando português com um sotaque desgraçado!

– Você quase não tem sotaque.

– Agora! Precisava ver antes. Sabe como eles me chamavam?

– ?

– Albertosi...

– O... goleiro? Da Copa? Quatro a um!

NÃO RI! Nessas horas, ou você mostra para eles quem é ou está perdido.

– E por causa disso você explodiu o colégio?

– Não é bem assim, que exagero! Fiz, fazia um monte de zoeira que não vou nem te contar. Aquela da bomba foi a mais legal. Nem era perigosa. Não tinha pólvora! Permanganato é um pozinho roxo que você compra na farmácia, bobagem. Faz um barulhão, a maior sujeira. Só. Mas bem naquele dia o padre estava de olho na gente. O burrão pegou a bomba, para ver o que era. Chacoalhou e explodiu, lógico. Foi demais! Você já viu um padre roxo, Maria?

– Seu louco!

– Fomos expulsos, os três. Mas nesse outro colégio foi mais fácil. Pelo menos com os carinhas. Já tenho a fama, menos sotaque. Posso até ficar na minha. Se quiser. E agora vou virar um anjo, juro!

– Por quê?

– Por você.

– Por mim você pode ser do jeito que quiser.

– Um santo!

Eu ri.

– São Luca?

Yes, baby!

O SOL NÃO ESPERAOnde histórias criam vida. Descubra agora